CAPITULO 19- j e a l o u s

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Não vou dizer que não rodei todos as lojas do shopping possíveis pra encontrar o vestido perfeito, porque rodei. Eu queria ficar perfeita. Eu queria ser a única menina para qual Ian  olharia naquela festa, embora seus olhares nunca me interessassem muito.Mas é claro que ela estaria mil vezes mais bonita que eu. É Agnes Masquerin. Quem ganha de Agnes Masquerin?
- Ian! Você veio! - Ela abriu caminho na multidão que apertava o salão, sorrindo como criança ganhando presente de natal, vestindo uma saia longa verde e uma blusa que parecia ter sido feito pra ela. Os cabelos soltos me fizeram presumir que de tão lisos, eles jamais parariam presos.
- Eu cumpro com a minha palavra! - Ele deu risada, a abraçando, ela era quase do seu tamanho. Ian parecia feliz. - Agnes, Lisa. Lisa, Agnes. - Ele nos apresentou.
- Já nos conhecemos. - Eu sorri, dando um abraço nela. Afinal, sou educada.
- Você está linda, uau...reconheço esse vestido. Le Lis Blanc? - Ela disse, fazendo menção a marca do meu vestido.
- Sim.
- Ah, eles nunca deixam a desejar - ela deu um sorriso alegre - por isso que fui modelo de uma de suas coleções. Bom, fiquem a vontade.
Ela foi ao encontro de outros tres convidados. Eu nunca me achei feia, nem nada do tipo, mas Agnes tinha o poder de me fazer parecer um patinho feio.
O salão estava muito bem decorado e pessoas de todos os tipos passeavam por ele. Eu estava acostumada com festa daquele tipo desde que era apenas uma criança, mas me senti mal e fora de foco.
- Tá tudo bem? - Ian encostou no meu braço.
- Sim - Sorri. - Conhece alguém aqui?
- Não... - Ele colocou as mãos nos bolsos, abaixando a cabeça e sorrindo. - Vamos ao bar.
Quando Ian pegou a minha mão, pude ver os olhos de Agnes fuzilando nossas mãos. Aquilo me fez sorrir. Eu tinha algo que Agnes Masquerin não tinha.
- O que foi? - Ele perguntou, vendo minha repentina vontade de sorrir.
- Nada, gosto delas assim. - falei, me referindo as nossas mãos. Aquilo não era completamente verdade, mas também não era completamente mentira. Ian sorriu, me puxando para o bar.
- Uma caipirinha de kiwi e...você? - Me perguntou.
- Um whiskey duplo.
Ele arregalou os olhos, mas assim que lembrou quem é Lisa Wengrov deu um sorriso. Lisa Wengrov bebe. E Lisa Wengrov não bebe pouco.
Sentados nos banquinhos em frente ao balcão do bar, Ian apenas sorria.
- Ficou bobo?  - Perguntei.
- Agnes está diferente...mais adulta, mas não parece querer se casar com esse moço.
- Ele está aqui? - Perguntei.
- Nunca vi o sujeito, não posso dizer se esta aqui.
Ergui as sobrancelhas com o jeito que Ian falou do noivo de Agnes. Com raiva. Quase que...quase que com ciúmes.
- Ele te fez algo?
- Não, mas Agnes não quer casar com ele.
- Talvez isso não seja da sua conta.
- A felicidade de Agnes é da minha conta. Ela é tão melhor assim...olha lá.
Quando encontrei o que seus olhos encaravam, Agnes estava rindo alto e dançando numa roda com umas cinco amigas e um copo de bebida na mão. Entre reboladas e risos, Agnes levantou o copo pra Ian, piscando um olho só, sorrindo com a graça de uma obra de arte e o chamando.
- Pode ir - Falei.
- Vamos comigo...você está tão desanimada, devíamos dançar.
- Deixa eu terminar isso aqui, pode ir.
Ele fez que sim com a cabeça e foi ao encontro de Agnes na pista de dança. Me virei, não queria ver aquilo.
- Abandonada? - Uma voz masculina surgiu atras de mim, me fazendo virar com raiva.
- E isso por acaso é da sua... - Me interrompi ao ver com quem estava falando. Deus, ele era lindo. De terno e com um belo sorriso de lado, ergueu as sobrancelhas. - Perdão, eu tenho tendência a ser mal educada. - Dei um sorriso. Ele merecia.
- Henrique.
- Lisa.
- Posso?
- Sim.
Então ele se sentou no banco vazio ao meu lado.
- Perdida aqui? - Me perguntou.
- Um pouco...

