Meus olhos lacrimejaram em contato com o ar, pesado e impregnado pelo enxofre. Minha pele ardia devido ao forte calor. Os relâmpagos rasgavam o céu rúbeo com violência. O ser alado parecia não se preocupar com os incontáveis raios que desciam do céu, castigando a cidade lá embaixo.
Estávamos sobrevoando os limites de Parallel, indo ao encontro da cidade fronteiriça. Recebi um olhar e a figura apontou para baixo. Começamos uma descida veloz até pousarmos sobre uma área plana.
Meus pés enfim tocaram algo sólido. A criatura estava adiante. Acabara de comprimir suas asas voltando a aparência de uma capa negra. Nossos olhares se cruzaram por um breve instante.
— Que lugar é este? Que cidade é esta? Quem é você de fato? — Falei ofegante.
— Quantas perguntas... — Respondeu reticente enquanto andava em minha direção.
Recuei, mantendo o olhar fixo. Saberia me defender de qualquer investida.
— Não tenha medo, sou eu, Tia Beth.
— Com pode ser a Tia Beth com*
— Com esta aparência? — A figura elevou sua voz, o que me fez desviar o olhar.
— Prometi explicações, não é mesmo? Afinal de contas, você anseia por respostas.
— Que lugar é este? — Insisti.
— Estamos na borda do inferno. — Falou secamente.
Aquela revelação foi surpreendente. Demorou um pouco para cair a ficha.
— Esta é a Cidade Escarlate, a cidade mais distante do Grande Lago e também a mais perto do plano físico. Vivo aqui, este é o meu lar. — Enquanto falava, abriu os braços em direção ao horizonte em chamas.
Desviei o olhar, vislumbrando o cenário assustador.
— Isso é tudo muito louco... até um dia desses eu era um homem comum... agora me encontro, morto ou quase isso, conversando com uma diaba!
— Para falar a verdade, sou um anjo... condenada, mas minha essência é angelical.
— Os anjos que conhecemos são um pouco diferentes... — Completei, deixando a figura desconcertada.
A criatura caminhou, me circundando. Seus passos eram delicados.
— Vivemos nesta cidade, fundada logo após a queda.
— Queda?
— Sim... a queda de Lúcifer, o primeiro querubim.
— Você diz, aquele? — Perguntei fazendo o gesto de chifrinhos na cabeça.
— Folcloricamente sim. — A figura sorriu quase que infantilmente.
A esta altura minha cabeça explodia. Tudo parecia surreal demais para acreditar
— Onde está o meu corpo? — Perguntei ansioso.
A figura caminhou me encarando simultaneamente. Sua silhueta enfeitiçava o olhar e acreditei que isso fazia parte de algum encantamento.
— Estamos em uma missão Rick. — Falou, ignorando minha pergunta. Seu tom de voz ficou sério e sua aparência havia mudado, tornando-se mais austera.
— Missão? Que tipo de missão?
— De resgate.
— O que eu tenho a ver com tudo isso?
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TRAGO (2017) - LIVRO (COMPLETO)
FantasyBem-vindos à Parallel, uma cidade decadente. Cinzenta, seus arranha-céus são constantemente abraçados por espessas nuvens, que despejam sobre seus habitantes recorrentes chuvas. Em meio a seu agonizante cotidiano, Rick, um policial amargurado tent...