|39| hospital

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O branco sempre foi uma cor que se relacionava com a calmaria, paz interior e serenidade. Olhava para tudo ao meu redor e via como todas as coisas eram imensamente brancas. Encontrava-me no sítio onde acontece a morte, o nascimento e onde a incerteza paira no ar, infiltra-se em nós. Tecnicamente, estou num simples hospital. O Harry trouxe-me aqui e foi logo embora: parecia querer evitar-me.

A Alisson estava preocupadíssima; tinha acabado de pegar na minha mão e algumas lágrimas caíam-lhe pelo rosto. A última e primeira vez que a vi chorar foi quando a minha mãe fez aquele escândalo: aquele de onde o Harry me salvou e acabou por me levar para a sua grande casa - a que da qual eu nem sabia da existência. Fechei os olhos com força e tentei concentrar-me somente na imagem da mulher que me salvou sempre de todo o sofrimento. E acabei por lhe sorrir. 

- Estava tão preocupada contigo, Sky! O que raio te aconteceu? - Perguntou exasperada. Parecia querer explodir.

- Alisson, eu já te expliquei. - Disse-lho pela milésima vez.

- Mas isso não é normal. Quero que me expliques bem as coisas. - Retorquiu com um tom sério.

- Estava num baile qualquer com o Harry e quando fui à casa de banho, uma bala entrou lá dentro e partiu o vidr- Interrompeu-me, gritando.

- Disso eu já sei. Quero que me contes o que aconteceu mesmo. Viste a cara do homem? Podemos telefonar para a polícia e. - Desta vez, fui eu que a interrompi.

- Tu estás louca? Eles são pessoas más, Alisson. Podiam prejudicar todas as pessoas que eu amo num piscar de olhos se soubessem que eu fui denunciá-los. - Disse-o seriamente.

Ela averiguou a situação. Parecia tão pensativa que eu adorava ler-lhe os pensamentos. Os pensamentos que estavam vivos na minha mente, que me conseguiam matar em segundos. Não sei o que aconteceu na minha vida até este dia; este dia que mudou tudo de uma maneira tão avassaladora que eu nem estava preparada para a dor que se dissipou pelo meu corpo, consumindo-o em chamas; e mesmo assim, ainda pensava nele de uma forma tenebrosa. Pensava em tudo. Pensava em nada. E a linha ténue que se dividia entre essas duas coisas, era a que mais me torturava.

Tudo me parecia normal. Todos os dias, pensei em como o Harry poderia ser o tal; não tínhamos nada assumido, mas acreditava que gostávamos um do outro, ele à sua maneira e eu à minha. Éramos pessoas diferentes. Sempre tentei que as coisas dessem certo, nunca tive motivos para lhe mentir e pensei que ele pensasse assim, desta forma que é de facto, a mais matura. O meu problema, é, e foi pensar que as pessoas são iguais a nós. Agora, carrego na minha alma todas as mentiras. E dói. Dói mais que toda a dor física.

- Ouviste o que eu disse, Skylar? - Alisson cortou os meus pensamentos e eu disse-lhe que não. - Estava a falar sobre o Harry. Ele está envolvido com essas pessoas?

Virei a cabeça para a janela nesse momento e deparei-me com a vista preta de um prédio que tapava toda a paisagem; e o branco colidia com o preto, enquanto na minha mente, o Harry colidia com a maldade. Lembrei-me do dia em que ele disse especificamente à minha irmã que era uma pessoa má. Ele disse-o, sem ao menos piscar e eu ainda o defendi, incluindo a Alisson. E de repente, apercebi-me que defendemos alguém que estava meramente a pronunciar verdades.

- Não faço a mínima, mas ele mentiu-me Alisson. O homem que me ia matar, conhecia-o melhor que eu e ainda me disse que era um perigo para esta sociedade. Achas normal? - Disse-o.

- E tu já pensaste que o Harry nunca te mentiu, mas sim nunca te contou a verdade? - Disse, evitando nervosamente o assunto anterior.

- E do que me vale isso, Alli? Não me contou nada, eu nunca o conheci. Ele fingiu ser uma pessoa que não era. - Retorqui, à beira de chorar.

