CAPITULO 22- fantini.

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Foi fácil arranjar uma passagem de última hora para o Rio de Janeiro...sempre admirei essa tecnologia com aplicativos para tudo. Um clique e alguns minutos depois, eu estava dentro do avião. Quando percebi que as lágrimas não cessariam tão cedo, peguei meu celular e resolvi escrever. Eu sempre gostei de escrever, mas havia abandonado a pratica. O bloco de notas estava quase vazio. Comecei.
"Para quando você se apaixonar de verdade.
Quando você se apaixonar de verdade, olhe pra ela. Profundamente, como se estivesse lendo ela de dentro pra fora. Você vai fazer isso mesmo sem querer, porque é uma coisa sua, mas quando perceber, encare mais. Olhe mais. A deixe sem graça, constrangida, encare até ela te encarar de volta. E quando ela encarar, se encarar, ela é sua.
Quando você se apaixonar de verdade, brigue com ela. Brigue por ela. Faça a ver que o mundo fica mais bonito toda vez que ela sorri, diz que é vidrado nela, fale dos olhos dela... fale dos mistérios que ela exala, e do jeito que ela é transparente. Faça com que ela se ame primeiro, e ela irá a guerra por você logo depois.
Quando você se apaixonar de verdade, tire ela do chão. Literalmente. A abrace. Envolva ela do jeito que só você sabe, e levante ela. Mesmo que não possa, mesmo que estejam na frente dos outros, levante ela. Deixe que ela veja que você vai carrega-la de qualquer jeito, ela querendo ou não. Rode ela. Olhe pra ela. Sorria pra ela. Beije ela. Desça ela e deixe que ela te abrace e escute seu coração bater. Ela nunca mais vai esquecer desse dia. E falo por experiência própria.
Quando você se apaixonar de verdade, Ian, faça com ela todas as coisas que fez comigo, mas não a abandone como fez comigo. Permita-se, Ian. Permita-se como eu não me permiti."

O voo foi curto, e em menos de uma hora eu já estava pousando na cidade maravilhosa. Tão maravilhosa quanto a sensação que Ian causava em todo o meu corpo, mas tão perigosa quanto.
Sem vontade de alguma de ir pra casa, decidi que bateria na porta de Alice.
- Lisa? - Ela se espantou. - O que...
Sem pensar duas vezes, ela me abraçou. Alice me conhecia, e assim que toquei a campainha do pequeno sobradinho turquesa na Lagoa eu soube que ela me acolheria. - O que aconteceu?
- Festa do pijama? - Pedi.
- Entra.
A casa de Alice continuava a mesma. Pequena, de apenas um quarto, era toda decorada com móveis antigos.
- O que aconteceu? - Perguntou quando me sentei na cama.
- Eu conheci um garoto.
- Sério? - Ela arregalou os olhos. - E por você estar batendo na minha porta nesse estado significa que...
- Significa que não deu certo.
- Me explica.
Quando comecei a falar de Ian, percebi que um sorriso surgiu em meus lábios, mas não durou muito.

****
" Lisa?" Mandei mensagem de dentro do táxi, mas ela não respondeu. Quando o motorista parou, eu avisei:
- Não demorarei nem 15 minutos, amigo.
Entrei no hospital e fui ao encontro da única família que ainda me restava, já que abandonei meus pais na mesa do almoço. Eu não poderia encara-los depois de ter perdido minha Lisa por culpa deles.
- Oi, pequena. Vou ter que ser bem breve, ok? - Eu segurei a mão de Amora, deixando leves beijinhos. - Você conheceu a Lisa...viu como ela é difícil de lidar? Pois é, mas eu preciso dela. Eu estou indo atras dela, mas eu prometo que eu volto. Acorde, Amora, quando voltar quero te ver de pé, quero que você veja os olhos de Lisa, quero que você veja que meu cabelo tá grandão, quero que você me de conselhos sobre as mulheres porque, cara, eu tô perdendo a cabeça. Eu sei, você sente falta da mamãe e do papai, mas quando você acordar eu vou te explicar porque eles não tem vindo te visitar. Eu te amo, Amora, e eu vou te amar pra sempre. Eu volto, ok? Mas eu preciso ir atras da segunda mulher da minha vida.
Uma hora e meia depois, eu pousei no Rio de Janeiro.

****
- Você acha que ele vem atras de você?
- Não, dessa vez não...
Eu me encolhi na cama e Alice me abraçou.
- Talvez seja pra melhor... Quer dizer, você teve tudo aquilo com o Pedro... talvez você não esteja preparada.
- Sim..
- Vai dar tudo certo, Lizzy, eu te prometo. Amiga?
- Oi?
- Sua bunda está vibrando.
A tela dizia "Ian" e eu não quis atender.
- Lizzy...
- Não. É como você disse: é pra melhor.
- E se ele estiver aqui? E se tiver no Rio atrás de você?
- Você acha...
- Eu acho que você deveria apenas atender.
- Não. - Eu resisti a tentação. - Eu estou morrendo de sono, preciso dormir.
- Ok, vou pegar um travesseiro pra você.
Alice saiu do quarto e eu voltei a me encolher na cama. Eu não amava Ian Castelli. Eu não iria a guerra por Ian Castelli. Mas me doía imaginar uma vida sem seus grandes olhos azuis.
Uns 5 minutos depois, Alice voltou com um travesseiro grande na mão.
- Você foi fabricar o travesseiro?
Ao jogar o travesseiro em mim, vi que tinha outra coisa em sua mão direita.
- Alice... o que você fez?

