40: Respiração cachorrinho

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"Sinceramente? É uma enorme droga estar nessa festa. Eu sei, eu sei, não parece ter sentido estar em uma festa oficial de despedida do seu Ensino Médio e estar odiando tudo, ainda mais quando foi você que organizou tudo, mas é que essa festa... Essa festa torna tudo real. Ela pode ser uma despedida oficial do nosso Ensino Médio, mas também significa que mudanças vão acontecer. E, sinceramente? Eu tenho medo de tudo que está prestes a acontecer agora que nós vamos para a faculdade. ── Júlia."

Nunca fui boa quando o assunto se tratava em decidir coisas.

Nunca mesmo.

Eu não sei ao certo o que acontece comigo quando sou colocada em uma situação que preciso decidir entre coisas, mas é como se meu sistema psicológico tivesse um grande defeito e, uma simples decisão entre literatura e matemática, quase me matava. E, não, essa não é uma daquelas situações em que a dramatização está presente.

Bom, levando em conta que eu quase tinha uma síncope quando precisava decidir qual matéria era a minha preferida no colégio, decidir a profissão da minha vida... Era a decisão mais importante de todas. Foi a decisão mais importante durante um bom tempo. Durante os meus três anos de ensino médio, para ser mais precisa; e eles foram bem longos analisando sob essa perspectiva.

No primeiro ano do colegial eu tinha a certeza que queria Jornalismo ou Publicidade e Propaganda. Mas Jornalismo sempre esteve uma cabeça à frente do outro curso, alguma coisa me chamava mais a atenção em jornalismo. Pensei que a decisão mais decisiva da minha vida ficaria apenas entre esses dois cursos e fiquei feliz com a minha sorte. Ainda possuía mais dois anos até ter que realmente decidir entre as profissões.

Mas então uma das pacientes da minha mãe disse que seria um desperdício eu deixar de lado minha facilidade com números e seguir por essa área. Só foi preciso isso para que eu repensasse meu futuro inteiro.

Jornalismo e Publicidade e Propaganda? Foram ambos riscados da minha lista e banidos para sempre.

No segundo ano do colegial eu tinha a certeza que queria Administração ou Ciências Contábeis. Ambos os cursos me encantavam, então não sabia qual tinha mais potencial para ser o escolhido da vez. Ainda continuava me achando uma sortuda de primeira por ainda ter algum tempo para decidir entre os cursos. Mas é como dizem: nunca cante vitória antes do tempo. E mais um monte de ditados populares que se resumem em:

A sorte é uma filha da mãe.

Acho que nem cheguei até abril daquele ano para decidir que Administração e Ciências Contábeis não serviam e abrir um leque de opções; acreditem, eu realmente abri um leque repleto de cursos.

Gastronomia, Matemática, Letras, História, Engenharia de Alimentos, Pedagogia, Fotografia, Turismo, Medicina Veterinária, Direito.... Os únicos cursos que eu nunca considerei seguir foram Medicina e Psicologia; já bastava uma mãe médica e um padrasto psicólogo, tenho certeza que a família não precisa de mais ninguém que trabalhe em um hospital ou consultório.

O ponto foi que esse leque era tão extenso e repleto de opções que quando percebi o meu último ano no colégio havia chego e, surpresa, eu não fazia ideia do que queria para a vida. Com certeza esse foi o pior ano de todos nesse quesito.

A minha vontade era de enfiar a minha cara no travesseiro e gritar por uns bons dias.

Perdi as contas de quantos testes vocacionais eu fiz e de quantos portas abertas eu participei. Mas nenhum deles serviu como a minha luz no fim daquele túnel. Bem, até que um dia Enfermagem surgiu na minha cabeça e eu pensei: porque não, certo?

5inco | ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora