O grande lobo permaneceu parado, seu corpo estava tomado pelo sangue das bestas e sua respiração bastante ofegante. Olhando sobre os ombros, lançou um olhar em minha direção. Depois de um rosnado ameaçador saltou sobre mim. A distância entre nós era ínfima e o calor de sua respiração tocava meu rosto. Assim ficamos por alguns instantes até um leve recuo.

— Você está aqui para cumprir uma missão que lhe foi ofertada. — Falou com a voz distorcida.

— Sim, estou aqui para libertá-lo. — Respondi ainda sem ter muita certeza de como tudo aquilo terminaria.

O grande lobo desviou o seu olhar e começou a esquadrinhar o local.

Vishal avançou através do único corredor visível. Tentava acompanhar o seu ritmo, o que era difícil. Meus olhos não conseguiam ver muita coisa e em determinados momentos o perdia de vista. Graças a mana que nos conectava sabia a direção que deveria tomar.

Mais adiante Vishal mantinha sua posição, estava estático, defensivo e seus dentes pontiagudos à mostra, como um cão raivoso, emitia um rosnado grave e contínuo. Havia avistado alguma coisa. Acelerei meus passos até me aproximar o suficiente para ver o que fez o grande lobo parar.

Estava diante de uma legião de vampiros. Acredito que todos estavam ali. Os poucos que sobraram do massacre convocaram seus iguais e no meio de todos surgiu uma figura esguia, com o peito desnudo. Sua pele possuía uma palidez exagerada. Seus cabelos eram de um branco lapidado que reluzia a pouca luz daquele ambiente. Todos pareciam confiantes com a presença daquele ser de postura altiva. Ele encarava Vishal com austeridade.

— Irmão, o que faz acordado? — Seu sorriso exibia os caninos pontiagudos. Seus lábios, ligeiramente avermelhados revelavam que havia se alimentado a pouco.

A ironia de suas palavras irritou Vishal que emitiu um grunhido. Os pelos de seu torso ficaram ouriçados e sem pensar em mais nada avançou, tomado pela fúria que fervia em seu sangue lupino.

Me mantive recuado e neste momento senti uma forte dor em minha barriga, ao levantar minha camisa um brilho incomum emergia de meu umbigo. A dor aumentava gradativamente, enquanto Vishal batia de frente contra a horda de bebedores de sangue que tentavam proteger seu líder.

A temperatura interna de meu corpo aumentava velozmente. Parecia que minhas veias e artérias carregavam lava incandescente ao invés de sangue. Meu coração palpitava freneticamente como um motor a todo o vapor. Minha respiração ofegante acompanhava esse movimento. Minha pele transbordava em suor precipitando grossas gotas no solo abaixo de meus pés. O facho de luz ficou mais acentuado e a dor lancinante me fazia tremer. Havia perdido momentaneamente o controle dos meus movimentos.

Enquanto agonizava, Vishal avançava, impulsionado pela fúria. Ao contrário de seu irmão mais velho, o caçula ainda mantinha em si a impulsividade dos mais jovens, sem avaliar as consequências de suas ações. Em sua mente só havia espaço para uma coisa, destruir Kalisto e sua sede de poder, custe o que custar. Concluir sua demanda era o que o motivava a cada centímetro de chão que os aproximava.

Kalisto manteve-se em sua posição, confiante, talvez por considerar que a grande quantidade de asseclas conseguiria frear seu irmão caçula. Seus subordinados avançaram. A onda de vampiros caiu sobre o lobo cinzento, que fazendo uso de suas garras, rasgava a carne de seus rivais enquanto abria caminho. As habilidades de Vishal não se resumiam ao seu tamanho e força, seu poder era acima de tudo místico. Seus olhos arderam em chamas e seus movimentos se tornaram mais rápidos. Parecia que o lobo havia aumentado sua estatura. A cada braçada, os acólitos caíam.

O grande lobo cinzento emergia em meio a horda que avançava. Confiante, investia ferozmente, diminuindo o espaço que o separava do irmão.

Kalisto não podia ficar passivo. Uma aura luminosa tomou o seu corpo, seu cabelo platinado movia-se como se uma brisa deslizasse por ele. Seu olhar havia mudado enquanto se preparava para a chegada de seu rival lupino.

TRAGO (2017) - LIVRO (COMPLETO)Where stories live. Discover now