- Na cabine do capitão - Stefan respondeu e eu agradeci. Dei alguns passos e quando estava quase chegando, uma porta anterior se abre e o assunto de anteriormente surge, com toda sua estatura e beleza, seus cabelos úmidos e seus olhos mais azuis do que nunca. 

- Luciana - falou cortesmente e acenou com a cabeça.

- William - respondi e mordi o canto da boca, desconfortável - é, quero lhe agradecer pela noite anterior, você salvou a minha vida. 

- Não há de que, eu apenas estava no lugar certo, na hora certa - disse como se isso não fosse grande coisa, mas para mim com certeza era. 

- Obrigada novamente - e com isso avancei até chegar na cabine ao lado. Bati na porta e a voz de Julian soou dizendo para que eu entrasse. 

- Como você está, Lucy? - Julian perguntou, pulando da cadeira e vindo me analisar, genuinamente preocupado.

- Eu estou bem, apenas ralei o braço e tenho a leve impressão de que bati a cabeça.

- Você nos deu um baita susto.- Desculpem-me - fiz beicinho como uma criança e eles riram.

- Apenas não faça isso novamente - Diana falou e bateu no sofá para que eu me sentasse. Depois de algum tempo ali, uma batida soou e um dos marujos colocou a cabeça para dentro.

- Chegamos, capitão.

- Obrigado - Julian agradeceu, o homem assentiu com a cabeça e saiu.

 - Ain - reclamei e levei minha cabeça para as mãos, apoiando os cotovelos em minhas coxas.

- Ei, não é tão ruim - Diana tentou amenizar a situação, esfregando as mãos em meus ombros.

- Se não fosse, não estaria me pedindo para ficar - respondi e coloquei-me de pé. Me despedi de todos ali no navio, e quando chegou a hora de fazer o mesmo com o homem de cabelos áureos encostado na borda do navio, meu coração apertou um pouco. Essa provavelmente seria a última vez que eu o veria. Logo estávamos em frente à mansão Westwick. 

- Sabe que nossos pais falarão em nossos ouvidos até o resto de nossas vidas não é? - resmunguei e Diana apenas assentiu. 

- Então é aqui que nos despedimos - Julian disse, suas mãos enfiadas nos bolsos de seu jeans. Nos abraçamos e quando ele abraçou Diana, ficaram mais tempo do que o necessário. Com certeza tinha algo ai, mas nenhum admitia. 

- O navio já está partindo? - perguntei.

- Não, vamos dar uma parada por algumas horas, dar uma descansada. - ele respondeu - Virei visita-las algumas vezes, tudo bem?

- Claro que sim, não estará apenas se não vier, então será um homem morto - ameacei e o abracei novamente. 

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- Vocês não possuem nenhum pingo de bom senso - minha mãe gritava desorientada - seu pai está tendo um ataque. Querem mata-lo?

- Não mãe, é só... - Diana começou mas foi interrompida pela fúria Hamiltom.

- Estão enlouquecendo, isso é o que está acontecendo - continuou, andando de um lado para o outro como um animal enjaulado - você, Luciana, deveria ser a mais responsável, é a mais velha. Porém, foi a primeira a sumir por ai, deixando-nos uma preocupação terrível. Causou-me uma dolorosa enxaqueca, tanto o sumiço de vocês, como o falatório de seu pai sobre o pacto que ser com o senhor Philips. 

- Essa é a questão mamãe, não posso me casar com ele - respondi, atordoada - não o amo.

- Aprenderá a fazê-lo com o tempo, Luciana, o importante é que se case e...

- Tenha herdeiros, o nome da família não pode morrer comigo - Túlio Hamilton exclamou, exasperado, enquanto descia a escadaria principal da casa. 

- Esse é o motivo para estar obrigando-me a casar com um homem odioso e totalmente pomposo? - perguntei - Isso é um ultraje. E ainda tenho muitos anos para formar uma família, não estamos no século dezoito ou menos, quando 23 anos já estava velha, passada de se casar.

- Não me importa - disse meu pai veemente - fiz um trato com a família de Michael e é com ele que se casará. Pode fugir o tanto que quiser, apenas estará prolongando o inevitável. 

- Então fugirei sempre que puder - bradei.

- A próxima vez que o fizer, a localizarei e a trancafiarei até o dia do seu casamento - esbravejou e com isso coloquei-me a fugir para meu quarto. 

Eu não facilitaria a vida do meu pai, honestamente, faria tudo para dificulta-la. Olhei para o relógio sobre a cabeceira de minha cama, uni mais alguns pertences aos que estava em minha mala e, entre lágrimas, escrevi uma carta rapidamente para Diana, explicando os motivos que teria que sumir mais uma última vez, prolongar o dia do maldito casamento ou os cortejos de meu odioso "noivo". Deixei a carta no quarto de Diana, que continuava na sala com nossos pais, voltei para o meu, tranquei a porta por dentro, pulei a janela com uma dificuldade enorme, afinal o quarto ficava no segundo andar. 

Esfolei o braço novamente, mas não me importei com isso, suspirei aliviada quando eu consegui passar pelos guardas sonolentos no portão e estava livre. Eu precisava de algo forte, então comprei uma garrafa de tequila, a primeira bebida que havia tragado em minha vida, e corri para alcançar o navio e entrar clandestinamente. Quando alcancei a gigante embarcação, para minha sorte estava vazia e eu pensei em qual quarto me esconder. 

Primeiramente pensei em meu antigo quarto, no qual acordei essa mesma manhã, mas era muito pequeno e não tinha comida, nem água. Como William ia ficar na cabine do capitão como sempre fazia antigamente, decidi que seria seu quarto. Entrei furtivamente, deixei minhas coisas embaixo da cama e joguei-me na mesma. Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Júlia, para que viesse para cá e ficasse com Diana ante minha ausência, todas as suas despesas seriam pagas por nós. Escutei quando voltaram todos e desancoraram o navio, o colocando em movimento.

Horas se passaram e eu estava ali sozinha, afogando minhas mágoas em uma garrafa de José Cuervo. A porta estava destrancada, então meu ouvido estava aguçado para qualquer aproximação. E como eu tinha uma sorte dos cães, escutei passos cada vez mais próximos; mesmo que não viesse para o quarto, escondi-me debaixo da cama, arrastando tudo que fosse meu comigo. Não demorou a porta se abriu e consegui enxergar um par de botas. Meu corpo congelou.

WILLIAM

Deixei que os marujos espairecessem um momento antes de zarparmos novamente. Fui direto para a cabine do capitão e deixei bem claro que não queria ser incomodado. Enquanto estava sentado na cadeira giratória, com os pés sobre a mesa de madeira maciça, tomando um bom copo de uísque, deixei que meus pensamentos voassem livres e eles pousaram diretamente em Lucy. 

Eu tinha que ser honesto comigo mesmo, despedir-me de Lucy não foi a coisa mais fácil que consegui fazer; apenas imaginar que aquela seria a última vez que eu a veria, apertou-me o peito e me fez querer desesperadamente impedi-la de partir. Mas permiti que fizesse e agora estava afogando-me em um vidro contendo um líquido âmbar como um maldito bêbado. Os ponteiros do relógio avançavam lentamente e aquilo estava começando a incomodar-me, juntamente com a falta do que fazer. Então, resolvi tomar um banho e tentar relaxar um pouco. 

ღ Perigosa AtraçãoWhere stories live. Discover now