- Quando era pequeno costumava ficar todas as noites a observar as estrelas e a contá-las para ver se não faltava nenhuma na noite seguinte. - Disse, a sorrir. - Houve um dia em que estava a observar todo aquele céu e ouvi gritos vindos da parte exterior da casa. Não liguei muito a isso. Esse foi o meu primeiro erro.

Estremeci com a última palavra que ele disse: parecia tão carregada de ódio.

- Passado cinco minutos, fui ver o que se tinha passado, mas quando passei pela piscina, tive a pior visão do mundo. - Os seus olhos estavam insensíveis. - Havia sangue por toda a piscina. E o corpo da minha mãe estava a flutuar.

Já tinha começado a chorar: não podia ser possível sentir a mesma dor que ele sentira naquela altura. Parecia que tivera vivido o mesmo que ele, presenciado tudo aquilo. Mas afinal, as nossas mães morreram por razões diferentes, mas por factos semelhantes. Porque afinal, a minha mãe pode estar viva fisicamente, mas não viva como uma verdadeira mãe, porque nunca está presente.

Mas sentia aquilo na pele. Uma pequena criança de cabelos encaracolados e olhos verdejantes a ver a própria mãe morta numa piscina com sangue por todo o lado. Uma pequena criança que decerto amava a mãe mais que tudo. Simplesmente uma pequena criança frágil e vulnerável.

- Tentei salvá-la, saltei para dentro de água, mesmo que na altura não soubesse nadar. - Disse e parecia que estava quase a chorar. Mas nem uma lágrima caiu. - Os meus pesadelos começaram desde essa altura. Alguém a matou e fugiu.

Quanto estava prestes a responder a tudo isto, ele continuou.

- O mais estranho é que ela sabia que ia morrer. Deixou-me uma carta. A porra de uma carta! - Disse a berrar, mas via-se tristeza na sua voz.

Não soube o que fazer nesse preciso momento. Naquele exato momento, entre o aqui e o agora. Simplesmente saltei para cima dele e abracei-o como se nunca mais o quisesse soltar - e no fundo eu não queria. A sua infância foi tão difícil. Uma pequena criança deixada sozinha no mundo, neste imenso mundo, sem a parte materna para cuidar dela, para a aconselhar da melhor forma. Chorei ainda mais.

- Foi por isso que sempre evitei que pessoas entrassem na minha vida. Porque sabia que a qualquer momento elas iriam deixar-me sozinho. Novamente sozinho. - Disse com decepção na sua voz.

- Quero que saibas aqui e agora que eu nunca seria capaz de te fazer isso. - Disse sinceramente. - Sei que a tua infância foi difícil, mas tu foste tão forte Harry. Lembra-te sempre disso.

Ele olhou-me nos olhos. Um ligeiro sorriso cresceu no seu semblante. Tão ligeiro que, por poucos - muito poucos - momentos vi alívio naquele gesto. E sorri-lhe de volta. Com um ligeiro sorriso, tão ligeiro que era quase incapaz de se ver.

- Podemos mudar de assunto? Não quero falar mais sobre coisas assim. Já foi muito para hoje. - Disse-me e eu assenti.

Ficámos em silêncio. Éramos almas magoadas pelo passado - e de certa forma - pelo presente incerto. Não podíamos evitar nada disto nem a mágoa que ficou armazenada nos nossos corações. Mas neste momento podíamos ou tínhamos o poder de nos curarmos um ao outro.

- Do que queres falar? - Perguntei e ele sorriu.

Mas ficou sério logo em seguida e
agarrou as minhas mãos, olhando-me nos olhos. Engoli em seco, pois estranhei tudo aquilo. A sua face séria, as janelas verdejantes a observarem-me com precaução, como se eu fosse uma criança de sete anos. Quando ele abriu a boca, o meu primeiro instinto foi querer correr daqui.

- Diz-me Skylar... - Parou por um minuto. - Tu gostas de mim?

Se eu tivesse neste precioso momento direito a um desejo, a primeira coisa que pedia era que esta pergunta nunca tivesse saído da sua boca. E eu queria fugir. Porque afinal de tudo, eu gostava dele. E afinal de tudo, eu não lhe queria mentir sobre aqueles sentimentos. Mas eu tinha de o fazer.

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Depois deste capítulo até eu estou a chorarrrrrrrrrr rios ahahah.

Because Harry is so sad... ok, bora voltar ao português. O Harry, é uma pessoa muitooo triste por dentro. Já estava na hora de vocês saberem disto. Para ser sincera, óbvio.

E vocês vão saber também da carta, do que lá está escrito. Vou fazer um capítulo a mostrar isso, talvez seja no próximo..

E OMG SERÁ QUE A SKY VAI ADMITIR O QUE SENTE?! se vocês estivessem no lugar dela, diriam a verdade ou mentiriam? Para ser sincera, obviamente que eu mentia.

E OBRIGADA POR TODAS AS VISUALIZAÇÕES!!!

Beijinhos grandes, Kate.

Duas Metades {HS}Where stories live. Discover now