DIFERENTE.

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No caminho, a única coisa que eu conseguia fazer era encarar o banco da frente. Lisa conversava abertamente com o motorista do uber e eu tentava não olhar pra ela, porque sabia que se o fizesse, a encararia pelo resto do trajeto.
A voz dela era doce, mas rouca e decidida, e cada palavra dela era um pontinho a mais na escala do "eu preciso beijar essa garota".
Ela me deu um tapa.

- Ai! - Eu me virei pra ela.
- O motorista quer saber se precisa de troco, Ian!
- Não, não precisa.

Entreguei o valor da corrida quando o motorista parou em Ipanema. Agradeci e nós descemos em frente ao condomínio.

- É aqui?

Eu comecei a me perguntar se Lisa sempre fazia perguntas idiotas ou se ela só estava nervosa e com medo de eu matá-la.

- Sim, Lisa, é aqui.
- Você acabou de revirar os olhos pra mim?
- Não, Lisa, eu...
- Vai pra puta que pariu.

Meus olhos arregalaram.

- Eu achei que você não falava palavrão...
- E não falo! Agiliza, Ian!

Entramos no condomínio e eu já estava me cansando da cara de tédio de Lisa. Talvez a beleza fosse a única coisa que ela tinha de bom.

- Quem mora aqui? - Ela perguntou enquanto subíamos o elevador.
- Um amigo. - Precisei mentir.
- Ele tem nome?
- Gabriel.
Batemos na porta do apartamento e Gabriel logo atendeu.
- Irmãozinho!!! - Lá se foi a minha mentira. - Mal chegou e já trouxe uma gatinha? Esse é o meu garoto. Prazer - Ele estendeu a mão pra Lisa e a bendita estendeu de volta, me fazendo semicerrar os olhos. - irmão mais velho desse carinha aqui.
- Lisa Wengrov - Ela sorriu, me fazendo me perguntar porque ela estava sendo tão simpática.
- Uau! Que elegante! Entre, senhorita Lisa Wengrov. - Ele piscou o olho direito, habilidade que eu sempre invejei, já que quando eu tentava fazer isso parecia ter alguma deficiência motora.
- Obrigada.

Ela entrou no apartamento e eu cutuquei Gabriel, sussurrando logo em seguida:

- Longe dela.
- Namorada nova, Ian?
- Cale a boca, eu não a conheço.
- Assim que é bom. Sexo entre desconhecidos é bem melhor.
- Cale a merda da boca, Gabriel, não me faça lembrar porque eu fui embora.
- Não está mais aqui quem falou. - Ele fez um ziper com a mão. - Venham, vou mostrar o quarto de vocês.
- An, de vocês? Eu não vou ficar aqui, Gabriel, vim só tomar um suco. - Ela sorriu discretamente. Porra, ela era linda. Desgraçada.
- Aham, eu sei bem que tipo de suco você veio tomar.

Não aguentei, precisei dar um soco no braço de Gabriel. Ele era tão obsceno e tão absurdo que eu sempre me perguntava como éramos irmãos.

- Perdão, Lisa.

Ele indicou um quarto de porta branca e nós entramos. Tinha uma grande janela de vidro e a vista da praia era linda.

- Uau. - Lisa parecia uma criança impressionada.

Tirar o peso da mochila das costas foi a segunda melhor coisa que eu fiz. A primeira foi encontrar Lisa. Lá e naquele momento, eu tinha certeza que eu a queria. Me sentei na cama de casal por dois segundos antes que Lisa mandasse um olhar reprovador na minha direção.

- O que foi?
- E meu suco?
- Ah é, aqui nem deve ter fruta... - Eu me deixei cair na cama, exausto.
- E eu com isso? - Ela jogou um travesseiro na minha direção.
- Você quer que eu faça suco com o que?

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