CAPITULO 39- w h e r e d i d y o u g o

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"Diário de Quando Te Deixei
Dia 08. Para Ian Castelli.
Há um bebê dentro de mim.
Há. Um. Bebê. Seu. Dentro. De. Mim.
Eu fui ao médico ontem, sozinha. A médica me disse que daqui a alguns dias já poderei saber o sexo do bebê. Foi incrível o jeito que ela falou como se eu estivesse animada.
Ian, eu estou apavorada, não animada. Eu poderia dizer que sempre quis você ao meu lado nos momentos de ultrassom e tudo mais...
Mas não. Eu nunca quis ter esses momentos."
"Diário de Quando Te Deixei.
Dia 15. Para Ian e Eloá.
É uma menina, Ian. Sua primeira filha será uma menina.
E eu não vou dizer que não doeu, que não deu vontade de chorar quando ela apareceu pra mim pela primeira vez.
Por dois minutos, eu quis que você segurasse a minha mão e a observasse comigo."
*****
- Não vai mais falar comigo? - Perguntei quando Ian chegou em casa pela manhã.
- Você sabia. - Ele se sentou em sua cama.
- Me perdoa...
- Me deixa, Amora. Eu estou de ressaca, não quero conversar. - Ele pegou uma mala, a jogando em cima da cama.
- O que você está fazendo?
- Eu vou embora.
- Embora pra onde, Ian? Isso aqui é a sua casa.
- EU NÃO TENHO CASA! EU NÃO MORO COM PESSOAS QUE MENTEM PRA MIM. - Gritou, jogando varias roupas na mala. Ponderei discutir, mas não seria uma ma ideia Ian se afastar de toda a sombra de Lisa. - Me deixa em paz!
Assenti e fechei a porta.
*****
"Chamada em Vídeo de Amora Castelli"
Atendi, surpresa.
- Ei... - Ela disse, de cabeça baixa. Os cabelos cacheados estavam presos. - Ele não está falando comigo.
Engoli em seco e então falamos ao mesmo tempo.
- Ele está indo embora.
- Estou grávida.
- Como?
- Ele está indo pra onde?
- Grávida de quem?
- Me responde! - Me exaltei.
- Me responde primeiro!
- Estou grávida, 15 semanas, de Ian, claro!
Um sorriu se abriu no rosto de Amora, a iluminando por completo.
- Eu vou ser tia... e... parabéns!
- Amora, pra onde ele está indo?
- Meu Deus! - Ela exclamou, parecendo se lembrar de alguma coisa - Eu preciso ir, te ligo mais tarde.
- AMO... - Tentei gritar, mas a chamada foi encerrada antes que eu terminasse.
                              ****
Com quase toda a certeza do mundo que eu havia quebrado a tela do meu notebook quando o fechei, eu me levantei correndo em direção ao quarto de Ian.
- Ian? - Abri a porta. Mas ele não estava. Nem a mala. Ian havia ido embora.
                               *****
Quando você sai de casa pela primeira vez, não importa os motivos, a sensação é libertadora.
Mas quando você faz isso pela segunda vez, é decepcionante.
Decepcionante o fato de que nada melhorou e que você teve que fugir mais uma vez pra tudo se resolver.
E você perde a esperança de que algo sequer se resolva.
Naquele momento, quando falei "boa noite" para o porteiro e ele me perguntou se eu ia viajar, eu soube.
Nada se resolveria. E dali pra frente tudo tendia a piorar.
Não era amor, era uma doença. Uma doença da qual eu me livraria.
Tudo, absolutamente tudo se resolve com algumas viagens.
                             ******
- Olá, bela. - Zach disse quando abri a porta do apartamento. Ele fez menção pra me dar um selinho mas eu virei o rosto, ganhando um beijo na bochecha.
- Olá, Zach - Sorri.
- Tudo bom?
- Sim - Dei risada - Está tudo bem.
- O que faremos?
- Zach...estou indo embora.
- Por que? Gosto desse apartamento.
- Não, Zach... vou voltar para o Brasil.
- Bela, está tudo...
E então uma dor horrível me apertou o coração. E o pior, a barriga. Me fazendo cair nos braços de Zach.
- Bela? Bela? Lisa! - Eu podia ouvi-lo, desesperado, tentando me acordar, mas não conseguia responder.
Quando adormeci, aquilo havia tomado conta de mim. Eu era a dor e a dor era eu.
Não me intitulava mãe ainda, mas quando você é mãe, você sabe que há algo de errado com seu filho. Algo estava errado com Eloá e mesmo dormindo eu podia sentir.
- Lisa? - Uma voz calma me acordou. Ao abrir os olhos, percebi que estava em um hospital.
- Ian? - Falei, com a voz falhando.
- Lisa... - Ele beijou minha mão, chorando. - Achei que tinha te perdido.
- Ian... - Eu comecei a chorar. - Eu nunca mais vou embora, Ian, eu te prometo, eu...
- Lisa? - Ele me interrompeu.
- Sim?
- Quem é Ian?
Ao piscar os olhos mais algumas vezes, percebi que não era Ian. Era Zach sentado na poltrona ao meu lado. E eu senti toda aquela dor mais uma vez.
- Eu... - Comecei a falar, mas a frase não se formava.
- Está tudo bem - Ele me deu um sorriso amistoso. - Com você e com... - Ele franziu a testa, rindo de si mesmo - o bebê.
Não, Zach não sabia. E não me culpe! Não deixei ele entrar comigo no hospital quando descobri Eloá pela primeira vez. Aquele era um momento meu.
- Zach... é por isso que eu preciso ir embora. É por causa dela. - Chorei. - Eu preciso cuidar dela na minha casa, no meu lugar, no meu país.
- Então acho que não há lugar para mim em sua vida.
Ele falou em tom triste. Eu assenti, deixando as lágrimas caírem.
- Você é uma pessoa tão boa, Zach, mas costume nunca foi amor. E foi você quem se acostumou primeiro.
- Não há problemas, bela. - Ele se recompôs - Te desejo o melhor. - Se aproximou, me dando um beijo de leve na testa. - Onde estiver, bela...onde estiver. - Me deu outro beijo na testa e saiu da sala do hospital.
Não vou dizer que não me machucou saber que eu jamais veria Zach novamente. Ele era uma pessoa boa, mas não a pessoa boa pra mim.
Me deixei descansar, acordando apenas algumas horas depois, com o médico me explicando que as dores são normais e que estava tudo bem comigo e, principalmente, com Eloá.