*****
Ao receber a mensagem de Lisa, eu não acreditei.
"Venha me ver. Estou na casa de Alice. Avenida Epitácio Pessoa, 129."
Quinze minutos depois, o táxi estacionou em frente a um pequeno sobradinho verde-agua.
Toquei a campainha e quem me atendeu foi uma garota linda. Grandes olhos verdes me encaravam e uma de suas sobrancelhas estava arqueada. Ela era baixa, o nariz parecia um pão de queijo e seus cabelos eram enrolados e volumosos.
- Alice Fantini, prazer, sou a melhor amiga da garota que você quebrou o coração.
- Ian Castelli, prazer, sou o cara que teve o coração partido por ela.
- Entre. Primeira porta à esquerda, ela me trancou pra fora e eu preciso do meu pijama então se você conseguir fazê-la abrir, terá uma nova torcedora para o relacionamento de vocês.
Eu entrei, encantado com a beleza daquela casa. A sala era pequena e o que a dividia da cozinha era apenas um balcão. Em tons envelhecidos, o verde-agua pintava as paredes de toda a casa. Móveis antigos decoravam e quadros com fotos pairavam na parede.
- Lisa? - Eu bati na porta. - Por favor.
- Vá embora, Ian!
- Mas você??? Garota, você me mandou uma mensagem! Você é louca!
Uma Lisa furiosa e de rosto inchado abriu a porta.
- Eu não te mandei uma mensagem! Foi Alice! Eu jamais te chamaria de volta! Eu quero distância de você e eu...
Eu segurei seu rosto com minhas mãos, fazendo Lisa encarar meus olhos marejados. Vê-la de cabelos bagunçados, de pijama e com o rosto vermelho de tanto chorar quebrou o que restava do meu coração.
- Você me disse pra ir me apaixonar, mas Lisa...eu não posso me apaixonar sem você. Você me disse para ir ser feliz, mas eu não posso encontrar felicidade sem esses olhos. Você me disse para ir viajar, mas eu quero que você vá comigo. Eu não sou como eles e eu te perdoo, Lisa, por você ter falado coisas que não queria.
- Me perdoa? - Ela tirou minhas mãos de seu rosto. - Você só pode estar de brincadeira. Eu não preciso do seu perdão! Eu não fiz nada de errado!
- Lisa... não torne isso mais difícil do que já está sendo. - Alice disse.
- O que diabos você tá fazendo aí? Vaza!
- Ok, ok... - Ela se retirou.
- Lisa...
- Ian, não!
Quando ela ameaçou bater a porta na minha cara, eu ajoelhei. Pude ouvir a surpresa de Alice quando o queixo dela caiu.
- Que merda você tá fazendo!???
- Eu não vou te pedir em casamento, mas eu vou te pedir pra não sair de perto de mim. Lisa, eu preciso de você. Eu não posso te perder também. Eu preciso que você esteja do meu lado quando Amora acordar.
- É muita covardia sua meter Amora no meio disso!
- Você sabe que estou certo, você sabe que isso aqui...isso aqui pode dar certo. Você só precisa... - Eu segurei sua mão. - Você só precisa me dar uma chance. Deixa eu ir a guerra por você, Lisa, só mais uma vez.
Lisa respirou fundo e engoliu o choro. Algumas lágrimas teimosas caíram de seus olhos, mas ela manteve a pose.
- Ian... se levante.
Eu fiz como ela pediu, e a encarei. Ela me abraçou apertado.
- Eu... Eu sinto muito. - Ela disse, soluçando. - Não vá a guerra por mim, Ian, eu não sou quem você quer que eu seja. Não me ligue as duas da manhã, porque parece bom pra caralho mas...não. Eu sei que vou te decepcionar então não segure sua respiração agora, Ian, não por mim. Vá embora, nós não vamos ficar juntos.
Sabendo que aquela seria a última vez, eu a apertei contra meu corpo. Quando percebi, eu também estava chorando.
- Eu não posso te dizer adeus, Lisa.
- Você pode e vai.
Ela se afastou, fechando a porta sem olhar pra trás. Eu não a olhei nos olhos pela última vez, eu não a beijei, eu apenas a abracei e senti seu coração acelerar na medida que o meu quebrava. Eu perdi Lisa Wengrov naquele dia, e eu me perderia alguns dias depois.

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