Vol. 9

44 8 6
                                    

Meus olhos lacrimejaram em contato com o ar, pesado e impregnado pelo enxofre. Minha pele ardia devido ao forte calor. Os relâmpagos rasgavam o céu rúbeo com violência. O ser alado parecia não se preocupar com os incontáveis raios que desciam do céu, castigando a cidade lá embaixo.

Estávamos sobrevoando os limites de Parallel, indo ao encontro da cidade fronteiriça. Recebi um olhar e a figura apontou para baixo. Começamos uma descida veloz até pousarmos sobre uma área plana.

Meus pés enfim tocaram algo sólido. A criatura estava adiante. Acabara de comprimir suas asas voltando a aparência de uma capa negra. Nossos olhares se cruzaram por um breve instante.

— Que lugar é este? Que cidade é esta? Quem é você de fato? — Falei ofegante.

— Quantas perguntas... — Respondeu reticente enquanto andava em minha direção.

Recuei, mantendo o olhar fixo. Saberia me defender de qualquer investida.

— Não tenha medo, sou eu, Tia Beth.

— Com pode ser a Tia Beth com*

— Com esta aparência? — A figura elevou sua voz, o que me fez desviar o olhar.

— Prometi explicações, não é mesmo? Afinal de contas, você anseia por respostas.

— Que lugar é este? — Insisti.

— Estamos na borda do inferno. — Falou secamente.

Aquela revelação foi surpreendente. Demorou um pouco para cair a ficha.

— Esta é a Cidade Escarlate, a cidade mais distante do Grande Lago e também a mais perto do plano físico. Vivo aqui, este é o meu lar. — Enquanto falava, abriu os braços em direção ao horizonte em chamas.

Desviei o olhar, vislumbrando o cenário assustador.

— Isso é tudo muito louco... até um dia desses eu era um homem comum... agora me encontro, morto ou quase isso, conversando com uma diaba!

— Para falar a verdade, sou um anjo... condenada, mas minha essência é angelical.

— Os anjos que conhecemos são um pouco diferentes... — Completei, deixando a figura desconcertada.

A criatura caminhou, me circundando. Seus passos eram delicados.

— Vivemos nesta cidade, fundada logo após a queda.

— Queda?

— Sim... a queda de Lúcifer, o primeiro querubim.

— Você diz, aquele? — Perguntei fazendo o gesto de chifrinhos na cabeça.

— Folcloricamente sim. — A figura sorriu quase que infantilmente.

A esta altura minha cabeça explodia. Tudo parecia surreal demais para acreditar

— Onde está o meu corpo? — Perguntei ansioso.

A figura caminhou me encarando simultaneamente. Sua silhueta enfeitiçava o olhar e acreditei que isso fazia parte de algum encantamento.

— Estamos em uma missão Rick. — Falou, ignorando minha pergunta. Seu tom de voz ficou sério e sua aparência havia mudado, tornando-se mais austera.

— Missão? Que tipo de missão?

— De resgate.

— O que eu tenho a ver com tudo isso?

TRAGO (2017) - LIVRO (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora