CAPITULO 34- as the time goes by

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"I think I'm better on my own
But I get so lost in you
I think I'm better on my own
But I'm so obsessed with you
I think I'm better on my own"

Naquele momento, quando Ian cantou a última estrofe com os olhos marejados, eu entendi.
Ian sabia que ela havia fugido novamente. E ele sabia que não havia nada que ele pudesse fazer pra trazê-la de volta.

                            ******
"Gabriel Castelli postou um vídeo depois de algum tempo, venha ver!"
Não, eu não gosto de sofrer. Mas eu sabia que Gabriel não usava a conta do YouTube já tinha muito tempo, então eu quis saber o que era.
E então o vídeo de Ian cantando quebrou o que restava do meu coração.
Um vídeo amador, feito em casa, de um menino loiro de cabelos presos e sem camisa, de olhos bem azuis e com uma lágrima escorrendo pelo olho direito que ele tentava o tempo todo limpar com as costas da mão.
Eu não reconheci a música, então imaginei que fosse original.
Mas ao ver o vídeo pela terceira vez, eu entendi...
"Então fuja de mim, fuja para o lugar mais longe que seus escuros olhos castanhos possam enxergar"
Eu não senti meu corpo bater no chão quando me deixei cair ao lado da cama e apenas chorar. Eu não sentia nada além de uma dor absurda no coração.
Há uma teoria que diz que quando você chora sem motivos, é de tanto choro que você engoliu.
Mas o que acontece quando você junta os motivos antigos com o novo grande motivo é surreal. E eu nunca havia experimentado tal dor.
A dor de saber que algo acabou compete lado a lado com a dor de saber que foi culpa sua. E juntas, elas te destroem aos poucos.
O cabelo bagunçado caia no meu rosto, fazendo minhas lágrimas de cola, grudando em minha pele.
- POR FAVOR, TIRE ISSO DE MIM. - Eu gritava, implorando sem saber a quem.
"É por amor" eu me convenci.
E então eu peguei um papel e uma caneta e comecei a escrever o que seria a amenização daquilo tudo.
"Diário de Quando te Deixei.
Dia 26. Para Ian Castelli.
Nunca sei como começar nada pra você. Nunca sei o que você quer ler, o que gostaria que eu dissesse, ou sequer se quer ouvir qualquer coisa de mim. Provavelmente não, mas você não vai ler isso jamais. É só mais um diário de gaveta, mais uma carta de gaveta, mais um amor pra guardar na gaveta e tentar não abri-la. A mão vai tremer todos os dias, como sempre faz, mas não vou ceder como sempre faço. Não, dessa vez não. Você vai ficar guardado na gaveta com todos os momentos bons e os ruins e eu só vou abri-la num dia de chuva qualquer, quando já tiver me esquecido de você e não tiver nada melhor para fazer. Vou abrir a gaveta e lembrar de todos os sorrisos que me fez dar e me lembrar de quando eu mesma os destrui, levando comigo um pedaço considerável de você. Vou lembrar, com um aperto no coração, do quanto fui sua. Mas você, eu vou deixar na gaveta. Um dia, Ian, eu vou te deixar na gaveta"
"Diário de Quando Te Deixei
Dia 27. Para Ian Castelli.
Hoje é um novo dia. Queria dizer que os sentimentos também são novos mas, jogada no chão de uma cidade pequena nos Estados Unidos, meu rosto está molhado pela segunda vez na semana. Por você. Eu sempre vou ser eu por você.
Sentar aqui trás nostalgia, mesmo sendo tão longe de casa. Da nossa casa. Me lembro de sentar no banco de trás do carro da empresa, com Gabriel dirigindo e batendo no volante e você batendo no banco, cantando alto. Todo mundo estava falando alto aquele dia e eu me lembro de pedir para que parassem. Eles só riam. Deitada no seu braço, pude te ver dali de baixo. Primeiro o queixo, a boca, o nariz, até chegar nos olhos. Olhavam pra frente, mas às vezes olhavam pra mim. Lembro da sensação mais do que me lembro do dia. Foi bom, Ian... Me senti completa naquele dia. Completamente encantada. Completamente sua.
Eu espero que você esteja feliz. Por aqui tá tudo bem também, mas é que às vezes te tiro da gaveta do coração e esqueço de colocar de volta.
Me deixe te guardar de novo, Ian, fica quietinho lá, ok? Não faz barulho não. Deixa eu trabalhar com a mente, não com o coração."
"Diário de Quando Te Deixei
Dia 30. Para Ian Castelli.
Então sim, se essa for a sua pergunta: sim, meu coração ainda bate. Na verdade, ele dispara sempre que me voltam a memória vestígios do que é seu. Cheiro, abraço, olhar, toque, sorriso... Porra! Eu mataria por não ter sobrado apenas um vestígio desse sorriso e sim ele todo, ou nada dele, porque é a merda de uma tortura lembrar do jeito que inclina a cabeça, do jeito que anda, do jeito que me aperta, do jeito que me olhava como se a única coisa do mundo que precisasse fosse ser meu. E talvez, nunca tenha sido nada disso e eu apenas tenha me deixado ser cega, mas eu confiei mais no jeito que você me olhava do que no jeito que eu olhava para as coisas.
Eu sei, você também teve isso: a necessidade de deixar alguém te consumir, te mudar, te revirar até encontrar a mínima das súplicas por um sentimento desconhecido. Você quis que eu te conhecesse. Deixe-me lhe contar um segredo, Ian: eu também quis. Eu quis desde o momento que enxerguei você pela primeira vez. Não apenas vi.
E eu quero agora. Deus, como eu quero você agora."
*****
Quando você finalmente aceita que uma pessoa não te amou, a dor é insuportável.
Quase 10 dias. E eu não sabia nem onde ela estava. E ela não fazia questão de me falar.
E porra, eu sentia falta de Lisa cada dia mais.
- Você nunca vai parar de beber? - Amora perguntou, entrando no meu quarto e retirando as garrafas vazias de cerveja do chão.
- Não até ela voltar.
- Ian, já passou pela sua cabeça que talvez ela nem volte? Quer dizer, já tem mais de uma semana e você não sabe onde ela tá.
- Me admira você, Amora! Ela era no mínimo sua melhor amiga e você parece não estar preocupada. Quase como se você soubesse onde ela está.
- Ian, aprenda comigo: se uma pessoa não me procura, eu também não a procuro. Eu posso viver muito bem apenas com você, Tay e Gabriel. Eu não preciso de alguém que nos abandonou.
- Ela não me abandonou.
- Ok, Ian, provavelmente não mesmo, talvez ela só esteja tirando um tempo pra pensar...eu não sei! O que eu sei é que não aguento mais lavar suas cuecas e tirar suas garrafas de cerveja do chão todos os dias. Você está faltando o trabalho, você está escrevendo músicas melancólicas e não duvido nada que esteja mandando sinal de fumaça pra Lisa todos os dias, então acorda, Ian! Da um jeito na sua vida antes que até eu enjoe.
Amora estava certa. Eu precisava dar um jeito na minha vida.
E então eu decidi bater na porta da única pessoa que saberia onde Lisa estaria.

LISA Where stories live. Discover now