Vol. 8

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"Ele está despertando..."

Não reconhecia esta voz, que aos meus ouvidos, ainda se encontrava distante e abafada. Na verdade, estava difícil de abrir os olhos e mover os meus músculos. Tudo parecia pesado demais, como se eu estivesse sob o efeito de uma gravidade acima do natural. Tentava a todo custo me mexer, mas algo impedia.

Estava letárgico, como se estivesse sob efeito de algum tipo de entorpecente. Tentei falar algo, mas não conseguia abrir a boca, nem tampouco abrir os olhos.

"Ela precisa saber, vá chama-la! "

Consegui movimentar as extremidades do corpo. Aos poucos comecei a sentir os pés e as mãos. As pernas vieram logo em seguida. Meus lábios ficaram trêmulos e aos poucos começava a tomar o controle sobre o meu corpo. Minhas pálpebras se moviam, ainda rebeldes, abriam e fechavam velozmente, diminuindo gradativamente seu movimento. A luz foi penetrando em meus olhos até a escuridão dar lugar a uma visão embaçada. Podia ver silhuetas bem próximas, sem identificar nada nem ninguém. Tentei levar as mãos aos olhos, mas não consegui.

Aos poucos comecei a balbuciar algumas palavras.

— Car-me-lo... — O nome saiu com bastante dificuldade, mas a figura que se encontrava diante de mim esboçou um sorriso, talvez por ter conseguido ouvir o que acabei de falar.

Minha visão finalmente voltou ao normal, e aqueles olhos cor de âmbar eram inconfundíveis. Sua aparência havia mudado, mantendo sua forma humana. A fera estava adormecida.

— Até que enfim, despertou! — Falou com satisfação.

Ainda estava um pouco perdido. Minhas memórias estavam embaralhadas e ao tentar me mover, senti uma forte dor. Fui ferido fortemente, mas apesar das dores, ao tocar ligeiramente em minhas costas, o ferimento não estava lá. Olhei para a figura a minha frente que tentava manter o semblante amigável.

Com algum esforço, consegui me sentar.

— Sinto sede... — Pronunciei ainda fazendo um certo esforço.

— Ele está vindo e poderá te fazer entender... — Falou a figura — Meu nome é Uzoh! Fiz questão de permanecer por perto para agradecer sua ajuda durante a luta. Nunca vi um humano lutando daquele jeito.

Esbocei um discreto sorriso, fazendo uma pequena careta logo em seguida, reflexo do meu esforço para ficar de pé.

— Onde estou?

— Você está seguro... Respondeu Uzoh, com certa insegurança.

— Preciso sair daqui! — Elevei a voz.

— Acalme-se!

Ainda tentando me equilibrar, arrisquei alguns passos tentando chegar a porta. Uzoh se colocou à minha frente bloqueando a saída.

— Não faça nada precipitado, ele está chegando para ajudá-lo.

— Você se refere ao Carmelo?!

Recuei alguns passos tentando me distanciar de Uzoh. Meus olhos percorreram com rapidez todo aquele espaço, até avistar uma janela. Sem pensar, fui em sua direção, na tentativa desesperada de fugir dali. Uzoh tentou me impedir sem sucesso. As janelas de madeira possuíam uma tranca que foi facilmente aberta e ao escancará-la fiquei estático com o que vi.

A cidade estava sob um céu avermelhado, com nuvens inquietas e escuras. Criaturas infinitas sobrevoavam os limites da cidade. Seres alados que mais pareciam anjos voavam livremente sob nossas cabeças. Relampados saltavam entre as nuvens e o ar estava pesado com o forte odor de enxofre.

TRAGO (2017) - LIVRO (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora