READY - PARTE 2

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- Valeu, sabe que eu conto com você na minhas costas, certo? Esses dois ainda não sabem dos nossos esquemas... - eu encarei Stanley que agora fazia cara de quem havia cheirado merda e Liam que me olhava como se acreditasse no que ia sair da minha boca - Precisamos treinar algumas coisas, os quatro. Se teremos que derrubar um time inteiro e cada um com chance de dois tiros, eu preciso ter ideia de como vocês trabalham para pensar no que vou fazer amanhã - Eu já havia terminado de comer e me levantei - Espero vocês lá embaixo em quinze minutos - Marcos ia falar algo e eu o cortei - A menos que você queira continuar com a sua merda de patente, sendo um soldado qualquer, você vai abrir a boca agora. Caso você queira o mesmo que o restante de nós apenas termine sua refeição e desça - eu peguei minha bandeja e sai dali, pensando no treino que poderia fazer para descobrir o que precisava.


O treino rendeu, em três horas eu descobri que Stanley atirava mal, mas lutava relativamente bem quando concentrado. Liam era o equilíbrio dele porque, apesar da mira invejável, era derrubado rapidamente quando a briga partia para a mão. Ele era de golpes pesados então se a pessoa tivesse agilidade com toda certeza ele estaria na merda. John era completo e eu não precisava me preocupar com ele, nem mesmo agora que a cabeça dele parecia estar mais com Daya do que no treino. Ele sabia que a chance de salvar sua mulher estava aqui. Depois que eu vi o que precisava, liberei Liam e Marcos para irem embora e fiquei sozinho com John.
- Acha mesmo que isso vai dar certo? - John me perguntou enquanto íamos ao vestiário
- Eu realmente acredito, nós vamos fazer dar certo - eu falei com tanta firmeza que não houve brecha para questionamentos.

Passamos na enfermaria do EDCP e pegamos o comprimido azul com Ninna, que era uma garota rechonchuda de sorriso fácil e que suspirou quando falamos o nome de Yuri, quando isso aconteceu eu e John trocamos olhares e seguramos o riso. Assim que ela explicou como tomar o remédio nós saímos em direção ao hospital, John estava praticamente morando ali e eu precisava ver Vitta que já estaria acordada a essa altura e eu não queria perder a oportunidade de conversar com ela.


Quando entrei no quarto Vitta estava sentada, comendo em sua cama. Respirei fundo quando fechei a porta e me virei para encarar a garota pálida que me analisava com os olhos despertos, tive certeza ali que ela não sabia como eu reagiria e esperava algo.
- Como está a cabeça? - Me aproximei da cama e ela relaxou ao ouvir meu tom amigável, o sorriso fácil de Vitta surgiu.
- Um pouco dolorida, mas tenho a cabeça dura, nem uma trincada nela pode me derrubar por muito tempo - ela ainda sorria quando colocou a bandeja de lado, com os olhos nos meus, me puxou pela mão para que eu me aproximasse - Eu nunca serei grata o bastante por tudo o que você fez por mim - Vitta acariciou minha mão
- Não precisa agradecer, você sabe que eu faria qualquer coisa que estivesse ao meu alcance para que você ficasse bem... - Levei a mão que ela segurava até seu rosto e acariciei, ela fechou os olhos e nós ficamos em silêncio por algum tempo.

Enxerguei Vitta como ela realmente era. Vi Victória em todas as suas formas e fases, sabia como ela era sendo minha confidente, amiga e amante. Sabia que talvez eu a perdesse de todas as formas quando tivesse a conversa definitiva de como eu me sentia sobre nossa relação e o que ela parecia esperar de mim, mas apesar de todos os riscos e todo o resto envolvido, eu tinha plena certeza de que Victória seria uma parte da minha vida que eu guardaria com muito carinho, sabendo que os prós foram maiores que os contras e que talvez ela sempre tivesse algo de mim se me procurasse.

- Vitta... - eu a chamei e ela abriu os olhos, me encarando como se já soubesse a conversa que estava por vir.
- Por favor Ezra, agora não... - ela beijou a palma da minha mão, que ainda acariciava seu rosto.
- Vitta, eu estou interessado em alguém - as palavras apenas saíram e eu observei com o coração pesado enquanto Vitta absorvia minhas palavras e entrava em choque.

Quando a ficha caiu, ela engoliu seco e me olhou com os olhos despertos.

- Não... - ela sussurrou quando uma grossa lágrima rolava por seu rosto - Não! - ela afastou minha mão de seu rosto como se meu toque a tivesse queimado - Você não pode Ezra, você não pode!
- Não foi algo planejado Vitta, na verdade eu nem sei que caralho é ainda.
- Você não podia fazer isso comigo, nós, nós... - Ela gaguejou e começou a chorar.

Eu não sabia como reagir aquilo, eu gostava de Vitta, mas eu sempre a encarei como diversão. O sexo era o motivo de eu conhecer e conviver com ela por tanto tempo, ela ser uma boa pessoa e nós criarmos intimidade foi consequência do sexo e não o contrário. Eu a abracei forte, ela sussurrava algo que eu não conseguia ouvir e ficamos assim até ela se acalmar. Quando vi que ela havia parado de chorar eu a soltei, esperei ela se recompor e logo que ela fez começou a falar, olhando para as mãos pousadas em seu colo.
- Ezra... Me desculpa, eu não esperava... Nós estamos nisso a tanto tempo que eu realmente pensei que seria você o tal príncipe encantado, sabe? O cara que ia me tirar dessa vida, que iria me amar e ter uma vida melhor nessa droga de lugar...

Ali eu entendi que Vitta não me via apenas como o amor da sua vida e sim como seu passe para fora daquele inferno em que vivia, o que ela dizia ser amor na minha concepção era apenas uma alternativa para fugir e tentar uma vida melhor, nisso eu admirava Katherine, a garota tinha praticamente cuspido na minha cara que estava no EDCP para crescer e mudar de vida, que faria qualquer coisa ali para permanecer. Me doeu pensar que Vitta estava fazendo cena, mesmo eu sabendo que se fosse na posição inversa, eu provavelmente faria a mesma coisa.
- Eu fui tola ao pensar que esse tipo de coisa aconteceria, ainda mais agora que eu estou ficando para trás... Não tenho mais os vinte e dois anos que tinha quando te conheci...- lágrimas escorriam pelo rosto dela e eu fiquei analisando a diferença da cor do verde dos olhos de Vitta e de Mya. Verde era minha cor favorita.
- Vitta, o problema nunca seria seu corpo, ou sua idade, ou o que você faz para sobreviver aqui - eu segurei seu rosto pelo queixo e o ergui para que ela me olhasse - Você é uma mulher incrível e uma hora vai achar esse cara que você espera, mas ele não sou eu. Nós já nos conhecemos a muito tempo para fazer teatro do que realmente está em jogo aqui, você sabe disso. Não sei se vou mudar de patente dessa vez, mal sei cuidar de mim Vitta... Você com toda certeza vai encontrar alguém que possa te tirar dessa vida porque te ama e não por dó. Talvez se eu não estivesse interessado em outra pessoa como eu estou - ela me cortou.
- Vocês já se beijaram? Você já esteve com ela como esteve comigo? - o tom mudou, não era mais tão doce.
- Eu apenas a beijei Vitta, é tudo muito recente...
- Então me beije, por favor, me beije uma ultima vez e se você realmente não sentir nada, eu não apareço mais na sua frente - ela disse decidida.

Não havia o que fazer. Eu sabia que se nada dentro de mim mudasse depois daquele beijo, com certeza eu não poderia ver Vitta novamente. Aquilo era foda porque eu não sabia qual seria meu destino com Mya, mas seria melhor porque não teria mais condição de ficarmos próximos sem constrangimento.

- Ok - eu disse me recuperando do pensamento lógico - Vamos fazer do seu jeito.

Puxei o rosto de Vitta para o meu com ambas as mãos, acariciei suas bochechas e a olhei profundamente nos olhos. Esperava que ali ela visse o quanto eu sentia por não ser o cara que ela queria. Não esperei uma confirmação, colei minha boca na dela e antes que percebesse Vitta estava me puxando para a cama.

Não foi a melhor transa que tivemos, talvez tenha sido a mais intensa. Quando acabou, eu ajeitei as calças e balancei a cabeça. Não houve uma palavra para ser dita, Vitta me olhava como se entendesse que o que havia acontecido foi mais por ela do que por mim. Eu beijei sua testa o mais ternamente possível e sai do quarto sabendo que talvez não fosse só carinho o que eu sentia por ela.


- Idiota, seu dono é um idiota - Eu peguei a gata do chão e a deitei na cama comigo. Eu já havia tomado o comprimido que Yuri havia mandado e enquanto eu pensava no desastre que havia sido essa tentativa de termino de ciclo com Victória, peguei no sono.

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AZAHRA - A cidade do céu (EM PAUSA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora