Presa na Mala de Newt Scamander

2. O bosque

Assim que avistei ao longe um frondoso bosque verde dirigi-me para ele, voando o mais rapidamente que consegui da forma mais discreta possível embora soubesse que aquela região era desabitada e por isso mesmo a havia escolhido para viver, mas o fato de haver sido descoberta por Newt Scamander me deixara altamente receosa de haver outras pessoas por perto. Muito raramente eu havia saído de minha profunda caverna nos últimos 500 anos e ainda assim sempre o havia feito somente à noite, o que tornava o fato de estar correndo e voando à luz do sol pelos últimos dias dos últimos quatro meses algo muito estranho para mim, que me havia já desabituado da luz do dia, mas aquele bruxo parece que me havia trazido de volta à luz em todos os sentidos: Me trouxera ao conhecimento me descobrindo e à luz, literalmente, do sol, que eu já praticamente me esquecera de como sequer se parecia. E ele brilhava avermelhado próximo à linha do horizonte no Oeste, já perto de pôr-se e dar lugar à noite. Apressei-me um pouco e flanei com maior velocidade a fim de alcançar logo as árvores escuras e frondosas em meio às quais eu certamente me sentiria muito melhor e mais segura.

Alcancei uns altos álamos que estavam com as folhagens imóveis sob o ar parado sem brisa e muito rapidamente abati-me sobre eles, fazendo-nos sacudirem-se ligeiramente às suas copas com o leve turbilhão que produzi com o agitar de minhas longas asas emplumadas e pousei sobre os maiores deles, fazendo-nos vergarem-se um pouco, e as recolhi junto ao corpo comprido, para que descansassem, e permaneci por algum tempo imóvel, apenas respirando, abrigando-me da luz direta pelas folhagens. Algum tempo depois estiquei de leve a cabeça e observei longamente todo o meu entorno com minha atual visão de calor, observando em meio à paisagem terrosa e esverdeada pequenos pontos vermelho alaranjados que significavam pequenos animais que se moviam pelo bosque. Não havia comido nada há muitas horas e precisava caçar, porque estava faminta. Esse era outro fato que me gerava ainda mais raiva contra o bruxo que me perseguia - ele deixava-me muito pouco tempo de descanso e para caçar, e a maior parte do tempo precisava correr e fugir faminta. Resolvi então aproveitar que ele havia novamente desaparecido para caçar e alimentar-me, porque sabia que logo a caçada recomeçaria e precisava estar pronta, e comecei a deslizar lentamente pelos galhos para o chão, onde via os pontos de calor maiores e mais promissores para um jantar interessante.

Quando retornei para o alto das copas a noite já se havia instalado sobre o mundo, e do pico do mais alto dos álamos atentamente observei todo o entorno, procurando por Scamander, mas não captei seu calor por quilômetros. Há algum tempo atrás eu me alegraria com tal coisa, achando que me livrara dele, mas agora já tinha conhecimento de que ele dispunha de estranhos meios de encontrar-me novamente e era apenas questão de tempo. Talvez se atrasasse no caminho por conta do ferimento que eu lhe causara no braço, mas sabia que era só, e por um breve instante peguei-me pensando nele com quase piedade, mas logo me recriminei por tal pensamento e esticando-me rapidamente, decidi que devia seguir viagem durante a noite para aumentar ainda mais minha vantagem, e assim o fiz, tomando a direção do Noroeste.

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No meio da madrugada alcancei um segundo bosque ainda maior que o primeiro e decidi parar para dormir um pouco entre as copas de uns grandes carvalhos muito verdes e musgosos e desfrutei alí de um lauto descanso, descendo dalí somente para caçar novamente, de manhãzinha, antes de pôr-me a pensar se seguia viagem ou não, e em meio a esses pensamentos assumi um estado contemplativo, onde tentava imaginar meu futuro dalí em diante: Não poderia voltar para minha anterior caverna, por motivos óbvios, e talvez fosse o momento de começar a pensar em achar uma outra morada segura; mas terminei por ponderar que para isso era melhor eu primeiro ter certeza de haver-me livrado de Scamander de uma vez por todas. Se mais alguns dias se passassem sem que eu o visse, começaria a pensar nisso com maior seriedade, mas ainda não era o momento.