- Não sabes disso e tens de falar com ele urgentemente. Ele está lá fora, Sky. - Disse-o rapidamente.

- O quê? - Achei estranho.

- Sim. Está aqui sem dormir e sem comer nada e a única coisa que diz é acerca de ti. Ele precisa de ti e eu sei que tu no fundo, também precisas dele. - Disse-o, com o sorriso cheio de tornura.

- Não. - Disse friamente.

- Oh, isso é a fase da negação. - Disse, levantando-se. - Malditos adolescentes.

- Onde é que vais? - Ignorei tudo o que ela disse.

- Embora. Ele vai entrar. - Piscou-me o olho, e quando estavas prestes a dizer que não queria ele neste quarto, ela desapareceu rapidamente.

E fiquei sozinha; queria tanto chorar sem parar, queria berrar, queria ir-me embora deste sítio que já me estava a sufocar. Quando a porta foi aberta, eu olhei para a mesma. Um Harry - ou seja - um Harry completamente delibitado, entrou pela porta. Parecia estar mais doente que eu. As olheiras que se formavam em baixo dos seus olhos davam-lhe um ar derreado. O seu cabelo estava numa confusão inevitável e foi simplesmente por isso que o meu coração acelerou. Ele podia estar envolvido na minha morte, podia querer fazer-me mal.

- Estás bem? - Perguntou com a voz mais rouca do que o normal e sentou-se na cadeira perto da minha cama. Afastei-me ligeiramente.

- O que queres? - Perguntei-lhe e ele parecia estar à beira de chorar. Parecia. Mas isso não aconteceu.

- Queria explicar-te a situação e pedir-te desculpa. - Disse-mo e eu naquele momento vi lealdade nos seus olhos.

- Explicar, Harry? Tu tens noção do que me aconteceu? - Perguntei-lhe, quando uma lágrima caiu do meu olho direito. O primeiro sinal  de fraqueza.

- Desculpa-me, Sky. - Ele queria tocar-me, tirar a lágrima do meu rosto, mas acabou por recuar rapidamente. - Eu não sou uma pessoa boa, faço coisas más. Muito más.

E reforçou a palavra más. E a minha mente que já se encontrava numa barafunda, piorou horrivelmente. Eu olhava para tudo ao meu redor, menos para a sua face. Quando ele se referiu a coisas más, eu pensei na probabilidade dele me ter enganado este tempo todo ou me ter iludido inevitavelmente. Mas quando ele se referiu a coisas muito más, pensei na probabilidade dele ter matado alguma pessoa ou ter feito algo muito errado na vida. E foi nesse momento em que a minha mente explodiu. Completamente.

- Então conta-me tudo, Harry. Por favor, eu preciso de saber das merdas nas quais estás envolvido! Eu estou a ficar maluca. - Disse-lho e ele suspirou fundo.

- É complicado. Se eu te contar, tu vais odiar-me para sempre. - Disse-o e eu engoli em seco.

- Se não me contares, também te vou odiar para sempre. E a tua melhor alternativa neste momento é contares tudo. Eu preciso de saber.

Então olhou-me nos olhos; e eu vi naqueles olhos um tipo de advertimento, que aquela Skylar ia morrer com as revelações. Aquela Skylar do passado, a Skylar inocente, aquela rapariga que não tinha a melhor vida do mundo, mas ainda sabia o que era sorrir. Essa Skylar ia corromper com o futuro, ser despedaçada pelas suas lâminas afiadas. Ela, se fosse capaz de viajar no tempo, não queria ter-se aproximado do Harry. E não era por ele ser mau, porque ele não era. Era por ele ter segredos obscuros, irreversíveis. Foram esses segredos que me mataram.

Foi ele que me matou com a sua escuridão.

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Halloooooo girls! How are you? I'm goooood, very good. Bem, o que acharam do capítulo? Muito mistério? Ahaha

Muitas coisas vão ser reveladas no próximo capítulo e preparem os vossos corações, please. Vai doer muito.

E THANKS PELAS 51.000 visualizações! Ainda não acredito neste numero, parece ser algo inacreditável!

Xx, Kate.

Duas Metades {HS}Where stories live. Discover now