Alone

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Alea estava ao meu lado, estava bem, como uma menina normal.

Ela pegou minha mão e sorriu pra mim, com aqueles olhos brilhantes me olhando com intensidade.

De repente o sorriso dela sumiu e a cena a minha frente se materializou em segundos.

Alea, presa por correntes, completamente machucada e aparentemente à beira da morte, tossia sangue enquanto dezenas de insetos andavam por seu corpo, e seus ferimentos eram infestados por larvas. Ela estava pele e osso.

Olhava para o escuro da cela cegamente, assustada e tremendo de frio, enquanto seus pés tocavam a água suja no chão.

Ela iria morrer a qualquer momento, sua respiração falhava com gemidos e tosses fortes espirrando sangue, até que ela parou com tudo.

E começou a chorar.

Chorou como qualquer criança, afinal de contas, era isso que ela era. Uma criança que fora brutalmente maltratada, torturada, abusada.

Eu não tive coragem de me aproximar, e Alea ainda segurando minha mão assistia a cena de sua própria morte com o rosto sério.

Alea presa a minha frente, então, parou de chorar. Ficou totalmente quieta por segundos e então eu vi seus dedos em carne viva se mexerem levemente para cima.

De dentro da água, surgiu uma caixa de madeira.

A caixa de Alea.

A mesma que estava em meu bolso.

A caixa flutuou na água, e então se abriu, sozinha, e dentro havia um pequeno frasco de vidro fechado com uma rolha.

O frasco também foi aberto e então Alea deixou sua cabeça pender nas correntes, fazendo seu pescoço machucado sangrar mais, e então, derramar gotas de sangue dentro do frasco.

À medida que aquelas gotas foram caindo, a voz dela soou na minha cabeça, enquanto ela sumia lentamente do meu lado, me deixando apenas com sua imagem definhando à beira da morte.

April... Eu não quero mais sofrer...

Eu não quero mais ficar aqui...

Está escuro, frio...

Eu não consigo parar de sentir dor

E eles continuam vindo, dia após dia, ano após ano, até hoje

As sombras não me deixam ir...

Eu só queria ver minha mãe de novo...

Por favor, me ajuda...

Eu preciso da sua ajuda...

Me liberte...

Me liberte através de você...

Beba meu sangue...

E então eu poderei ir

Então a Alea a minha frente levantou a cabeça, em seu último suspiro, ela não conseguiu dizer mais nada, mas seus olhos disseram tudo.

Ela estava pedindo socorro.

Ela precisava de mim.

E agora eu finalmente poderia ajudá-la.

Eu estava aqui por ela.

Em um piscar de olhos e derramar de mais lágrimas eu me deparei novamente com a cena de antes.

O corpo daquela pequena menina decompondo-se a minha frente.

Dei alguns passos para trás, afastando minha mão de seus cabelos e alcancei a caixa em meu bolso. Estava quente, pulsando.

Quando segurei ela a minha frente, ela se destrancou com um clique baixo e então meus dedos com unhas sujas e quebradas tocaram a tampa entalhada.

A caixa se abriu a um mínimo toque e dentro dela estava o pequeno frasco, com sangue ainda vivo dento dele. Vermelho escarlate.

Peguei o pequeno frasco, largando a caixa no chão com água e ela desapareceu de minha visão.

Respirei fundo enquanto olhava para o frasco.

Alea sofreu tanto.

Ela sofreu tanto.

Tanto.

Eu precisava liberta-la.

Me redimir por tudo que fiz.

Honrar minha palavra a Harry...

Harry.

Meu menino com cabelos cacheados.

Eu sentia tanta falta dele.

Tanta falta do bater de seu coração.

Fechando meus olhos eu tirei a rolha do frasco, sentindo uma força crescer ao meu redor. Era uma força grande, fazendo meus cabelos se agitarem e meus pelos se arrepiarem em segundos.

Era Alea.

Ela sabia o que eu faria.

Abri meus olhos olhando uma última vez para o corpo podre a minha frente e depositei uma das mãos em minha barriga, onde alguém ali dentro se agitava e chutava.

Depois que isso acabasse eu sairia daqui e viveria o resto de minha vida com esse alguém.

Esse alguém que veio de mim e Harry.

Lambi meus lábios secos e olhei para o frasco com sangue.

Era agora ou nunca.

Aproximei o frasco de meus lábios e senti o cheiro metálico do sangue.

-Alea, você estará livre.- eu disse e sorri.- eu cumpri minha promessa.

E então, feliz, pela primeira vez em tanto tempo eu pensei em todos aqueles que perdi. Todos os corações que parei. Todas as promessas que fiz. Pensei em Harry, em nosso filho... Pensei em Alea.

E quis, com todas as ninjas forças, que ela soubesse que não estava mais sozinha.

RUN 2 - Harry Styles horror fanfic-  EM PAUSA Kde žijí příběhy. Začni objevovat