Vol. 18

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Os bramidos tomaram todo aquele espaço. Silhuetas surgiam por todos os lados no horizonte. As feras começaram a avançar. Precisávamos entrar na grande torre e para isso, alguém deveria atrasar a chegada dos lupinos.

— Não pare! Entre na torre! — Vociferei enquanto alvejava o grupo com as automáticas.

Damra, mesmo hesitante, sabia que eu estava certo. Começou a escalar as grandes correntes. Ao mesmo tempo em que disparava, retrocedia, me aproximando dos grilhões. Os projéteis não matariam as feras, mas me dariam o tempo necessário para iniciar minha fuga.

Uma das automáticas ficou sem munição e a descartei. Enquanto iniciava minha subida, descarregava o pente da outra Uzi. Por mais que meus tiros tivessem uma pequena margem de erro, o avanço continuava e a cada instante, se mostravam mais ameaçadores.

O pente da segunda automática acabou. Não havia tempo para lamentações. A joguei fora e comecei a subida. Me valia da destreza recém-adquirida para saltar, seguido dos lobos. Damra havia vencido o último elo da grande corrente, desaparecendo no interior da torre. Olhei brevemente sobre o ombro e o grupo subia velozmente. Poucos metros nos separavam.

Um dos lupinos saltou sobre mim. Por sorte suas garras não rasgaram minha perna. A fricção com as correstes soltou fagulhas ao ar. O grande animal aproximava-se freneticamente e não haveria erro em sua nova tentativa. Preparou-se para mais um salto. Recolheu-se para projetar o seu corpo, mas antes de fazê-lo, Mason desceu como uma seta, invadindo o seu corpo. O salto foi contido e a fera começou a se debater. Uma disputa espectral ocorria em seu interior. As demais criaturas se aproximavam e subitamente a fera me encarou, havia um certo descontrole no olhar, como se aquele movimento tivesse lhe custado um esforço descomunal.

— SAIA DAQUI... AGORA! — A criatura berrou, mas deu para perceber uma mescla de vozes, aquela ordem foi dada pelo ex-agente Mason.

Imediatamente retomei a escalada. Mason, valendo-se do corpo do lupino, avançou contra o grupo que vinha mais recuado. Uma peleja iniciou-se sobre os grandes elos da corrente. Mason sabia como usar suas novas vocações. Sua disciplina em aprender não ficou restrita à sua vida mortal. Ele a manteve no pós vida.

Damra me aguardava, ainda assustada com o tamanho da estrutura que acabamos de invadir.

— Onde está o Mason?

— Ele ficou nos dando cobertura. — Falei enquanto tomava a frente. Precisaríamos nos adiantar, certo de que Mason não conseguiria conter por muito tempo os lupinos. — Não podemos ficar por aqui. — Concluí.

— Estou captando a presença do meu pai. Ela é fraca. Precisamos agir com rapidez, sua existência está por um fio.

Começamos a correr, seguindo os instintos de Damra. A estrutura possuía paredes altas, lisas em um tom cinza escuro. Grandes tochas iluminavam os extensos corredores. Mesmo com as piras crepitando, a luminosidade era débil. As chamas bruxuleantes criavam sombras que aos olhos dos desavisados, pareciam criaturas ameaçadoras. O nível de tensão aumentava a cada metro percorrido.

Depois de um determinado momento, não dava mais para saber onde começava e terminava aquele corredor. A sensação de claustrofobia aumentava, e a noção de espaço se perdia no mesmo ritmo. Não havia ruídos, apenas o som de nossos passos. O corredor havia chegado ao limite, e adentramos uma câmara. Não havia teto aparente, mas dava para ver ao longe o que pareciam ser vitrais. A luz que invadia a torre tremeluzia, indicando que as labaredas do lado de fora estavam explodindo em um ritmo acelerado.

A câmara era um quadrado perfeito e ao fundo, uma saída. Nos dirigimos até lá. Antes que pudéssemos adentrar o passadiço ouvimos três batidas secas no piso. Meus músculos se enrijeceram, quando aquele som invadiu meus ouvidos. Olhei sobre os ombros e pude ver à distância Carmelo, mais conhecido como Mulato. Estava só, apoiando suas mãos sobre a empunhadura da bengala. A típica flor arroxeada adornava a lapela de seu terno.

Sem pensar duas vezes ignorei Damra e a busca por Kalisto, indo ao encontro do testa de ferro de Hanna. Não tinha mais as automáticas, mas havia uma arma, que pertenceu a um dos meliantes do metrô. A revelei apontando em direção à Carmelo.

Um sorriso torto inundou sua face. Aquele impasse se repetia, mas desta vez, ele teria uma surpresa.

TRAGO (2017) - LIVRO (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora