Capítulo 43: Ira

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A simples idéia de deixar a cidade de Aliança, sempre pareceu a Lavigne algo irreal e errado, algo que não deveria acontecer jamais. Porém, ainda sim, ali estava a Lider, próxima aos limites da cidade, em frente ao portão central, única entrada e saída de Aliança, guardada por um Esquadrão de soldados, com outros diversos atrás de si, seus irmãos ao seu lado e Lorenzo a alguns metros embainhando uma espada.
Os Lideres haviam descido até a cidade de Aliança menos do que por questão de formalidade, e sim por precisarem abastecer suas armas no Arsenal em construção, um belo trabalho dos Especiais e um dos novos lugares favoritos de Demetri, por exemplo.
- No que você está pensando? - uma voz disse ao seu lado tomando a de surpresa. Phiorella estava parada amarrando adagas em seus pulsos, e escondendo as sobre as mangas de sua capa negra, com Charlotte ao seu lado.
- No quanto é estranho abandonar a cidade - Ela admitiu - Nos nunca saímos daqui, não de verdade desde quando...
- Chegamos aqui - Ela completou em tom nostálgico - Desde quando os outros Lideres ainda estavam perseguindo a gente quando fugimos de Selene.
- Faz muito tempo, mas a lembrança ainda me parece bastante viva - Lavigne admitiu - Assim como ainda me parece errado fazer com que tantos outros deixem a cidade conosco.
Phiorella refletiu.
- Você se preocupa demais, Lavigne - Concluiu por fim - Nos vamos ficar bem. E éramos jovens e tolos quando os Lideres nos caçavam. Mas o tempo passou, e se algum deles se atreveram a nós caçar outra vez, temos poder para responder com fogo, por que agora somos mais fortes do que qualquer um - Ela lembrou e sorriu para a irmã - Estou empolgada para conhecer os Lideres Licantropes - e saiu dando uma pequena cotovelada em Charlotte que revirou os olhos
- Pelo menos ela está certa quanto aos Anjos de Sangue - comentou - Se vocês passaram por tudo o que passaram e conseguiram chegar até aqui, não devem ficar traumatizados c
Não olhe agora, mas tem alguém que quer falar com você
E então Charlotte se afastou. Sem entender esperou até uma voz dissesse as suas costas.
- Você está bem? - Ela se virou encontrando Lorenzo, em roupas escuras, e armado com adagas apesar de ter tudo o que precisa pra se defender na ponta dos dedos - Já pegou tudo o que precisa?
Lavigne desviou os olhos de seu rosto forte e ornamentado, sob a luz da lua e da cidade.
- Eu tenho minha Katana - Ela lembrou com a mão nas costas - E tenho você. Isso é tudo o que eu preciso pra suportar o que vem por aí.
Lorenzo entendeu aquilo como um comentário romântico, e inclinou se para beija lá nos lábios, atitude que ela sabiamente não protestou. Altos cliques de metal e engrenagens, foram o que fizeram ambos se separem de repente. O portão estava sendo abertos sem pressa, e quando o foi feito não havia nada além dele que os separassem do mundo exterior a qual eles tanto vinham fugindo.  Agora estariam mergulhando nele.
- Meus comprimentos aos Lideres, e aos bravos soldados que os acompanham - saudou em voz alta, um dos responsáveis pela guarda do portão - Que a ida através da turbulência, os traga de volta, vitoriosos!
E foi isso. Eles podiam atravessar, mas por um momento inteiro todos hesitaram, em seus lugares. Até mesmo Lorenzo parecia tenso prostado ao lado de Lavigne. Seus olhos encontraram os dos irmãos que tambem não pareciam muito ansiosos pela partida, seguidos de uma centena de soldados receosos. Então era isso. Então deveria ser ela.
Tomando ar, apenas uma vez, impulsionou seus pés para frente, em passos confiantes afastando se da multidão, sua capa negra esvoaçando atrás de si. Quando seus pés pisaram no limite da cidade, e ultrapassaram essa terra, Lavigne não se sentiu desconfortável, mas sim confiante em novo território. Ela se lembrou de Phiorella, de que os Anjos de Sangue  não eram os mesmo de antes. Eram infinitamente mais fortes. E eles iam conseguir.
A Lider continuou andando, sem olhar para trás. Inspirados por sua confiança, só então, todos os outros soldados a seguiram, para fora da cidade, rumo a escuridão do desconhecido.

