32: Descobertas

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"Nada é tão simples quanto deveria ser e, algumas vezes, você está preparado para lidar com uma situação, mas nada é tão simples quanto parece à primeira vista. Nada mesmo. ── Malu. "

A primeira coisa que passou pela minha cabeça quando consegui me acalmar é que eu precisava da minha mãe.

Eu precisava muito dela.

Devo ter falado isso para Felipe já que ele, em algum momento, saiu do meu lado e telefonou para Marco. Eu ainda encarava o papel em minhas mãos, tentando assimilar tudo que havia acontecido quando Rafael sentou ao meu lado e, em um gesto simples, passou seu braço ao redor da minha cintura e depositou um leve beijo na minha bochecha.

Mas, infelizmente, nem aquele gesto doce da parte dele fez com que a minha cabeça parasse de trabalhar a mil por hora. Eram tantos os pensamentos que me tomavam que, sinceramente, eu ainda não sabia como algum tipo de fumaça não tinha começado a sair das minhas orelhas.

A segunda coisa que passou pela minha cabeça quando consegui me acalmar é que eu precisava falar com Lia e dar alguma explicação para ela.

Aquele era meu papel como irmã mais velha, afinal de contas. E mesmo que Felipe fosse o mais velho entre nós, sempre fui eu quem lidou com assuntos mais delicados. Logo falar com Lia sobre o que ela presenciou assim que chegou do ballet seria um desses assuntos. Talvez o mais delicado de todos.

Fui negligente com as minhas irmãs durante todos esses anos e nunca parei para pensar o que elas sentiam e pensavam em relação a Guilherme. Na minha cabeça, por elas nunca terem tido algum tipo de contato com ele e por Marco ser tão presente nas nossas vidas, Guilherme era apenas uma pessoa qualquer. Mas eu estava enganada nesse ponto. Ele era importante para Kia e poderia ser importante para Lia. E, caso ele fosse, eu deveria ser totalmente compreensiva e não repreender como havia feito com Kia.

A terceira coisa que passou pela minha cabeça quando consegui me acalmar é que eu deveria me desculpar com Kia por causa da minha explosão.

Ela não merecia aquilo, mas foi justamente o que dei para ela. Não foi certo da parte dela ter escondido tal coisa de todos nós, mas não foi nada certo a minha postura perante aquela situação. Ela confiou em mim e contou sobre o que fazia naquelas tardes e, como reação a esse fato, eu apenas explodi e falei tudo para a minha mãe. Não que eu fosse omitir algo como isso, mas sei que desapontei Kia.

─ Eu falei com o Marco e eles já devem estar fechando as malas nesse momento. ─ Felipe estava agachado na minha frente, com um comprimido em uma das mãos e um copo em outra. ─ Hum, a mãe disse para você tomar esse remédio e Marco pediu para que você lembre de todas as técnicas de respiração que ele ensinou para você quando éramos crianças.

Qualquer gesto meu estava sendo feito no automático e eu sabia que isso não era uma coisa boa. Ser afetada por Guilherme daquela maneira, mesmo depois de anos, não era nada bom. Nunca foi bom, mas descobrir que ele ainda possuía o mesmo efeito em mim era totalmente terrível.

Vai ficar tudo bem, Felipe sussurrou contra o meu ouvido antes de se levantar e voltar para a cozinha, sozinho.

Mas eu sabia que nada iria ficar bem e, no fundo, Felipe também sabia disso.

[...]

Augusto conseguiu manter Lia distraída por mais meia hora.

Foi um bom tempo, sendo sincera. Eu esperava que Lia fosse descer nos primeiros cinco minutos depois que Guilherme foi embora, mas ela continuou lá em cima por mais meia hora. E isso já era um tempo recorde quando o assunto é Lia Alves.

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