7. Dois solitários

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- Mas... Mas isso é absolutamente fantástico! Eu estou começando a crer que sou o bruxo de mais sorte de toda a Inglaterra, porque, veja, eu estava aqui desejando tanto que você pudesse falar comigo e de repente você fala! - mas num rompante toda sua empolgação pareceu desaparecer e soltando um suspiro alto, ele cobriu o rosto com ambas as mãos, virando-se de costas para mim, antes de exclamar - Oh! Não! Meu Deus, você é uma medusa! Não posso olhá-la, ou virarei pedra!

- Não seja estúpido - eu respondi, zangada - Se eu fosse realmente uma medusa, você seria uma estátua de pedra! Não sou medusa coisa alguma; sou um metamorphosusvelticcus no seu dia como medusa, não confunda as coisas.

Lentamente Newt Scamander virou-se novamente de frente para mim e parecendo muito envergonhado, espiou-me por entre os vãos dos dedos por um instante, antes de finalmente descobrir o rosto e gemer, um tanto tímido:

- É verdade - e pensou um instante - Eu sou o bruxo de mais sorte do mundo. Estou olhando para uma medusa e estou vivo para contar o que estou vendo.

- Não sou medusa coisa alguma... - comecei a falar, mas ele cortou-me:

- Ei, ei, calma, calma; por que as medusas são tão bravas? Ei... - olhou-me por um instante, segurando o queixo numa das mãos até falar baixinho - Devem ser certamente essas cobras todas na cabeça que mexem com o ânimo da pessoa.

- Eu escutei isso! - falei, zangada, cruzando os braços.

Ele espiou-me longamente, parecendo subitamente preocupado:

- O que você come?

- Você não pensa em outra coisa? Só em comida?

- E você parece que não pensa em comida nunca, não é? Porque está fazendo dois dias que você não come nada - ele respondeu, erguendo um dedo na direção do meu rosto. Não gostei nada disso, e chiei para ele, mostrando os dentes. Ele pareceu nem sequer haver notado, e continuou - O que você está pretendendo? Morrer? Por que você não come?

- Quer mesmo que eu diga?

- Por favor! É tudo o que eu quero! - disse ele, abrindo os braços.

- Eu não quero continuar prisioneira, não fiz nada para estar aqui presa.

- Mas você não é prisioneira - ele falou tristemente ofendido - Eu te trouxe não para prendê-la, mas para protegê-la. Eu te disse que a magia era necessária somente até que você compreendesse as minhas intenções e ficasse por vontade própria.

- Mas eu não vou querer ficar por vontade própria.

- Então vai precisar continuar presa.

- Então vou continuar sem comer!

- Ah! Mas por que as mulheres são tão complicadas? - ele falou de repente, parecendo desesperado, gesticulando com os braços - Se você fosse um simples macho, acho que tudo seria mais simples! Pare de ser tão orgulhosa e compreenda!

- Compreender o que, que você é meu carcereiro? Isso eu já entendi.

- Não! Eu só quero protegê-la! Da forma como protejo os outros Animais. Aqui ninguém vai te fazer mal; mas se outra pessoa, e não eu, tivesse te encontrado, a essa hora você já estaria morta.

- Então é a minha gratidão o que você quer? Por ter sido caçada e presa? - falei eu, de modo sarcástico.

- Um pouco de gratidão seria realmente bom - ele falou, subitamente triste, encurvando de leve as costas.

Presa na Mala de Newt ScamanderOnde as histórias ganham vida. Descobre agora