Capítulo 23: Veredicto

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                Na metade inversa do caminho, seguindo o curso da floresta, Iris, Alexander e seus filhos atravessavam o descampado sob a luz da lua. Estavam a alguns quilômetros da civilização, ou ao menos o que restava dela, de acordo com os gritos e sons de confronto que cortavam a noite e com o fogo que iluminava a cidade ao longe. Todo o brilho, toda a morte pareciam cada vez mais distantes cada nova vez que os seus pés afundavam na terra, cada um deixando uma marca que ocupava o lugar de quem estava na frente e era apagada por quem vinha atrás na trilha. Perto deles, uma coruja piou. E então o ruído mínimo de um galho partindo.

                Iris parou e todos pararam com ela. Carlo, um tanto mais desatento, o último da fila, tropeçou em Lavinia e esperou. Matessa sentiu a nuca arrepiar pela brisa que passava. Esperaram todos pelo que estava para acontecer.

― Armas em punho, meninos ― sussurrou Alexander ― Fiquem juntos.

― "Fiquem juntos" ― Uma voz feminina foi distinguida em alto e bom som e no entanto, ao olhar para todos os lados, ninguém sabia de onde vinha ― A única coisa que amo mais do que os momentos de tensão é esse apelo um tanto carinhoso, essa quase urgência que as pessoas têm de serem mortas todas juntas ― as últimas palavras soaram quase como um rosnado ― É fofo, mas encurta a diversão.

                 De repente, as sombras ao redor começaram a se mover. Lavinia viu figuras encapuzadas atrás de si, avançando, avançando, portando o ímpeto lento e longo e calmo com o que uma onda mortífera avança antes de quebrar numa praia. Eram vampiros. Não sabiam contar quantos. Dezenas? Centenas?

― A floresta parece estar andando ― sussurrou Carlo para Lavinia, que viu no rosto dele um esboço de sorriso ― Onde será que já li isso?

Macbeth, pensaram ambos. 

― Sem mais jogos, Genevieve! ― a voz grave e masculina de Alexander rimbombou pelo descampado ― Sem mais jogos ― repetiu, mais baixo ― Você não é de se esconder. Apareça de uma vez e terminemos logo com isso.

― Como senti sua falta ― disse ainda Genevieve sem ser vista, a voz baixa e sedutora, mas perfeitamente distinguível na noite. A massa de capuzes escuros se confundia na iluminação mínima. Se Lavinia e os outros não tivessem visões perfeitas, poderiam contar apenas com o reflexo da luz azulada da lua brincando na superfície das suas espadas embainhadas ―  Eu sempre quis ser madrinha. É uma honra finalmente conhecer seus filhos. Gosto especialmente do de olhos verdes. Se vivesse um pouco mais, sua linhagem seria de guerreiros.

Dmitri se encolheu contra Ester e a lâmina tremeu um centímetro onde ele a posicionara na altura dos olhos.

Quando a Líder dos Vampiros apareceu foi como o nascer de um sol ― um que não a feria, mas trazia ele mesmo, a destruição dos outros.

Ninguém soube dizer de onde viera. Ela parecia vestida em gelo ou em cristal, tanto se confundia o brilho do vestido-armadura com a sua pele. Para os que a viam agora pela primeira vez, poderiam dizer que ela estava nua ou vestida de pura luz. Só seus cabelos continuavam no escuro, tremulando energicamente como tentáculos ao redor do rosto. Era quando parecia vestida da forma mais frágil que Genevieve, no entanto, parecia mais poderosa.

Diante disso, as sombras encapuzadas que avançavam no descampado de repente pararam à alguma distância de Genevieve e dos anjos. Eles estavam presos. Eles estavam presos dentro de um círculo.

― Iris ― Genevieve disse baixando a cabeça com um sorriso de reconhecimento ― Não parece tão frágil e desesperada essa noite, não? Você devia estar. Sabe que não gosto de armaduras, não uso em qualquer ocasião; mas hoje... hoje é um dia importante. Hoje é o dia em que eu destruo o seu presente e decido o seu futuro. Homens mais valentes que você já estiveram ajoelhados à esta altura, implorando por misericórdia.

Anjos de Sangue: Fim dos DiasWhere stories live. Discover now