CAPITULO 23- b r o k e

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É incrível como um mês pode passar bem rápido quando você está na merda. Após ter saído da casa de Alice Fantini, exatamente a um mês e cinco dias atras, eu decidi que não abandonaria o Rio de Janeiro. Voltei para a casa de Gabriel e ele me aceitou de volta sem muita cerimônia. É o que se ganha por ter irmãos.
- Ian! - Ele socou a porta, gritando. - Essa sua barba já tá fazendo aniversário e eu preciso sair pra beber hoje. Se você vier comigo, faça ela!
Era o que nós fazíamos. Saímos e bebíamos. Até um dos dois perder a noção do tempo e do espaço, então voltávamos pra casa e dormíamos.
- Por que você precisa sair hoje? - Abri a porta, perguntando.
- Eu e Diana faríamos algum tempo de noivado hoje.
- Deus... você ainda não superou?
- Já se olhou no espelho, Ian?
- Eu e Lisa não íamos nos casar.
- E ainda assim você tá nesse lixo por causa dela. Deus, Ian, aquela caixa de pizza embaixo da cama ainda tá aí? Porque esse quarto tá podre...ou é você mesmo?
- Vai se fuder. - Eu bati a porta na cara dele.
A verdade é que eu não tinha vontade de fazer muita coisa. Não porque eu tinha perdido Lisa, mas porque por causa dela, eu tinha perdido o sentido.
Eu me lembrava daqueles olhos todos os dias. Eu queria vê-la, eu queria senti-la, eu queria...Porra, eu precisava dela.
Mas eu não a teria de volta. Então o mais fácil era levantar, colocar uma roupa e ir aumentar a conta no bar da esquina. Foda-se, eu sempre conhecia alguma garota bonita pra pegar naquele bar. Era mais fácil.
- Olha só quem saiu da caverna!! - Um dos amigos de Gabriel resolveu que era interessante abrir a boca. - Fez até a barba, tá afim de dar trabalho hoje?
- Hitalo, por que você não fica quieto nunca? Você, provavelmente, é o maior arrependimento da sua mãe.
- Alguém está bravinha... - Ele revidou.
- É, a sua mãe porque eu esqueci de comprar camisinha ontem e não pude dar um trato nela.
- Vai se fuder, Ian.
- Depois de você.
- As madames já pararam de lavar roupa suja ou devo esperar mais alguns minutos para ir encher a cara? - Gabriel perguntou, abrindo a porta do apartamento.
- Vamos pra essa merda. - Hitalo disse.
O bar estava lotado, era sexta feira, mas nos sentamos na nossa mesa de sempre, aquele lugar já havia sido patenteado pelos Irmãos Castelli. Dois bêbados babacas que davam dor de cabeça, mas também davam dinheiro para os donos do bar. Pedimos nossas cervejas de entrada e começamos a conversar. Gabriel e Hitalo nunca falavam nada de interessante, então eu resolvi pegar meu celular, mas alguns segundos depois Hitalo resolveu lembrar ao mundo o quanto ele era um filho da puta estudado.
- Quem é a gostosa? - Ele tirou meu celular da minha mão, encarando a garota da foto. Meu irmão puxou dele.
- Deus, irmãozinho...você seguiu ela no Instagram?
- Qual é, Gabriel... me devolve.
- Só se parar de seguir ela.
- Quem é ela? - Hitalo perguntou.
- O grande amor da vida de Ian.
- Não, não é a senhora sua mãe, Hitalo, vê se não conta pra ela que estou traindo a coitada. - Provoquei.
- Você é a merda de um babaca. Me dá isso aqui. - Hitalo pegou meu celular da mão de Gabriel, clicando em "deixar de seguir" no perfil de Lisa.
- Filho da puta! - Eu puxei meu celular dele, mas as fotos dela já não apareciam mais, seu perfil era privado.
- Eu te poupei de uma depressão, amiguinho, você deveria estar me agradecendo.

                               ****
- Você consegue acreditar que depois de um mês Ian ainda lembra que eu existo? - Comentei com Alice enquanto saíamos da sala da faculdade. - Olha isso! - Mostrei pra ela a notificação do meu celular.
- "Ian Castelli deixou de seguir de você." - Ela leu em voz alta - Ah, amiga...talvez ele só tenha superado.
- Precisava me dar unfollow?
- Claro, né, Lisa? Você deu unfollow no coitado na primeira semana do fim de vocês! Ele só está se ajudando.
- Será que ele...
- Não, Lisa. - Ela me interrompeu. - Nós não vamos entrar de novo no assunto "Ian Castelli deve estar se remoendo de saudade de você".
- Mas, Alice... e se ele realmente estiver? Ele gostava de mim.
- Isso aí é problema dele! Eu já tenho que lidar com seu chororô, não me faça ter que lidar com mais um. Vocês terminaram, que pena, foi bom enquanto durou, agora passou! Fique feliz porque aconteceu ao invés de ficar borrando rímel porque acabou.
Eu respirei fundo, Alice já estava cansada do problemão que tinha sido Ian Castelli na minha vida.
- Eu preciso de uma bebida.
- Essa é a minha Lisa! O que acha de irmos naquele barzinho alternativo em Ipanema? Eu realmente sinto falta daquela bebida de abacate que tem lá...
- Até eu fiquei com vontade! Peça o uber.

                              *****
Umas dez cervejas e uns dois copos de vodka depois, eu precisei ir ao banheiro.
- Porra, de novo? Tu é mó bixiguinha ein, Ian.
- Hitalo, eu já te mandei a merda hoje?
- Já, brother.
- Então vai de novo.
Me levantei e fui a caminho do banheiro. Quando trombei numa garota bonita, precisei piscar meus olhos três vezes para ver se era ela mesma.
- Alice?
Ela arregalou os grandes olhos verdes.
- Não, você está sonhando, você está bêbado.
Alice saiu correndo e eu tentei segurar seu braço, mas havia muito álcool no meu sangue pra que eu sequer conseguisse planejar um movimento correto. Acabei batendo com a mão na barriga do segurança, que não gostou muito.
- Deixe a moça em paz, colega.
- Eu só... ALICE! - Gritei.
- Não vou pedir novamente. - O segurança me empurrou em direção ao banheiro.

                              *****
- Você tá bem? - Perguntei a Alice, que parecia ter visto um fantasma.
- Estou, eu só... Você não acha melhor irmos pra outro lugar?
- Mas foi você que quis vir aqui.
- Eu sei, eu só...aqui tá muito cheio e eu tô começando a ficar com falta de ar.
Como Alice tem crise do pânico, não hesitei em me levantar da cadeira pra irmos embora.
- Obrigada. - Ela falou.
- Tá tudo bem. Vamos pelo caminho do banheiro, é mais perto da saída.
- Não! - Ela aumentou o tom de voz, me fazendo franzir a testa. - Lá tem muito homem, e eles são grandes e eles ocupam mais espaços e...
- Entendi - Dei uma risada - Vamos pelo bar mesmo.
Ela assentiu com a cabeça e pedimos um táxi para Copacabana. Por lá tinha um barzinho mais tranquilo que me livraria da sensação estranha que Ipanema me causava. Ipanema me lembrava a casa de Gabriel. E eu não queria me lembrar do apartamento de paredes azuis que Ian me levou da primeira vez que nos vimos.

                              *****
Eu devo ter apagado no banheiro, porque quando acordei estava em casa e com uma dor de cabeça do inferno. Me levantei pra ir atras de um remédio na cozinha e encontrei um Gabriel sentado no chão.
- Merda, você me assustou. - Falei.
- Foi mal. - Percebi pela voz dele que meu irmão estava chorando, então me sentei ao seu lado.
- Diana?
- Velho, será que isso nunca vai passar? Quer dizer, já faz tanto tempo... e eu ainda sinto falta daquela desgraçada.
- Eu sinto falta de Lisa como se tivesse perdido uma parte de mim.
- Essas duas deveriam ir para o inferno.
- Provavelmente irão. Mas na boa, Gabriel, você não acha que tá na hora de sei lá, se reinventar? Vende esse apartamento, guarda a grana, vai viajar...
- Eu não sou você.
- Mas pode te ajudar também, brother. Não da pra ficar nessa, daqui a pouco você tem 30 anos.
- Valeu o lembrete, filho da puta.
- Somos filhos da mesma mãe.
Ele se levantou, mas parou quando perguntei.
- Gabriel, você por acaso viu uma garota de cabelos cacheados hoje?
- Meu irmão, eu vi várias.
- Não...ela é especial. Ela é quase negra, baixinha, tem os olhos bem verdes, certeza que não viu?
- Um mulherão desses? Eu teria reparado. Se você encontrar, me apresenta.
Tomei o remédio e voltei pro quarto, me deitando pra dormir e tentando me convencer de que não, eu não tinha visto a melhor amiga de Lisa. Eu só estava muito bêbado e com saudade daqueles olhos castanhos.

LISA Where stories live. Discover now