Como planejado por Lavigne, era noite quando as inquietações começaram.
Estava revisando últimas táticas com Charlotte e Atena, suas melhores estrategistas naquele momento, sob um céu incoberto de nuvens, mas com uma lua cheia branco prateada brilhando no centro, e em acampamento à certa proximidade de onde estaria a antiga Itália, destruída pela guerra de sua família, quando ouviu os gritos de alarme, partindo do Sul. Ao levantar olhar para região de cidades destruídas e ruínas de monumentos e casas históricas, era possível ver os vultos, rastejando na escuridão, os olhos brilhando mesmo ao longe, como pequenas pedras Lunares. Lavigne viu quando alguns soldados entre anjos e e Especiais se colocaram a postos entre a inclinação onde Lavigne estava, e as criaturas, armas empunhadas prontos a defenderem a si mesmos e aos Lideres.
- Não - a palavra escapou da boca de Lavigne como um sussurro aterrorizado quando ela se deu conta do que se aproximava - Não os ataquem! - Ela ordenou em alto e bom som. Alguns ficaram confusos, olharam para trás mas não abaixaram as armas, receosos. Com o pensamento de que tudo daria mortalmente errado logo no inicio de sua jornada, as asas de Lavigne irromperam de suas costas, em um ímpeto selvagem, e seu corpo envolto em asas escuras riscou o céu baixo, atravessando a barreira de soldados, e aterrisando na frente dos esquadrões, entre as armas que as sombras que se aproximavam.
- Sem ordens para atacar - Disse Lavigne outra vez e agora todos ouviram, abaixando suas armas com relutância, Especiais contendo fagulhas mortíferas de suas mãos. A última a se recolher foi a de Lorenzo, Lavigne percebeu, a alguns metros dali. Tudo o que trocaram foi um olhar e quando Lavigne avistou as sombras já não eram mais sombras e agora formavam criaturas encurvadas e grandes com pelagem de diferentes tons, e olhos que eram pontos de luz branca. Licantropes.
Os olhos de Lavigne correram pela linha de frente, e ela contou 20 Lobisomens, mas não viu seu Lider.
- Onde estão Conrad e Alan Keyland? - Perguntou forçando uma voz tranquila - Onde estão seus Alfas?
A resposta que recebeu partiu em curtos rosnados, que pareceram distantes, e se tornaram mais próximos conforme algo grande também se aproximava, atravessando os lobos. Quando a figura alcançou o começo da linha de frente, um arrepio cortou a coluna de Lavigne. A criatura tinha o dobro do tamanho das outras, e o aspecto de lobo era pouco presente nessa, que era humanamente monstruosa. Se próstata sobre duas patas ao invés de quatro, coberta por músculos e camadas e mais camadas de pelos negros por sobre eles. Seu rosto era uma mistura híbrida de homem e lobos, com orelhas e presas afiadas dos tais. E ao contrário dos outros que pareciam ter pedras Lunares nos olhos, os desta criatura eram como rubis enormes queimando sem piedade. Lavigne se perguntou por um momento de incerteza como tal criatura poderia postar se diante deles sem a intenção de arrancar suas entranhas com as garras longas das mãos, e mastiga las com suas presas. Todos pareciam apavorados as costas da Lider, e era seu dever aplaca los.
- Senhores Conrad e Alan Keyland, como bem me lembro estamos... - Ela começou forçando se a parecer tranquila, quando foi interrompida por um uivo estrindente e feroz, que partiu dos Alfas a sua frente. Boa parte dos soldados voltaram a empunhar suas armas após esse som. Sua visão periférica enxergou Lorenzo tentando se aproximar furtivamente de Lavigne.
- Poupe seus esforços, irmã - Disse Benjamin, próximo a ela, o único que parecia calmo, pois vinha estudando sobre a Licantropia nos últimos dias, Lavigne lembrou - Dentre todos os componentes da matilha, o Alfa é o que possui menos conciencia da sua parte humana, ele é o mais feroz e o mais inconsequente e nao irá dar ouvidos a qualquer palavra. Mas se esta do nosso lado, é suficiente que os mostremos o caminho, e sua mentalidade de lobo irá trabalhar em seu favor.
A cabeça do Alfa se voltou para Benjamin, entendendo o som que partia dele, mas sem compreender suas palavras. Lavigne absorveu as informações o mais Rápido que pode.
- Estamos partindo agora - entoou a Lider, com autoridade - Recolham seus acampamentos o mais depressa que puderem, e sigam me. Nossa próxima instalarem será apenas nos arredores do castelo de Valentina.
E com isso, suas asas se fecharam, e ela deu as costas para o Alfa é sua matilha, enquanto os soldados se apressaram para desmontar seus acampamentos, e formar uma nova frente, atrás de Lavigne.
- Você está se saindo bem - Disse Lorenzo, quando ela passou por ele, mas não olhou para atrás.
A Lider imaginou que Lorenzo podia estar mortalmente errado, mas era o mínimo que ele podia fazer com seu volto de confiança, pois era como uma frase que ela viu em algum lugar anos atrás, quando o mundo ainda era dos Mortais "A Esperança é a última que morre."

Anjos de Sangue: Fim dos DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora