CAPITULO 17 - back home.

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- Você não acha que está na hora de voltar? - Lisa perguntou, meia hora depois de ficarmos em completo silêncio, apenas observando a chuva, que agora era mais fraca.
- Estou confortável aqui. - Falei, fazendo menção a ela deitada no meu ombro enquanto o dia escurecia.
- Não... - Ela se sentou, se afastando de mim - Digo, daqui. - Franzi a testa.
- Você quer dizer...
- Sim, do Rio de Janeiro. Quer dizer, eu te adoro, e adoro sua companhia, mas talvez Amora esteja com saudades.
- Amora está dormindo, Lisa. E você disse que me adora?
- Ela ainda podia te ouvir. Você era um incentivo pra ela acordar...e se agora ela acha que você desistiu dela?
De repente, me sentei. Amora não pensaria aquilo. Ou pensaria?
- Mas Lisa...
- Eu quero ir com você. - Ela disparou, me fazendo arregalar os olhos. - Eu quero conhecer Amora.
- Lisa...
- Me deixe ir com você.
Eu precisei. Eu não aguentei. Eu a beijei. E eu não parei até que Lisa estivesse deitada em cima de mim, no chão frio daquele restaurante enquanto a garoa caía.
Mas Lisa não era garoa. Lisa era tempestade, Lisa era o tempo de uma cidade que nunca tem clima definido. E  naquele momento eu me apaixonei ainda mais. E eu nem sabia que isso era possível.
Foram as bolinhas em seu rosto e o jeito da gente respirar. Um beijo após o outro e aquela inspiração que é a alma pedindo por mais. Juntos. Não nos largamos nem para isso. É o jeito que meu dedo se enrolou nos cabelos dela e o fato de eu morrer de medo de aperta-la, mas as vezes fazer isso sem querer, na intenção de puxa-la pra perto. Cada. Vez. Mais. Perto. Eu quis que Lisa e eu fôssemos um só naquele dia. E então eu a levei pra casa.

