- Capitão - Stefan quebrou o gelo porém sem olhar para o homem, seu olhar estava fixo no horizonte. O homem não dignou-se a lhe lançar um olhar ou uma palavra, apenas sumiu por um instante e voltou arrastando uma mulher maltrapilha pelo cotovelo. Então esse é o pai de Julian e William? Parecia ser um homem atroz.

- Prendam-na - jogou a mulher no chão e entrou em uma das portas que eu nunca havia visto aberta. Dois homens pegaram a pobre moça e abriram uma parte do chão que eu não tinha percebido que era uma entrada. O que mais eu não sabia? Eu devia estar com uma cara horrível pois uma voz soou ao meu lado.

- Pare de olhar - virei a cabeça e ali estava Julian, encostado com os braços cruzados sobre o tórax e uma expressão séria que eu não havia visto em seu rosto. Cara, o que estava acontecendo? Eu estava tendo muitas surpresas para um dia só.

- O que farão com a mulher? - sussurrei assim que consegui ficar mais próxima dele.

- Não consegue adivinhar? - perguntou e para falar a verdade eu não conseguia, então sacudi a cabeça em negativa - meu pai costuma pegar garotas para... diversão própria. Se é que me entende. E se for sem consentimento, é ainda melhor.

- Oh céus - falei horrorizada levando minha mão até meus lábios que haviam tomado forma de "O".

- Ele diz que é bom para elas - Julian continuou.

- Ah claro, todo mundo devia ser violentado alguma vez na vida - falei, levantando as mãos e as deixando cair em frustração - e até quando ele vai ficar?

- Na verdade, não sei. Mas prometa-me uma coisa Lucy.

- O que?

- Não permita que ele se aproxime muito de você, tente ser invisível o máximo que conseguir, por favor - ele falava com um desespero na voz - e nem fique perto de William quando ele estiver por aqui, ou seu segredo será arruinado. São tão observadores quanto eu. Fique afastada.

Senhor teria que me ajudar, ou eu estaria perdida. Engoli em seco, não queria nem pensar no que fariam comigo. Me manteriam em cativeiro para diversão dos homens? Apenas a ideia encheu-me os olhos de lágrimas. Não era o destino que eu queria para mim, e não era assim que eu queria que acontecesse a minha primeira vez. Teria que ser esperta ou as coisas não acabariam bem. Pelo menos não para mim.

Enquanto os dias iam transcorrendo eu tentava ser o mais cautelosa e discreta possível. Quando o capitão, que eu descobri chamava-se Orion, saia de sua cabine, eu tentava me esconder o máximo que pudesse ou tentava não encara-lo pelo menos. E ainda havia Julian, que estava me ajudando distraindo o pai sempre que este fazia menção de aproximar-se de mim.

Era noite e não conseguia dormir, então levantei-me sorrateiramente e fui em direção à cozinha comer, algo que fazia quando estava nervosa ou apreensiva. Quando havia terminado e já voltava para o quarto, ouvi um barulho abafado vindo debaixo de mim e lembrei-me de nossa tripulante involuntária. Como sempre, a curiosidade estava corroendo-me viva, arrumei um prato de comida e desci vagarosamente. 

Estava descalça então meus passos eram silenciosos e rítmicos, o lugar era escuro e desorientador exceto por uma tênue luz vinda de uma vela próximo a... uma cela? Que tipo de homem prendia uma mulher em uma cela como se fosse um animal? Mas não deveria ter-me surpreendido, já havia tomado nota do monstro que era Orion Drake. Era um fanfarrão que gostava de encher a barriga avantajada de pinga e abusava de mulheres, claro que todas pareciam ser de condutas duvidosas, mas ninguém merecia ser tratado como animal sarnento.

Forcei um pé na frente do outro rumo onde eu tinha certeza que a moça estava, agora era uma loira e pequena pois a cada dois dias, mais ou menos, Orion desaparecia com uma mulher e voltava com outra. Eu ficava pensando se ele não colecionava mulheres e as deixavam em uma casa abandonada apenas a espera de sua aparição, porque estava além da minha compreensão a rapidez em que ele encontrava uma substituta para a anterior. Bom, eu não ficaria atônita se isso fosse comprovado.

Quando eu estava em frente a cela, a mulher estava sentada em um canto, encolhida, seus braços rodeando as pernas e a cabeça afundada nas mesmas.

- Ei - sussurrei e ela levantou a cabeça, sobressaltada. Quando me viu ela encolheu-se ainda mais e eu tive a sensação de que não era apenas o capitão que aproveitava-se da situação. Pareciam homens bons apesar de desonestos, mas havia acabado de criar uma conjetura de que eram assim apenas com os semelhantes. Com as mulheres era uma outra situação. Chama-los de paleolíticos era uma ofensa aos homens das cavernas. De onde achavam que vinham? Da chocadeira?

Nos olhos da garota havia tanta dor e medo que meu coração apertou-se. Ninguém deveria passar por isso, ser tratado como um objeto. Malditos. Mereciam ser decapitados, esquartejados ou amarrados na prancha pelos testículos até que fossem castrados lentamente. 

ღ Perigosa AtraçãoWhere stories live. Discover now