Vol. 7

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Fui tomado por uma perplexidade fora do comum, ao vislumbrar aquelas inúmeras flores roxas.

— São lindas, não? — Tia Beth elogiou o arranjo, me retirando do transe.

— Sim... Apesar de serem mais intrigantes do que lindas... — Respondi, ainda meio perdido.

— O que você está dizendo? — Tia Beth respondeu sorrindo e simulando um abraço em suas flores. — Não existem flores mais lindas na natureza!

— Por que o interesse pelo roxo? Uma cor bastante peculiar, não acha? — Aproveitei o momento para tentar colher alguma pista.

Tia Beth parou de sorrir, um breve silêncio formou-se naquela pequena sala. Seus olhos passearam pela extensão de sua casa e repousaram em mim. Por alguns segundos senti algo de profundo em seu olhar. Por algum momento, imaginei estar diante de outra pessoa.

— Tia?

— Agora eu que me distraí... me desculpe Rick.

Em meio a pouca luminosidade presente naquele espaço, algo me chamou a atenção, a sombra da Tia Beth estava em desacordo com a sua posição em relação ao facho de luz. O que já era estranho, se tornou improvável quando a sombra retrocedeu, ficando onde deveria estar, mas como se a luz está fixa?

— Não há nada mais místico neste mundo do que a cor roxa ou púrpura, como queira chamar. — Ela começou a se mover e meus olhos acompanhavam sua sombra. — Nada é o que parece ser, e esta flor nos passa esse significado. — Neste momento ela pinçou uma das flores do vaso e a levou para perto de seu rosto, a fim de sentir o seu aroma. — Nos proporciona a purificação do corpo e da mente e a libertação dos nossos medos e inquietações. Esta é a cor da transformação.

Nunca a vi falando daquele jeito. Sua expressão havia mudado, tornando-se mais séria e introspectiva, muito distante de sua alegria natural. Deixei de prestar atenção a sombra e passei a olhar o vazio, pensativo. As palavras que ouvi mexeram comigo. Nada é o que parece ser...

— Me diga, Rick, o que o trouxe até minha casa, em uma hora dessas?

Despertei de um hiato. Tentando me reencontrar, não percebi que a Tia Beth havia deixado a sala e retornado segurando uma bandeja com xícaras de chá.

— Estou com problemas, e achei que aqui estaria seguro...

— Você não está seguro? — Falou me lançando novamente aquele olhar.

— Estou... Eu acho... — Senti uma leve tontura — Que cheiro é este?

— Deve ser o chá, beba, fará bem.

Peguei a xícara e bebi uma parte. O sabor era bom e me senti realmente mais relaxado.

— Esta flor tem uma série de propriedades e uma delas é o chá. — Tia Beth sorriu enquanto bebia sua porção.

Ao saber disso, instintivamente soltei a xícara que desastradamente quebrou-se no chão.

— Me desculpe!

— Tudo bem, acidentes acontecem...

— Não estou me sentindo bem... Minha visão está turva... Acho que...

— Acho que você precisa descansar...

Meus ouvidos captaram sua voz, distanciando-se até se perder no silêncio.

TRAGO (2017) - LIVRO (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora