Capítulo 02

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Alfonso


Normalmente à noite quando não tenho o que fazer e estou sem sono algum eu fico na recepção do hospital, exatamente onde as ambulâncias passam e novos feridos alguns conscientes outros não chegam a todo momento. Estava de papo com a recepcionista do local tentando conseguir uma brecha pra dar uma volta pelos arredores quando ouvi a costumeira agitação que indicava um novo paciente chegando ao local.

- Acidente de carro! - um enfermeiro gritou.

Olhei o relógio atrás da recepcionista que estava séria. Não eram nem 19 horas para já haver um acidente. Normalmente as batidas de carro sempre aconteciam de madrugada. Sempre por culpa de motoristas bêbados.

Fiquei atento olhando pelo corredor onde logo passariam com a pessoa e vi Carlos, meu médico cardiologista, saindo de outro corredor e falando pra uma enfermeira próxima à mim:

- Prepare a sala de cirurgia!

Ele me lançou um olhar rápido e sério. Logo a vítima daquela noite passaria por aquele corredor.

A maca surgiu em segundos com quatro enfermeiros junto. Uma delas segurava a máscara de oxigênio pressionado no rosto da garota. "Uma garota", repeti em pensamento surpreso.

Consegui ver seu rosto de relance e senti um aperto estranho no coração. Na certa ela havia sido vítima de algum maluco, pois, parecia ser bem mais nova do que eu. Deveria ter no máximo 17 anos. Mas se estava sozinha e se tinha mesmo 17 anos, onde estava a pessoa que provavelmente dirigia o carro? Será que morrera no local e fora encaminhado direto para o IML (Instituto Médico Legal)?

Mas o que mais me impressionou nela foi que apesar dos machucados pelos braços e alguns no rosto ela continuava... Linda! Seus cabelos eram castanho claro e estranhamente senti uma curiosidade por saber quais seriam a cor dos olhos dela. Descartei o preto na hora tendo certeza que tinha olhos claros. Talvez um castanho mel, ou azul, ou quem sabe verdes como os meus. Esse pensamento estranhamente me fez sorrir.

Balancei a cabeça estranhando meu comportamento. Será que o confinamento naquele hospital estava me deixando tão desnorteado a ponto de ficar sonhando com os pacientes daquele local? As únicas pessoas com quem eu poderia ter um contato direto e constante, pelo menos pelo tempo em que ficássemos internados?

Achei melhor voltar pro meu quarto, mas não consegui tirar o rosto daquela garota da cabeça. Eu lutava tanto pra permanecer vivo que quando via alguém da minha idade ou mais novo do que eu numa situação como aquela, sentia uma espécie de carinho por entender o que ele ou ela estava passando. Provavelmente os médicos lutariam pra salvar a vida dela, como haviam lutado duas vezes pra salvar a minha. Coloquei a mão sobre meu coração que por duas vezes me obrigara a ir parar numa mesa de cirurgia e suspirei.

Abaixei minha cabeça e pedi a Deus que salvasse a vida daquela garota fosse ela quem fosse.
Quando estava pensando em voltar pro meu quarto e ver t.v. resolvi repentinamente ficar na recepção mesmo. A maioria das pessoas que passavam por ali sempre estavam acompanhadas de alguém, algumas até chegavam conscientes. Mas aquela garota entrara sozinha e por alguma razão eu quis ficar ali esperando notícias como se fosse alguém da família dela, sendo que de fato nem a conhecia.

Já tinha acabado de ler toda a revista quando uma mulher entrou no hospital.

- Me ligaram falando que minha filha sofreu um acidente onde está? - a ouvi perguntar e me toquei que ela era a mãe da tal garota.

- Está realizando uma cirurgia e no momento não pode vê-la, mas aquele policial quer falar com a senhora. - a recepcionista apontou pra trás dela e encarei o policial que estava lá já fazia uns 15 minutos.

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