9: Conspiração

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"Eu sei que cada pessoa funciona de uma maneira e que minha irmã gêmea é bem diferente de mim, mas parece que a nossa mãe não entende isso. Forçar Kia a aceitar a volta de Felipe de uma hora para outra simplesmente não é certo. Nada certo. ── Lia."

Foi o pior almoço da minha existência até hoje.

E não foi o pior almoço da minha existência até aquele fatídico momento por conta de Felipe, mas sim pelo campo de guerra que aquela mesa de restaurante virou durante a refeição.

Se de um lado Felipe e Lia estavam em paz, passando uma borracha no passado e recuperando o tempo pedido e eu estava neutra sobre tudo aquilo, apenas comendo e falando quando era introduzidas na conversa dos dois, Kia era quem provocava. Em uma situação mais fácil de explicar: Felipe e Kia eram Mozart e Zeus em festa, eu era o Flash apenas observando tudo e Kia era o Snow.

O gato que sempre caçava uma briga.

Fiquei no meio da pseudo guerra que ela declarou a gêmea e ao irmão mais velho durante o almoço, sem saber o que fazer e muito embasbacada com aquela postura de Kia. Desde quando ela agia daquela maneira e com quem ela havia aprendido aquilo?

Agora por algum milagre divino, estávamos todos reunidos a mesa e tentando manter a aparência de uma família normal. E quando eu digo todos, quero dizer todo mundo mesmo. Minha mãe havia conseguido uma folga para aquela terça-feira noite e decidiu fazer um jantar caprichado na intenção de fortalecer os laços familiares. Digo, essa é a minha suposição. Vai ver ela só ficou com vontade de fazer uma macarronada mesmo.

Enquanto eu tirava as intrusas ervilhas do meio da salada verde, meu irmão comentava sobre o seu futuro na faculdade ao mesmo tempo que Kia fazia questão de alfinetar toda frase.

E lá vamos nós mais uma vez.

─ Eu descobri que viajar realmente é o que gosto. ─ uma expressão de orgulho estava sendo sustentada no rosto da minha mãe enquanto Felipe falava sobre seus planos para o futuro. ─ Turismo vai ser perfeito. Pelo menos, eu acho que sim.

─ Nossa, obrigado por compartilhar isso com a gente, mas como pode perceber, não estamos todos interessados. ─ ela lançou um sorrisinho carregado de ironia para Felipe antes de voltar a focar sua atenção ao seu prato. ─ Mas obrigado mesmo. Pelo menos sabemos alguma coisa que anda planejando.

Kia ficou presa nisso de ficar rebatendo toda e qualquer palavra de Felipe desde a hora que entramos no restaurante no horário de almoço. Ele poderia fazer apenas um comentário inocente, algo tipo, "nossa, realmente está muito calor hoje, né?", que Kia iria achar alguma maneira de rebater a suas palavras. "Então porque você não volta para o seu tão amado Canadá e para de reclamar da temperatura aqui do Rio?"

Conseguia entender que minha irmã mais nova guardava uma mágoa de Felipe, afinal, ela não era a única, mas eu não possuía ideia do quão profunda essa mágoa é; Kia estava em seu último estágio de irritação naquele dia por conta desse sentimento que ela guarda a respeito de Felipe. Alguém precisava deixar as coisas mais calmas por ali antes que algum prato cheio de macarrão voe.

Ou que a nossa mãe acabasse dando um basta naquilo e acabasse todo mundo de castigo.

─ Kia, pega leve. ─ sussurrei. ─ Só come.

Felipe, do outro lado da mesa, remexeu-se de maneira desconfortável enquanto Kia, ao meu lado, apenas bufou e voltou a comer. Cinco minutos de paz cairiam bem naquele momento, mas é claro que paz na casa que Mozart mora é uma palavra que não existe.

A mesa sacudiu no momento em que Mozart passou correndo por debaixo da mesma atrás de sua bola.

Como já estávamos acostumados com aquela cena, todo mundo segurou seus copos para evitar a bagunça que iria acontecer caso eles virassem. Infelizmente Felipe não estava preparado - tampouco acostumado - para o que Mozart poderia causa na hora do jantar e não conseguiu evitar a queda de seu copo repleto de refrigerante.

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