Vol. 11

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Minhas mãos procuravam a todo o momento algo que pudesse me impedir de ser arrastado. As extremidades dos dedos começavam a sentir os efeitos de tamanho esforço e filetes de sangue formavam contornos distorcidos no solo. Vishal distanciava-se de mim e seu corpo continuava inerte. Virei-me na tentativa de me defender. Usei as pernas de maneira atabalhoada para me livrar.

Me ergui rapidamente tentando afastar-me da turba, que aumentava o seu contingente a cada instante. Não havia muito o que fazer a não ser recuar enquanto era cercado. Se quisessem me matar já o teriam feito, mas ao invés disso, tentavam impedir minha fuga, diminuindo os espaços.

As criaturas mantinham suas posições, como se estivessem à espera de alguém. Minhas atenções se dividiam entre a turba e o filho de Hanna, que mais ao longe, continuava inerte. Meus olhos tentavam encontrar uma brecha entre os que me cercavam, e aproveitando uma combinação involuntária de movimentos pude ver o corpo de Vishal, tombar para a frente. O som de seu corpo encontrando a superfície daquela câmara chamou a atenção das criaturas que estavam mais recuadas. Como uma reação em cadeia, todos pararam de me vigiar e voltaram suas atenções para o corpo que estava, agora, deitado no chão.

Um breve silêncio tomou conta de todos. Algo dentro de mim ascendia, indicando que Vishal estava vivo e começava a reagir. Já não era sem tempo. O corpo, antes inerte, começou a se mover, discretamente, tentando tatear o solo, como se estivesse à procura de algo. De sua boca saíam discretos murmúrios que chegavam aos nossos ouvidos sem significado.

Vishal se movia lentamente, mas a cada segundo sua força retornava, podia sentir o seu poder. Sua libertação fazia parte do meu objetivo neste local, mas o que poderia acontecer quando ele voltasse a sua razão? Tomado por um acesso de tosse, expeliu bastante líquido, fruto de sua ingestão dentro do casulo de animação. Subitamente ergueu parte do corpo e ainda de joelhos emitiu um enorme grito que ecoou por todo aquele plano. As criaturas recuaram diante de tamanho ardor.

— KALISTO!!! — Gritou o mais alto que pode o nome de seu irmão e também raptor.

As criaturas se entreolharam me ignorar provisoriamente. Vishal levantou-se, e ainda trôpego os encarou.

— Onde está o seu senhor, criaturas vis! Tenho assuntos urgentes para tratar. — Falou, enquanto arfava.

As criaturas avançaram em sua direção. Mesmo enfraquecido Vishal possuía um poder incrível que aumentava a cada instante. Com um movimento rápido rebateu a primeira investida. Outros avançaram contra ele, que manteve sua posição defensiva, se esquivando e contra-atacando. Algo nele estava mudando. O fluxo de energia aumentou progressivamente, o seu corpo começou a mudar. Seus membros começaram a alongar, assim como suas extremidades. Grandes garras surgiram em seguida. Mesmo em plena mutação conseguia se opor as criaturas que tentavam acometer contra ele. Seu rosto se alongou e enormes presas saltavam-lhe a boca, revelando uma mandíbula poderosa.

Sua forma humana foi dando espaço para o animal feroz que existia dentro de si. Seu corpo foi coberto por uma expeça pelagem acinzentada. O seu olhar era penetrante. Vishal havia se transformado integralmente. Um grande uivo selou sua mutação. Ele estava devidamente pronto para o enfrentamento.

Apoiando-se sobre os quatro membros, iniciou uma corrida que culminou com o choque contra a parede de vampiros. A força do gigantesco lobo cinza varreu o paredão que tentava se reagrupar. A cada patada, várias criaturas eram limadas. Vishal lutava bravamente, dizimando seus inimigos, uma a um. Mesmo com a diferença numérica a força bruta superava tamanha desvantagem. Algumas criaturas deixavam o local em uma fuga desesperada. Remanescentes tentaram uma última e desesperada investida, mas Vishal, tomado pela fúria avançou dilacerando com suas garras aqueles que ousaram se opor.

TRAGO (2017) - LIVRO (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora