Vol. 5

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Não consegui pregar os olhos, pensando no que havia acontecido.

A morte do agente Mason havia mexido comigo, ainda mais sob aquelas circunstâncias. A esta altura a polícia já sabia da morte do jovem agente, a balística confirmaria a origem do disparo e o meu rosto estará nos principais jornais como suspeito número um deste crime.

O primeiro lugar a ser visitado pelas autoridades seria a minha casa. Desta forma, permaneci na parte antiga de Parallel, longe dos holofotes, neste pequeno hotel, se é que posso chamar isso de hotel. Ninguém se preocuparia com a minha cara, aqui entra qualquer um.

Caminhei rumo a estreita janela vertical, o vidro, antigo, encontrava-se embaçado e com alguns arranhões, mesmo assim dava para ver alguma coisa do lado de fora. Mason não merecia um destino como aquele. Esta cidade precisava de agentes como ele, que ainda tinham algum tipo de no sistema.

A flor roxa repousava em meu bolso. A retirei e mantive minha atenção nela por algum tempo. Ela pertencia ao mulato, mas porque ele haveria de me proteger?

10:30h AM

Peguei o telefone e liguei para a recepção. Depois de insistentes toques a recepcionista atendeu. Pedi o jornal do dia que foi deixado em minha porta. A notícia estava na primeira página. A matéria não mencionava suspeitos, para a minha surpresa, mas informou que o oficial havia morrido durante o cumprimento de seu dever e que o seu enterro seguiria os ritos oficiais.

Uma matéria evasiva. A polícia não denunciaria que o agente morreu sob fogo amigo. Manteriam o caso na encolha. O departamento não mancharia sua reputação.

Me entrego? Não.

Como explicar as razões que levaram o agente à morte? Não saberia explicar sem parecer um louco. Continuaria foragido, investigando por conta própria o caso. Desta forma poderia provar minha inocência e encontrar as respostas que tanto procuro.

O enterro foi marcado para às 14:00h no cemitério da cidade. Não poderia deixar de prestar minha última homenagem ao garoto...

Um temporal desabou sobre Parallel. Os relâmpagos, rebeldes, deslizavam no céu iluminando o dia que mais parecia noite. Me mantive a distância, entre as árvores, evitando possíveis olhares. Ao redor do caixão, parentes e oficiais, devidamente protegidos com suas capotas e guarda-chuvas pretos.

Nunca fui de fazer orações. Para falar a verdade, confiava mais na minha pistola do que nas preces. Contrariando a mim mesmo, pedi para que a alma do agente encontrasse o seu devido caminho além deste mundo. A minha, nem com o papa intercedendo. O inferno aguardava ansiosamente a minha chegada. O Diabo terá que esperar, porque irei dificultar as coisas para ele.

Uma vez que a polícia estava prestando sua derradeira homenagem ao jovem agente, acreditei ser este o melhor momento para voltar a minha casa.

Não havia policiamento nas imediações onde morava, o que facilitaria bastante as coisas para mim, mas ao mesmo tempo deixava uma grande pulga atrás de minha orelha.

Fácil demais...

Subi os andares pela escada de incêndio, na tentativa de me manter furtivo e longe dos olhares. A janela do apartamento estava aberta, o que me fez pensar se a havia deixado daquela forma quando saí do apartamento pela última vez.

Entrei com facilidade e aproveitei para trocar de roupa. Estava sentindo falta de roupas limpas. Também precisaria de mais munição e para isso, deveria deixar o meu quarto e me dirigi para a sala. Assim que adentrei a sala dei de cara com o comissário.

TRAGO (2017) - LIVRO (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora