Eu mal tenho coordenação motora, só estou obcecada em Owen. A minha irmã ia me dizer algo, mas para porque sabe que o que quer que fosse, me magoaria.

- Eu vou falar com o seu irmão sobre a academia que ele frequenta.

- Não! - eu paro de enxaguar meu corpo e olho para a minha mãe com o cabelo atrapalhando minha visão. Minha mãe se encosta na porta e ergue uma sobrancelha. Paro de pensar no quanto ela se expressa de forma parecida com Alyson, e foco no assunto da conversa.

- Como assim não?

- Você sabe que ele ficaria com ciúmes e não me deixaria em paz. Não pode ser em outra?

- Uma outra o quê? - Alyson franze o cenho e reviro os olhos.

- Uma outra academia. - uma que Alan já tenha frequentado com Owen...

- Quer ir numa academia sozinha?

  A minha irmã olha revoltada para Louise, a minha mãe.

- Qual o problema nisso? - a mais velha abre a boca para se pronunciar, mas vê algo em mim que a impede.

- Eu vou pensar. - ela revira os olhos. Sorrio, porque sei que isso provavelmente é um "sim, só vou convencer o seu pai antes".

  Estou no meu quarto vendo o céu, quando ouço o meu celular vibrar em cima da minha cama. Quando a cor rosa finalmente vai embora, eu me deito em cima da colcha macia e vejo qual a notificação. Uma nova mensagem no WhatsApp, vinda de um número desconhecido. Desbloqueio o celular e abro a conversa, antes querendo ver quem é. A pessoa não tem foto de perfil e nem status, e a última vez que entrou no aplicativo foi quinze minutos atrás, quando me mandou a mensagem.

                                     "Como está o seu cotovelo?" - Número desconhecido, às 19h25.


  Num estado melhor que o meu coração, penso, desconfiando de quem possa ser.


"Quem é?" - Alyce Baker, às 19h41. Eu respondo e espero ansiosamente a resposta.

"Um cara que quer saber sobre o seu cotovelo." - Número desconhecido, às 19h43.

"Qual o seu nome?" - Alyce Baker, às 19h43.

"Me chamam de Atlas." - Número desconhecido, às 19h45.

"Owen?" - Alyce Baker, às 19h45.

"Eu não me lembro de ter te falado o meu nome." - Número desconhecido, às 19h46. Eu não o respondo, mas ele fica online por cinco minutos, antes de me responder.

"Sim." - Owen Atlas, às 19h51. Não sei descrever como me sinto.

"Como conseguiu o meu número?" - Alyce Barker, às 19h52.

"Até agora você me mandou quatro mensagens e todas elas foram perguntas que eu respondi, mas não respondeu a única que te fiz." - Owen Atlas, às 19h53.

"Está bem, eu acho.- Alyce Baker, às 19h53.

"Eu perguntei pra todo mundo se tinham o seu número, e encontrei uma pessoa." - Owen Atlas, às 19h55. Eu me acomodo melhor na cama, sorrindo. Em outro momento eu perguntaria quem tem o meu número, mas não me importo.

"Por quê?" - Alyce Baker, às 19h56.

"Queria saber como está seu cotovelo." - Owen Atlas, às 19h56.

"Obrigada por se preocupar, Owen." - Alyce Baker, às 19h56.

"Não tem que agradecer." - Owen Atlas, às 19h57.


  Sem saber como não deixar a nossa conversa acabar, eu, sem pensar, tiro uma foto do meu cotovelo e envio.


"Como o meu cotovelo está." - Alyce Baker, às 20h00.

"Uou... Obrigado pela foto." - Owen Atlas, às 20h01.

"Não quero te deixar preocupado." - Alyce Baker, às 20h01.

"Obrigado por se preocupar, Alyce." - Owen Atlas, às 20h03.

"Não tem que agradecer." - Alyce Baker, às 20h03.


  Desvio o meu olhar do celular para a porta que acaba de ser aberta.

- O jantar está pronto. - meu irmão diz.

  Na mesa eu não consigo parar de checar a situação do meu celular, para ver se recebi uma resposta.

- Vamos viajar. - finalmente levanto o olhar para os meus pais.

- Como assim?

- É o nosso aniversário de casamento amanhã e decidimos que vamos comemorar de verdade dessa vez.

  Eu sorrio, feliz por finalmente terem parado de pensar que não posso ficar sem os dois por mais que algumas horinhas.

- Por quanto tempo? Quando irão? - Alan pergunta.

- Pra onde? - Alyson está animada.

- Por uma semana, amanhã cedo, e nós vamos à Paris. - arregalo os olhos ouvindo o meu pai.

- Quero presentes. - digo e meus irmãos concordam.

   Passamos o resto do jantar conversando sobre a tal viagem e os cuidados que vamos ter que tomar nesse período. Os gêmeos discutiram querendo decidi sobre quem comandará a casa e no fim meus pais resolveram que será Alan, por ser o mais velho (por nove segundos). Enquanto ajudávamos a minha mãe a arrumar as suas malas e as do meu pai (que foi ao supermercado comprar o que precisaríamos nessa semana), Alyson bufou sete vezes, por causa da raiva.

- O que você tanto olha nesse celular? - minha mãe pergunta, com um sorriso malicioso.

- E-Eu estou vendo vídeos no Youtube. - ela franze o cenho, antes de rir.

  Nós ficamos alguns minutos juntos, antes de decidirmos que já era hora de dormir, considerando que levantaremos cedo amanhã para levar os dois até o aeroporto.

  Eu demoro um pouco para conseguir soltar o celular e começar a cochilar, e quando finalmente consigo, a escuridão do meu quarto é iluminada pela tela do meu celular anunciando uma mensagem nova, me fazendo pular da cama e o pegar no criado mudo.

"Alyce?" - Owen Atlas, às 23h35. Eu o respondo imediatamente.

"Oi?" - Alyce Baker, às 23h35.

"Achei que já estivesse dormindo..." - Owen Atlas, às 23h36.

"Estava quase." - Alyce Baker, às 23h36.

"Te acordei? Perdão." - Owen Atlas, às 23h36.


O meu combinado com Alyson não durou nem uma semana, porque um tempo depois eu já estava chorando por causa de uma brincadeira de Alan no dia da mentira. Eu continuei chorando por coisas insignificantes, mas isso diminuiu um tempo depois. Às vezes eu não consigo evitar, e esse é um sintoma da Síndrome de Asperger. O problema é que mesmo não percebendo muito bem, algo me dizia que de agora em diante eu choraria mais do que quando eu me sentia mal por tudo o que acontecia. Não por causa da síndrome, mas por Owen.

Asp. - HiatusWhere stories live. Discover now