                               ****
- Tem uma passagem para São Paulo amanhã de manhã. - Lisa disse, deitada na cama só de sutiã e calcinha. Que mulher, meus amigos...que mulher. Não fizemos nada, mas quando chegamos em casa foi preciso tirar a roupa ensopada, e Lisa achou que seria uma boa ideia ficar quase sem roupa ao meu lado.
- Precisamos de duas, não?
- Sim - Ela sorriu. - Só estava confirmando com você.
Eu me inclinei pra perto dela.
- Confirmando o que?
- Vai que você não quer minha presença.
- Lisa, eu quero a sua presença.
Ela não diz nada, apenas sorri e clica em "comprar" no aplicativo de sua empresa aérea.
- Partimos amanhã as 17h. Agora, eu preciso ir embora. Já são quase dez da noite e eu preciso fazer as malas. Já pensou em onde vamos ficar?
- Meu sobrenome é nome de vários hotéis.
- Ótimo.
Ela me deu um beijo no rosto e saiu do quarto. Ouvi Lisa rir de alguma coisa com Gabriel e bater a porta da sala. Em menos de dois minutos, ele estava abrindo a porta do meu quarto:
- Vocês vão a São Paulo?
- Gabriel...
- Ian, porra. - Ele se sentou na minha cama - Em que parte desse seu tempo viajando que você se esqueceu que Felicia e Augusto Castelli te odeiam? Você abandonou Amora!
- Não. - Senti meu sangue se concentrar no meu rosto e me segurei para não explodir de raiva. - Eu fui realizar o sonho dela, porque alguém tirou isso dela e minha irmã está numa cama de hospital tem mais de um ano e meio. Eu fiz a merda de um blog, eu fiz um álbum de fotos, eu fiz tudo pra quando Amora acordar vir que eu nunca a abandonei. Não tem um dia no qual eu não pense nela.
- Ian, e se ela não acordar?
A ideia parecia absurda.
- Como que você consegue manter uma teoria dessa, Gabriel? Ela é sua irmã também!
- Ian, não é uma teoria, é uma chance! Uma grande chance! Ela está em coma e não da resultados, Ian! Você precisa...você é o único que...
Eu franzi a testa, me virando para Gabriel.
- Eu sou o que?
- Você é o único que pode desistir. Você é o único que pode acabar com essa prolongação que você SABE que é atoa!
- Como que é? - Eu arregalei os olhos.
- Olha, eu não te contei...
- Desembucha, porra!
- Uns 10 meses atrás, quando eu fui em casa contar para mamãe e papai que eu e Diana decidimos romper, eles tocaram no assunto Amora. -
"Assunto Amora"... como se não estivéssemos falando da nossa família. - Eles queriam desligar os aparelhos. - Vendo que fiquei pasmo, Gabriel continua: - Ian, já faz tanto tempo... nossos pais perderam a esperança.
- Você não pode estar falando sério.
- Eu perdi o juízo naquele dia, bati na mesa, gritei coisas que não deveria e sugeri que eles passassem pro seu nome...
- Passassem o que pro meu nome?
- Ian, a guarda de Amora é sua. -
Minha cabeça era uma confusão absurda. - Você é o único que pode desligar os aparelhos. Nossos pais não são mais responsáveis por Amora, e eu não poderia ser. Eu não teria forças, Ian, eu já teria desligado.
- Será que estamos falando da mesma pessoa? - Cuspo - Vai a merda, porra! É a Amora! É a menina de trancinhas e all star que passeava pela casa e quebrava todos os nossos carrinhos porque não deixávamos ela brincar. É a Amora que chorava quando Felicia ameaçava te bater quando você fazia alguma burrada. É a Amora do trio perfeito. É a nossa irmãzinha, Gabriel, caralho!!!!!!!! É a Amora!!! Nada mudou! - Bati na cama e me levantei, segurando meus cabelos como se aqui fosse a merda de um pesadelo. Quem dera tivesse sido.
- Ian, acorda!!!! - Ele gritou! - Amora não fala, não respira por conta própria, não pensa...
- Você não sabe disso. - O interrompi.
- Mas os médicos sabem! Ian, ela não vai voltar. Nós nunca mais vamos ouvir a voz dela, Amora está morta, Ian! Aceita essa merda como eu aceitei. Você acha que não dói? Que eu não tenho coração? Que eu não senti quando ela morreu? Quando a vi jogada naquele balanço como a merda de uma drogada tendo uma overdose? Porque foi isso que ela teve, Ian! Amora Castelli sua irmãzinha perfeita teve uma overdose. E as pessoas não voltam dessa merda.
Sem me controlar, eu o coloquei contra parede, segurando seus ombros.
- Acontece que Amora está viva, seu irmão mais velho de merda. Se recomponha, Gabriel, sua vida não acabou quando Diana te deu um pé na bunda, você ainda tem a porra da sua família, você ainda tem seus irmãos. Dar as costas pra Amora é a pior coisa que poderia ter feito. Ela está sozinha, merda, e eu... - Me afasto dele, tentando organizar minha cabeça - eu não sabia! Porque você não achou que eu tivesse o direito de saber que nossos pais não a visitam mais!
- Talvez seja o certo a se fazer. Ela está agonizando, Ian, todo dia... você pode acabar com isso. Você pode deixá-la descansar em paz.
- Eu jamais desistirei de Amora.
- Ian...
Sem pensar duas vezes, eu o empurrei, fazendo com que Gabriel caísse contra o chão frio do apartamento. Coloquei minha mochila em cima da cama, jogando todos os meus pertences dentro dela.
- Brother..
- Não ouse - eu apontei o dedo no rosto dele quando o mesmo se levantou, colocando a mão direita em meu pulso, tentando me impedir - me chamar assim. Amora está viva, Gabriel, mas foi você quem acabou de morrer pra mim. Quando ela acordar, não ouse...porra, não ouse olhar na cara dela. Seja homem, uma vez na sua merda de vida, e assuma que você é fraco! Você é só isso, Gabriel, um moleque vivendo do dinheiro dos pais por anos apenas porque uma vadia qualquer decidiu que ela não queria mais nada com você.
- Você pense duas vezes antes de falar de Diana. - Ele ameaçou.
- Engraçado como você defende uma viva que não te quer, mas desiste da sua irmã em coma que te ama mais do que tudo.
Com essas palavras e a mochila nas costas, eu saí do apartamento azul claro de Gabriel. Eu não aguentaria mais uma noite sob aquele teto.

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