                               ****
Era difícil não se encantar com a beleza de Agnes, estar com ela era entrar em uma máquina do tempo, e eu gostava de lembrar de quando eu era apenas o Ian Castelli, com uma família de verdade e pessoas de verdade ao meu redor.
- E a garota? - Agnes falou, um pouco alto por conta da música. - Ela é bem bonita.
- Ah - eu sorri, encolhendo os ombros.
- Namorada? - Neguei com a cabeça.
- Cadê o Matthew?
Ela respirou fundo.
- Eu, especificamente, pedi para que ele não viesse. Queria uma noite só minha.
- Não acha um pouco estranho o fato de que vocês são noivos mas você não quer a presença dele?
- Ah, Ian... - Ela deu um sorriso triste, me puxando pela mão.
Ao passar com Agnes pelo bar, vi Lisa conversando com um cara alto, rindo como se eles se conhecessem a anos.
Quando chegamos ao jardim do salão, Agnes se sentou em um balanço e eu tomei lugar do que estava ao lado dela.
- Eu gosto de vir aqui. - Disse, tirando os saltos altos. O jardim do prédio de Agnes era quase escuro, apenas algumas luzes fracas penduradas em algumas árvores já eram o necessário pra iluminar. - Me lembra... - Ela respirou fundo, olhando pra cima. Agnes queria chorar.
Eu sabia do que ela estava falando. Quando menores, eu costumava trazer Amora pra brincar com Agnes e ficava observando as duas. Amora e Agnes eram unha e carne, e era difícil imaginar uma sem a outra.
- Eu não consigo imaginar como isso deve ser difícil pra você. - Segurei uma mão dela.
- Pra você é tão difícil quanto... A vida inteira é difícil sem ela, o mundo é mais escuro. Eu tinha esquecido, sabe Ian? Não esquecido, quer dizer, amenizado...mas te ver traz tudo de volta. Vocês são tão parecidos. Ela precisa estar aqui no meu casamento, Ian...ela...eu me recuso a casar sem ela aqui - Quando me dei conta, Agnes estava chorando. - Me desculpa, eu fico assim quando bebo, Mathew sempre diz que é quando da vontade de me cuidar. - Ela tentou sorrir.
- Como vocês se conheceram?
- Foi um sonho, Ian... Eu estava estreando uma coleção de um estilista de Paris e ele era o fotógrafo. Deus, eu me apaixonei na hora. Menos de um ano e nós estamos noivos, mas eu sinto que me precipitei. Eu não o amo, Ian. - Ela me olhou no fundo dos olhos. - Eu não consigo o amar.
- Talvez seja melhor se você enrolar um pouco esse casamento.
- Eu não tenho ninguém mais. Eu preciso sair de casa, preciso me libertar... quando seus pais me contaram que você tinha ido embora eu quis tanto que você tivesse me levado.
- Não foi assim tão fácil...
- Eu sei! - Ela apertou minha mão. - Mas foi mais fácil que ficar aqui.
- Quem é ele? - Apontei pra dentro do salão, onde Lisa conversava com um moreno de terno.
- Henrique, é um amigo das meninas. Ciúme? - Brincou.
- Nem perto. - Falei, mas a cara já estava fechada. E Agnes me conhecia.
- Você nunca me olhou assim. - Ela apertou de leve a minha mão, me fazendo encara-la. Agnes estava certa.
- Assim como?
Ela soltou minha mão, encostando a dela no meu rosto.
                               ****
Queria poder dizer que não estava absurdamente cansada de ouvir Henrique falar e falar sobre suas viagens e conquistas. Sua beleza era tão grande quanto seu ego. Então, quando resolvi olhar na outra direção procurando por Ian, esperava encontrá-lo dançando ou conversando com alguém.
Eu não esperava encontrá-lo beijando Agnes.

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