Capítulo 47: Sangue e Água

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Lavigne estava prestes a abandonar seu escritório para dormir, quando sua Kandelyce adentrou o local em um rasto de fogo, sibilando com urgência, que a Lider não demorou a interpretar. Desde então o tempo escorreu pelos seus dedos, e tudo não passou de um borrão. Em um instante ela estava em seu escritório da Mansão, acalmando Kandelyce com carícias, e no outro estava atravessando o sombrio corredor fechado para sua familia, no Dace, em passos largos e sonoros. Lavigne não olhou para o lado para as alas, onde os outros Lideres, seus irmãos deveriam estar com seus filhos. Não lançou nem mesmo um minimo olhar para o quarto de Aurora, na qual Lavigne vinha tendo tanto cuidado nos últimos tempos. Ela não pode desviar a atenção ao final do corredor onde uma figura pálida, acompanhada de outra, tinha os olhos grudados no vidro de observação da última câmara.
Mais próxima, Lavigne reconheceu a doutora junto de Demetri, de costas pra ela.
- Onde ele está? - Lavigne não precisou concluir, com urgência
- Ele está acordado - a doutora tratou de tranquiliza lá - Despertou do coma a algumas horas, desde então, mas ainda sim, não acho que ele esteja...
- Se ele está acordado, que quero vê lo - A voz de Lavigne era cortante como uma ordem, que a doutora não conseguiu recusar. Em resposta ela apenas crispou os lábios e deslizou um cartão sobre um feixe na porta.
Lavigne encarou o irmão ao lado. Demetri não tinha expressão. Parecia ser capaz de ficar ali, congelado, para sempre. Isso não soou bem a Lavigne.
- Você já o viu? - Ela perguntou, cuidadosa
- Só através do vidro - respondeu ele, em tom baixo
- Se não permitiram, você pode entrar comigo... - Ela começou e ele a interrompeu
- Eu ainda não entrei por que não permitiram - Retrucou - Eu não entrei por que não quero. Não quero vê lo assim.
- Assim como? - Lavigne retrucou quase com um sussurro prendendo a respiração
Antes que ele pudesse responder a porta se desbloqueou com um sonoro clique, e a doutora a abriu para Lavigne. Tente não estender a visita a muito e diga para sua irmã para não o fazê lo também. Precisaremos fazer exames nele, durante a próxima hora.
Lavigne apenas assentiu antes de entrar no quarto, palido e artificial, vazio exceto por uma cama, uma escrivaninha e algumas máquinas de aço e fios ligados a uma figura tão palida quanto o quarto, deitada na cama. Ao lado dele, numa cadeira a parte, Atena segurava sua mão flácida, contra os lábios, pensativa. Seus olhos se viraram para Lavigne quando entrou, e ela acenou para que se aproximasse. A Lider caminhou cuidadosamente, pensando que Ciprian estava dormindo, até se aproximar o suficiente para ver que seus olhos estavam abertos. O cabelo castanho não tinha brilho, a pele estava tão branca, assim como os lábios. A única cor estava em olheiras roxas sobre seus olhos. Seus próprios olhos pareciam estreitos como se ele se esforçasse muito para abri los. Lavigne se sentou a beira da cama e segurou sua mão livre, fria e frágil como gelo. Apesar de estar tão gelado, a pele sobre sua testa tinha gotículas de suor.
- Oi... tia Lavigne - Ele disse com esforço
- Olá, meu querido - Disse Lavigne com um mínimo sorriso - Que bom que esta acordado.
- Mas preferia não estar - ele respondeu para surpresa dela - Ninguém me diz nada. Mamãe não me diz nada.
- Nada sobre o que? - Lavigne questionou mas Atena a encarou como se quisesse perfura lá
- Sobre ela... sobre Aurora - ele disse e sua respiração se acelerou - Eu quero saber o que está acontecendo com ela.
- Eu disse que ela está bem, querido - Interviu Atena - Mas você não acredita em mim.
- Não acredito por que você está mentindo - rebateu ele devagar - É como se eu estivesse morto, realmente morto, mas ao mesmo tempo isso não fosse verdade, por que vocês estão aqui, e não estão mortas, e está doendo tanto...
- Aurora não está bem - Lavigne admitiu antes que Atena pudesse impedir
- Não de ouvidos a ela - repreendeu
- Ela está ferida... psicologicamente. Esta... enlouquecendo. Mas ela ainda ama você, quer saber de você e quer que você melhore. Ela ainda esta aqui. Assim como você.
Ciprian fica em silencio por um minuto tão longo que Lavigne poderia achar que ele está dormindo se não fosse os olhos abertos. Então seus lábios pálidos se abrem.
- Ferida. Psicologicamente - ele repete como um mantra - Enlouquecendo...
