BÔNUS: RAFAEL CUNHA

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"É uma enorme droga estar nessa situação e ninguém, absolutamente ninguém, tentar entender o meu lado. Só por meio segundo eu gostaria com toda a minha força que alguém se colocasse na minha situação: a estúpida que foi largada pelo irmão e por um dos melhores amigos. Assim, sem mais nem menos. Ah, devo acrescentar que na época eu era apaixonada por esse melhor amigo? ── Maria Luísa."

Uma das certezas que eu tinha quando voltei para casa era de que as coisas não seriam como antes. Fala sério, nem por meio minuto pude ousar a pensar que as coisas estavam como há três anos atrás.

Mas isso não significava que um desejo esquisito de que tudo estivesse o mesmo não existisse em mim.

Desejo esse que não foi acatado ou realizado. Como eu já sabia.

Certo, sendo sincero: as coisas não mudaram drasticamente durante os três anos que fiquei longe do Rio de Janeiro. Mudança ocorreram sim, mas diferente do que eu pensava, muitas coisas mantiveram-se as mesmas.

Diferente do que eu esperava ─ e queria ─ as coisas que permaneceram as mesmas não me deixaram totalmente feliz.

Não posso negar que chegar em casa e ver que os cômodos continuavam os mesmos, os móveis e que meu quarto continuava sendo meu refúgio, foram coisas que me deixaram alegres; também poder ver com meus próprios olhos - e não através de uma câmera de computador ou celular - que minha mãe continuava feliz com sua vida e dedicada a ela mesma, me fez um bem gigante. Assim como ver a Cacau com alguns quilos a mais, porém fiel, me fez pensar que eu sou um sortudo do caramba.

Essas foram as não mudanças em casa que me deixaram feliz.

Quando encontrei com Thomas e Augusto me esperando no portão de desembarque, eu soube que mais três anos ou dez anos poderiam passar, mas que a amizade continuaria a mesma. O que nós tínhamos é muito forte e vinha de um longo tempo. Então ser recebido de braços abertos em casa pelos meus melhores amigos de infância me causou uma sensação de paz que não consigo colocar em palavras.

A mesma coisa aconteceu quando coloquei meus olhos em Felipe depois de toda aquela distância que nos impedia de conviver como antes. Mesmo que mantivéssemos contato, Felipe não era como Augusto e Thomas que estavam no mesmo país e apenas em uma cidade diferente; Eu podia ir de Porto Alegre até o Rio de Janeiro de ônibus se quisesse, mas eu não podia pegar um ônibus e aparecer do nada no Canadá.

Só que mesmo estando em países diferentes e anos afastados não fizeram nenhuma diferença na nossa amizade.

Me reunir com aqueles três depois de tanto tempo me fazia sentir como se nunca tivesse me mandando do Rio de Janeiro por motivos que praticamente todo mundo julga como covardes, mas ninguém tenta nem por um segundo se enxergar na minha pele. Ver pelos meus olhos ou sentir absolutamente tudo que eu senti. Na época, me pareceu uma ótima pedida fugir de tudo e me enfiar na cidade mais distante que eu tinha parentes. Parando para analisar hoje em dia...

Não foi a ideia mais inteligente que eu já tive na minha vida.

Digo, ok, uma pessoa pode tomar a decisão de se mudar, não é? Ir morar com meu pai no Rio Grande do Sul não era uma decisão tão errada assim parando para analisar toda a situação. Eu só tinha que conversar com as pessoas que amava, arrumar a minha mudança e aí sim ir morar com ele. Mas é claro que não foi que eu fiz. Porque eu surtei. Pirei. Fiquei fora da casinha.

Não pensei nas minhas ações ─ certo, eu pensei, só não pensei da maneira correta. Fiquei tão desesperado com a situação toda que nem com a minha mãe eu conseguia falar. Aquela quarta-feira de três anos atrás foi passada toda dentro do meu quarto, trancado lá dentro e tentando não saber de nada que acontecia do lado de fora. Até que meu pai me ligou e a ideia de ir morar com ele simplesmente surgiu e eu achei que ali estava a solução de todos os meus pseudo problemas.

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