BÔNUS ESPECIAL: DIA DO AMIGO

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O que eu posso fazer? Sou dramático desde o momento em que o médico disse "é um menino" para a minha mãe.

Arrisco a dizer que a minha versão de seis anos conseguia ser ainda mais dramática que a minha versão de dezessete anos.

─ Você não trouxe lanchinho hoje?

─ Minha mãe "esqueceu" de colocar meu bolinho de laranja dentro da lancheira hoje. ─ fiz questão de fazer aspas com as mãos. O que aquilo significava eu não sabia, mas sempre via a minha mãe fazendo aquilo. ─ Ou é um plano dela para me fazer emagrecer de alguma maneira...

Vocês sabem o que a versão de seis anos da Maria Luísa fez? Começou a rir.

Ela deu boas risadas da minha desgraça por algum tempo e quando cansou de rir, abriu a embalagem do bolinho de laranja e o dividiu em dois. Colocou uma das metades em cima da sua toalhinha e a outra, colocou na minha. Não satisfeita, ela ainda fez a mesma coisa com a banana e deixou o suco entre as nossas toalhas, deixando claro que iria o dividir comigo também.

─ Tenho certeza que a sua mãe esqueceu de colocar seu bolinho aí dentro. A minha faz isso às vezes também. ─ ela sorriu, mas quando notou a possível expressão estranha no meu rosto, torceu o nariz e perguntou: ─ O que foi?

─ Você vai dividir o seu lanchinho comigo?

Já dá para perceber que desde pequeno eu sou meio mão de vaca quando o assunto é comida. Então ter alguém que eu não conhecia e nem sabia o nome, dividindo a sua comida comigo foi algo que marcou muito o Pedro de seis anos de idade. Depois disso, eu nunca mais fui mesquinho em questão de comida. Tudo bem, tudo bem: eu tento até hoje não ser tão mesquinho.

─ Vou. ─ ela deu de ombros. ─ Sempre divido o meu lanche com o Augusto.

Eu não conhecia Augusto naquela época também, mas sabia que tinha um Augusto na minha turma que usava umas blusas muito maneiras do Homem-Aranha. Levando em conta que só tinha um Augusto na minha turma e que aquela garota era da minha turma, ela estava falando sobre Augusto, o moleque das blusas do Homem-Aranha naquele momento.

─ Mas você divide com ele porque ele é seu amigo, né? ─ perguntei.

Comecei a comer a minha metade do bolinho de laranja quando a menina começou a comer a metade da banana dela. Até aquele momento, eu não fazia ideia que a menina sentada ao meu lado era a Malu.

─ É, mas você pode ser meu amigo se quiser também. E amigo do Augusto. E do Rafael. E do Felipe. E do Thomas também. Ia ser legal.

Na época a única coisa que passou pela a minha cabeça foi: que Deus abençoe quem criou esse bolinho de laranja. Mas depois que percebi que Malu havia citado o nome de um monte de crianças, fiquei pensando como alguém poderia ter tantos amigos se as aulas tinham começado faziam duas semanas. E foi exatamente isso que perguntei para ela e ela fez questão de explicar e durante toda a nossa hora do lanchinho, nós ficamos falando sobre os amigos dela e de como eles eram legais.

─ E uma vez o Thomas disse bem assim: "Ei, Malu, acho que você é melhor do que o Felipe jogando futebol" ─ ela soltou uma risadinha após terminar de falar. ─ Malu sou eu. Maria Luísa, mas todo mundo me chama de Malu. ─ ela deu de ombros e voltou a falar sobre os amigos. ─ E o Felipe ficou bem chateado, mas hoje ele nem lembra mais disso.

─ E o Felipe é o seu irmão que é um ano mais velho, né?

Malu ─ que agora eu sabia que se chamava Maria Luísa ─ bateu palmas de maneira animada e fez um gesto positivo com a sua cabeça. O meu eu de seis anos achava muito difícil decorar o nome de todos eles e como eles eram. Mas depois de ter Maria Luísa falando sem parar sobre eles, eu já sabia que Augusto era realmente o garoto das blusas do Homem-Aranha e que gostava das plantinhas da nossa sala, que o Rafael era o garoto que sentava que tinha os melhores desenhos da nossa turma e que o Thomas era o garoto que usava óculos e que tinha o quebrado na semana passada enquanto jogava bola aqui na sala. E sabia que o Felipe era o irmão mais velho dela.

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