3: Saia justa

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"Cara, é tão difícil assim achar o seu caminho, afinal? ── Rafael."

História não era minha matéria preferida, não mesmo. Literatura com certeza era, mas agora história... História ferrava com tudo e mais um pouco. Mas o professor era bacana e aquilo tornava a matéria um pouco menos entediante, se fosse alguém como Georgia ─ professora de geografia ─ com certeza a classe toda estaria dormindo naquele momento ao invés de estarem todos focados na aula.

Motivo? Último ano no Basso isso significa uma coisa apenas: somos veteranos. Somos quase adultos.

Henrico nos testou de todas as maneiras possíveis durante o tempo em que nos deu aula e ele tinha boa parcela pelas pessoas que nos tornamos. Ele nos ensinou coisas sobre a vida, não foi apenas o professor medíocre de história que chega à sala e passa algumas páginas do livro e acabou, não, pelo contrário.

Henrico se preocupou com a gente e não foi apenas um professor de sala de aula. Foi um professor para a nossa vida.

Ele se preocupava com a gente e isso era demais.

─ Então, vocês são os veteranos agora. ─ ele estava sentado em sua mesa, olhando para cada um de nós daquela sala. Nos analisando, como sempre fazia. ─ Vamos lá, quero saber de tudo. Quais os planos para depois que esse ano acabar, ou talvez, o que o futuro guarda para vocês... Patrícia, o que me diz?

E assim aquela aula começou. Henrico apontava ou chamava algum aluno e ele começava a falar sobre seus planos para depois que tudo isso acabasse. Aquilo me deixou meio desconfortável e eu sabia o motivo. Futuro. Não fazia ideia do que me aguardava depois do Basso ou o que a vida reservou para mim depois dessa escola.

Ninguém sabia, na verdade.

Só que isso, cara, me assusta de uma maneira bem forte. Odeio não ter controle sobre as coisas e não saber o que me aguarda, e o futuro é justamente assim. Não sabia ainda o que queria depois que tudo isso acabasse. Era uma verdadeira droga.

─ Maria Luísa. ─ levantei meu olhar até ele. ─ Que tal dividir com todos os seus planos?

Abri a boca pelo menos duas vezes para responder aquilo, mas sempre voltava a fechar. O motivo? Como dar uma resposta para algo que eu não fazia ideia?

Os murmúrios pela sala começaram. Ótimo, mais essa para aturar ainda. Todos esperavam uma resposta da minha parte até eu mesma esperava, e quando uma não foi dada, alguma coisa estava errada. As pessoas esperavam uma resposta da minha parte, mas eu não tinha.

E me sentia meio perdida por conta daquilo.

─ Não pensei direito nisso ainda.

Balancei a cabeça em sinal de negação com aquilo. Droga, odiava aquela sensação. O professor de história continuou com seu interrogatório até que três batidas fracas fossem dadas contra a porta. Acho que todos focaram suas atenções para quem estava nela enquanto o professor ia até a mesma e a abria, revelando uma garota carioca um pouco que perdida. Tive que sorrir com aquela cena.

Excuse me, please. ─ Bruna apareceu na porta da sala, usando um sotaque fajuto americano. ─ Opa, pensei que fosse a aula de inglês.

Alguns alunos soltaram risadas baixas por conta daquilo. Bruna sempre fazia alguma gracinha no decorrer do ano, era típico dela sempre estar perdida por esse colégio e ainda mais confundindo as aulas. Ela sempre fazia isso, era algo como seu charme especial ou coisa do tipo.

─ Mas de qualquer jeito, já estou interrompendo mesmo: a diretora que falar com a Malu, professor. ─ ela apontou em minha direção e logo após voltou à atenção ao nosso professor. ─ Apenas vim servir de pombo correio. Beijinhos.

5inco | ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora