O expediente já estava quase terminando quando surgiu uma emergência. Corri pra um dos quartos onde uma menina estava sendo intubada.

- O que ela tem?! - perguntei.

- Febre, batimentos cardíacos e respiração aceleradas.

Any: Quando a febre se iniciou?! - encarei os pais dela.

- Há três dias depois que voltamos de um passeio no campo. - respondeu a mãe.

Any: Não a levaram pra um hospital antes?!

- Não, achamos que fosse uma febre normal, mas hoje de manhã ela piorou. - o pai respondeu.

Me voltei pra garota de cabelos castanhos e antes que tivesse tempo de fazer algo o coração dela parou.

- Preparem o desfibrilador!

Coloquei na voltagem mínima e posicionei os eletrodos, antes de acionar. O peito dela se ergueu uma, duas, três, cinco vezes, mas seu coração não voltou a bater. Me virei para os pais dela com pesar.

- Sinto muito! - suspirei encarando os pais dela.

- O que quer dizer com isso?! - a mãe me perguntou desesperada.

Any: Nós a perdemos, provavelmente ela sofreu uma infecção generalizada, não há mais nada que possamos fazer.

- Não, tem que salvar nossa filha.

Any: Desculpem, já estava num estágio avançado, não pudermos fazer nada. - os encarei desolada.

A mulher de repente parou enquanto os olhos se enchiam de lágrimas. Junto com o marido os dois se aproximaram da cama e começaram a chorar no leito da garota.

Dei as costas me sentindo uma inútil e sai ouvindo o som da máquina que alertava em vão a parada cardíaca.

Cheguei ao estacionamento e sentei nas escadas. Quando eu era uma simples estagiaria nesse hospital eu vinha pra cá, o local era silencioso e deserto e eu podia chorar e pensar à vontade, às vezes até estudar antes de ir atender.

Poncho: Fim de dia ruim?!

Ergui o rosto e me surpreendi ao vê-lo ali.

- O que faz aqui?! Como me achou?!

Poncho: Te vi saindo do elevador, já tava indo embora e algo me disse que você vinha pra cá. - deu de ombros. - Posso sentar?

Assenti suspirando e duas lágrimas escorreram pelo meu rosto.

Poncho: Quer conversar um pouco? - me encarou solidário.

Any: Tudo bem, eu não deveria ficar assim. - respirei fundo enxugando as lágrimas.

Poncho: Eu entendo você, é difícil perder um paciente assim do nada, ainda mais no seu caso... Quantos anos ela tinha?!

Any: Dois anos e meio, o que me deixa com raiva é que não consegui fazer nada... Não deu tempo de fazer nada. - suspirei e encostei a cabeça no ombro dele quando me abraçou.

Poncho: Eu entendo o que ta sentindo. Hoje de manhã estava brincando com alguns pacientes e agora pouco dois deles faleceram, não é uma coisa que se aprende rapidamente.

Any: E o que você faz quando isso acontece?!

Poncho: Eu venho pra cá e tentou pensar um pouco, clarear minha cabeça e eu me lembro que a vida é assim mesmo e que em algum momento todos nós vamos morrer.

Any: Mas ela era tão nova.

Poncho: Às vezes era um anjo que veio fazer algo de bom aqui. - sorriu dando de ombros.

Uma Lição de Amor ✔Where stories live. Discover now