GAROTA PROBLEMA

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OI! Espero que aproveite a leitura!
Beijos da Zôe <3

Lonely day - SOAD <3

O natal estava chegando.
Eu conseguia ver as montanhas cobertas de neve pelas grades da janela. Lembro que deixei de acreditar em papai Noel aos cinco anos, quando minha mãe disse que ele havia deixado um pão a mais para mim como nos anos anteriores, aquela foi a primeira noite que notei que ela não tinha o que comer.

Passei a mão pelos cabelos e suspirei tentando afastar o pensamento daquela noite e de todas as outras onde minha mãe estava. Não demorou muito para que os recursos fossem cada vez mais escassos e o pulmão dela não se recuperasse de uma infecção causada por um vírus novo que estava dizimando Azahra.

Me sentei na cama de cueca e vi minha gata entrar pela janela carregando um rato morto na boca.
- Boa caçada, Emme - eu parabenizei minha vira lata favorita. Ela largou o rato aos meus pés e se esfregou nas minhas pernas. - Pode ir comer sua caça, a minha eu estou indo buscar.
Levantei e coloquei a calça verde e a camiseta branca do uniforme, o tecido era reforçado e nós ganhávamos três pares a cada seis meses, assim como roupa íntima e meias. Os sapatos eram repostos anualmente e isso era a causa da maioria dos furtos entre nós. Amarrei os coturnos, lavei o rosto, escovei os dentes e prendi meu cabelo em um coque desleixado. Estava comprido demais para um homem, mas dificilmente alguém brincaria comigo a respeito disso. Eu era grande, tinha sido um dos poucos a ser escolhido para o EDCP, o Exército Da Cidade em Pé. Eu havia focado todo o meu tempo ali nos últimos quatro anos e agora tinha a oportunidade de ter uma vida um pouco melhor.

Sai do meu apartamento e tranquei a porta, minha ala estava vazia, mas não tive a mesma sorte no elevador, duas meninas de aproximadamente 18 anos se beijavam loucamente quando as portas se abriram. Uma delas parecia um garoto, com o cabelo descolorido e um piercing na língua que ela não parava de mostrar enquanto me encarava nervosa por ter que esperar pra continuar o amasso. A outra tinha enormes olhos verdes que estavam pintados com uma grossa linha preta borrada e um sorriso frágil no rosto, após me encarar e ver que eu não iria desviar o olhar, ela olhou para baixo e sorriu abertamente enquanto suas bochechas ficavam vermelhas. Ela era bonita, mas não me permiti perder mais tempo olhando para nenhuma delas, me virei e assim que o elevador abriu as portas eu saí em direção a mesa dos oficiais.

Uma das vantagens de estar no EDCP era essa, nós podíamos comer mais. Eu ainda lembrava de como era ter fome, mas grande parte dos meus colegas de equipe fingiam que isso não existia a nossa volta. O refeitório era grande, uma das poucas partes bem iluminadas da Cidade em Pé. Eram quatro andares para poder atender a remessa de gente que sobrevivia aqui. Eu frequentei o primeiro andar durante quase toda minha vida, era o lugar onde os mais pobres pegavam suas refeições. Um pão, uma garrafa de água e um prato com o que restasse dos outros refeitórios.

O segundo andar era para os comerciantes e pessoas pouco influentes. A diferença desse para o primeiro andar era pouca, uma refeição e uma garrafa de água a mais. Mesmo assim as pessoas desse andar olhavam ainda mais feio para as do primeiro do que o restante de nós. Eu tinha a teoria de que isso era medo de que um dia eles tivessem que comer no primeiro andar alguma hora da vida.

O terceiro andar, o meu andar, era para pessoas do EDCP e para influentes da igreja. Nós podíamos nos servir a vontade do que tivesse o dia todo.

AZAHRA - A cidade do céu (EM PAUSA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora