CAPITULO 34- as the time goes by

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Um voo nunca havia sido tão desconfortável. Eu recusei balinhas e refrigerante, recusei um pedido de conversa da menina sentada na poltrona ao meu lado e me recusei a pensar em Ian.
Mas é claro, não funcionou.

                              *****
- Ian? - Eu bati na porta centenas de vezes - Está tudo bem?
- Que é? - Ele abriu, com uma garrafa de cerveja na mão.
- Você não saiu do quarto o dia todo. Está tudo bem?
- Claro que sim, eu só estou vendo Netflix.
- Mas a TV tá desligada.
Então ele abriu mais a porta, me fazendo sinal pra entrar. Eu entrei e a fechei atras de mim. Ele se sentou na cama e me encarou.
- Ela já fez isso antes, sabe? Me afastar.
- Ian...
- Não, Amora, sério. Você acha que a conhece mas não conhece! Lisa é doida!
- Você não devia pensar assim dela. Ela se conhece, Ian, talvez ela saiba o que é melhor pra você.
- Amora, onde ela está?
Eu me levantei da cama e ele me puxou pelo braço.
- Por favor. - Quando olhei em seus olhos, eles estavam marejando e eu precisei engolir o choro pra não me entregar.
- Ian, eu... eu não sei. - Falei, olhando pra ele.
- Você é minha irmã, Amora! Eu te amo mais do que qualquer coisa.
- Eu sei - Me sentei ao seu lado novamente - e é por isso que eu faria qualquer coisa pra te ver bem.
- Você não sabe onde ela está?
- Ela deve estar na casa dela, Ian, ela não disse que chegaria hoje? Pode estar na Alice, não sei...
- E se eu der, tipo, uma semana pra ela ficar de boa? Ela me ama, sabe? Ela vai ficar com saudade e ela vai ver que estou dando o espaço que ela precisa. Aquele casamento foi pesado, talvez ela só esteja com medo ou algo assim.
- Isso! - Me animei, sem acreditar que ele tinha concordado em esquecer Lisa (mesmo que por pouco tempo) -  É uma boa ideia, sabe? Vocês se afastarem um pouco...vai dar certo. - Eu sorri pra ele, tentando demonstrar força.
- Ok - Ele sorriu de volta.

                             *****
Não é difícil se instalar nos Estados Unidos quando você tem dinheiro e um inglês fluente. Em apenas três dias eu já estava com um apartamento legal em um bairro legal com vizinhos legais, de maioria brasileiros também intercambistas.
Eu sabia que Ian não tinha como entrar em contato comigo, mas estava me espantando o fato dele não ter nem perturbado Alice ou meus pais.
Quem sabe ele realmente tinha decidido me esquecer...

                               *****
- Se eu escrever uma música, você canta? - Perguntei a Amora, entrando de repente em seu quarto, assustando a menina.
- Desde quando você escreve?
- Desde agora. Escrevi uma parada que gostei.
- Ok, eu canto. - Ela se sentou na cama, sorrindo.
- Vou pegar o violão.
- Posso filmar? - Gabriel perguntou e eu deu risada, feliz por estarmos fazendo algo entre irmãos depois de algum tempo.
Fiz que sim com a cabeça e sentamos os 3 no grande sofá da sala.
- Ok, essa é a letra. - Entreguei um papel a Amora.
- Deus, sua letra é horrível. Por que em inglês? Eu nem sei cantar em português direito!
- Só me acompanha, Amora.
                             *****

Quando Ian começou a cantar, eu entendi. Lisa estava ali. Lisa estava em cada frase da música chamada "Tribulation" que Ian escreveu. Sim, tribulação. Dor, amargura, infelicidade. Ian estava maquiando seus próprios sentimentos escrevendo uma música sobre Lisa .
"Darling, can't you see
I'm a broken man
With addictive tendencies
And I think I love you
But I don't ever think I can
Ever learn how to love just right
So run away from me
Run as far as your
Dark brown eyes can see"

Ian havia colocado todo o seu coração em uma música, toda a culpa que carregava por ela ter ido embora e toda a dor de não ter reparado em seus olhos pelo que ele sabia que seria a última vez.

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