- Está tudo bem mesmo? - Alice perguntou, preocupada.
- Está, o médico disse que essas dores são normais então se prepare. - Falei enquanto arrumava minha mala.
- Não da pra acreditar que você tá voltando. Eu estava animada por você...
- Alice, você odeia meu intercâmbio.
- Não é bem assim, eu só acho que foi uma ideia precipitada e burra.
- Só?
- Amora me ligou hoje.
- Ela falou algo de Ian?
- Ele foi embora, ninguém sabe onde tá.
- Great. Minha filha não terá um pai.
- Filha?
- Não te contei? É uma menina.
- Como assim você já sabe? Meu Deus, a qualidade da medicina daí é tão boa! Aqui me disseram que só saberei quando tiver com tipo 6 meses de gestação.
- Enfim, é Eloá o nome.
- Uau! Que...exótico. Você não acha que Ian deveria opinar?
- E Ian está onde agora? Pra opinar?
- Ei! Quem foi que afastou ele primeiro?
- Enfim, Alice, a filha é minha. Ela vai se chamar Eloá e pronto.
- Não é um nome feio. Só parece nome de gente velha. Tipo "olha lá a Tia Eloá."
- Alice, nomeie seu próprio filho. A minha você pode deixar em paz.
- Que horas é seu voo?
- Amanhã às 6. Não estou preparada, Alice, eu não quero voltar. - Falei, colocando a última peça de roupa na mala. - Mas sabe, aqui é bom, mas não é a minha casa.
- Claro que não é a sua casa. Eu não estou aí.
Dei risada, mas não discordei. Alice estava certa. Alice estava sempre certa.
Fui dormir, ansiosa e nervosa para voltar pra casa.
"Diário de Quando Te Deixei
Dia 17. Para Ian Castelli.
Desde que coloquei os pés no avião me perguntei se o Rio ainda vai parecer uma casa sem você. Um lar sem você.
Apesar de tudo, Ian, eu era feliz. Foi o destino, sabe? agora até ele nos abandonou e eu não sei exatamente quando foi que as coisas mudaram, mas eu pirei sua cabeça... você me deu o poder de tirar tudo que você tinha com um piscar de olhos e se arrependeu no mesmo segundo. Eu quase te matei. Você quase me matou. Você pegou uma menina com um olhar perdido em um congestionamento e a olhou no meio de todas as outras pessoas ali. Você fez dela uma amante de si mesma. Você não tem a mínima noção do bem e do estrago que me fez.
Os dias clarearam com você e escureceram sem você. Todos eles. E se você olhar pra mim não vai ver que eu enlouqueci com você e te empurrei junto pra loucura toda. Tenta ver. Tenta ver que você não pediu licença, tenta ver que você trouxe uma avalanche para alguém que já era terremoto...você me transbordou, Ian! E eu não pude lidar com tanto sentimento. Você estava em todo lugar e eu, involuntariamente, te procurava nos que não estava. Fraco e sem sorte, você jogou seu destino nas mãos de alguém que já tinha a vida cheia e não podia te segurar. Me assusta lembrar do que eu era, Ian, mas me assusta mais lembrar que você me deu esperança para melhorar e eu a destruí."

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