- Você não ouviu o que... - Lavigne começa sobre os protestos de Atena, mas as duas são interrompidas com um riso baixo que perdurou vindo de Ciprian. Ele riu e continuou.
- a Aurora da minha vida está sofrendo tanto. Todos os meus irmãos estão sofrendo tanto tudo por que eu fui tão estúpido pra acreditar em Valentina.
O nome causa efeito sobre Lavigne como um soco. Atena solta sua mão.
- Esta bem, isso está passando dos limites. Você tem que sair, irmã.
- Não - protesta Ciprian - Eu quero que ela fique. Que que você fique mamãe. Quero que você esteja aqui pra ver enquanto caio...
- Você foi enganado - Lavigne começou - Mas esta tudo bem por que todos nós já fomos enganados por Valentina. Ela é traiçoeira. O que quer que tenha feito não é sua culpa...
- Ah, é sim - sussurrou Ciprian - Tudo isso é minha culpa. Tudo o que aconteceu e vai acontecer vai ser por minha culpa.
- Ciprian, você...
- Fui eu quem disse a ela sobre o Antidoto - Irrompeu Ciprian - Ela prometeu que Aurora seria livre e eu disse a ela que o Antidoto pra nós matar existia. Valentina aprovou me fez mais perguntas e eu a tentei destrair. Disse sobre os Jardins. Disse sobre tudo. Só o que eu não disse era o que era o Antidoto e com quem ele estava. Quando não pude mais escapar, me recusei a responder isso. Ela ameaçou me tranca fiar, e matar Aurora e todos os meus irmãos, diversas vezes enquanto assisto. Eu disse que tinha dito tudo. Que não era justo. E que ela não era justa. Ela me matou na frente de todo mundo. E manteve Aurora prisioneira até que vocês a resgatassem. Aurora que tentou me impedir de condenar os Anjos de Sangue... agora está... Como é mesmo o nome? Enlouquecendo. Enlouquecendo assim como eu. Por que eu sou responsável por isso. Eu mereço isso.
- Não - o sussurro escapa pelos lábios de Atena - Não. Não. Ciprian. Você não fez isso.
- Claro que eu fiz, mamãe - Retrucou - Arrisquei tudo por quem eu amo assim como vocês duas fariam... mas perdi. a única coisa que me arrependo é por Aurora.
Atena estava pasma ao lado de Lavigne, as mãos sobre a boca, trêmulas.
Então ela começou a se afastar.
- Mãe... - começou Ciprian mas ela já havia desaparecido, para fora da sala, em protestos desesperados
- Eu entendo por que o fez - disse Lavigne simplesmente - Mas ainda não é sua culpa. É de Valentina. E somente dela.
- Obrigado pelo voto de confiança, tia Lavigne - Ele concluiu
- E não é só isso. Durante todo esse tempo eu venho conversado com Aurora. E acredite quando digo que vou resgata los. E que não acabou para vocês dois. Vou reverter isso. E vocês ficarão bem e juntos, em breve.
Ciprian apenas assentiu.
- Estou com sede - ele disse e os olhos de Lavigne alcançaram o copo com água sobre a escrivaninha ao lado - Pode me ajudar a beber?
- Claro - Lavigne assentiu e tomou o copo entre as mãos curvando o sobre os lábios de Ciprian, enquanto secava sua testa fria e molhada, com as pontas dos dedos. Quando a água alcançou a boca de Ciprian primeiro houve uma sensação de alívio então ele explodiu em pânico, tossindo e esparramando água para longe, para as vestes e para o rosto de Lavigne que se afastou com um pulo enquanto ele tossia, água saindo de sua boca e de seu nariz mas não apenas água. Tinha um cor avermelhada, como sangue, que começou a ser expelido logo após água. Sangue respingando os lençóis brancos, manchando de escarlate todo o quarto palido. Quando o ataque passou, Ciprian afundou no travesseiro, fechando os olhos, apenas seus lábios entre abertos, sussurrando palavras que Lavigne não conseguiu entender. Quem o visse diria que ele estava dormindo se não fosse os litros e litros, sobre o cobertor agora escarlate, sangue em suas vestes e manchando seu rosto escorrendo pelo nariz. Um palido anjo feito de sangue, sobre seu leito de sangue. Lavigne não conseguiu se lembrar de algo tão terrível e tao belo que já Tenha visto. Quebrando seu torpor, a Lider sentiu o copo de vidro, com água avermelhada, cair de sua mão, encharcando o piso com mais escarlate. Sem se atrever a dar as costas para Ciprian e seu horror, ela se apoiou na porta por onde entrou, e que se abriu com ímpeto, no momento em que Lavigne caiu na escuridão.

Anjos de Sangue: Fim dos DiasWo Geschichten leben. Entdecke jetzt