ESCONDE-ESCONDE.

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Era uma rua curta, mas muito bonita. Daquelas que ao olhar pra cima você quase não enxerga o céu por conta das árvores que o tampam.
O táxi dela parou em frente a um prédio alto, e eu logo presumi que ela morasse ali.
Ela desceu e eu só não babei porque me controlei muito.
Legging preta e uma blusa cinza coladas no corpo, chinelo e uma bolsa grande pendurada no ombro esquerdo. Deus, como uma mulher pode ser tão linda de chinelo de dedos?

- Deu 8 reais, senhor. - O motorista do uber me tirou dos meus devaneios.
- Troco pra 10, por favor. - Falei, entregando o dinheiro e ainda a encarando.

Ela entrou no prédio e o motorista ainda estava contando meu troco. Se ele demorasse mais 10 segundos, eu a perderia de vista.

- Fique com o troco.

Desci do carro correndo e entrei no prédio procurando por ela, mas quem eu encontrei foi um porteiro alto e bravo, porque aparentemente não se pode entrar num prédio na Gávea sem camisa.

- Perdão? Posso ajudar?- Ele disse.

Eu não soube o que dizer. Nem eu sabia o que estava fazendo ali.

- Ela. - Foi a única palavra que saiu da minha boca. E eu me senti um retardado dois segundos depois que falei.

- Hum? - Ele arqueou uma sobrancelha.
- A moça que entrou aqui agora. Calça preta, olhos castanhos, eu preciso falar com ela. - Falei, ofegante e olhando pelos ombros dele, sem sucesso, já que o cara devia ter uns 30cm a mais que eu.
- Camiseta.

Minha mãe não reconheceria o filho que demorava horas para colocar um uniforme de manhã se visse o quão rápido eu coloquei minha camiseta.

- Segundo corredor, primeira sala a direita.

Eu comecei a andar rápido, mas o brutamontes foi mais rápido do que eu. Segurando no meu braço, ele disse:

- Você não pode entrar na sala até o fim da aula, termina às seis horas.

Olhei no relógio: 16:45. Foda-se. Eu ficaria sentado no chão, se preciso, só para ver os olhos dela de perto.
Ele me largou e eu segui em busca da sala. Era um grande corredor bege com alguns sofás do lado esquerdo. Eu me senti pobre. No lado direito, um grande vidro tomava conta da parede e a cortina não me deixava ver o que tinha dentro, mas ao ouvir uma música clássica que eu logo reconheci, Clair De Lune, imaginei que fosse uma comum aula de ballet.
Como a música era calma, acabei adormecendo e só acordei quando ouvi várias vozes femininas perto de mim.
Meu coração parou e o desespero tomou conta de mim como nunca havia acontecido antes. Eu me levantei rapidamente, quase caindo por conta da mochila pesada nas costas, e comecei a olhar rosto por rosto pra ver se a encontrava. O medo dela ter saído enquanto eu dormia me consumiu, e a ideia de nunca mais ver aquele rosto parecia me sufocar.
E então ela saiu.
Cansada, com os cabelos agora soltos e batendo nos ombros, ela segurava a bolsa com a mão esquerda e o celular com a direita e, percebendo que eu a encarava, me olhou como quem não está entendendo nada.
Naquele momento, o mundo parou.

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