Não queria nem pensar no que teria acontecido. Ah, mas sabia, teria sido desmascarada no ato. Permiti respirar com normalidade novamente apenas quando já havia deixado as compras na cozinha da embarcação e estava protegida, refugiada em minha cabine.

Três dias depois decidiram que não poderíamos mais permanecer em Londres e imaginem a minha surpresa quando William disse que ficaria para trás e nos encontraria depois. Ficaria para me procurar? Ou apenas tinha muita diversão aqui? No dia anterior, Stefan contou-me sobre a amante que William mantinha em Londres, uma tal Emily Lawrence; não sabia direito por quê, mas estar consciente sobre isso atiçava-me a esbofetear a mulher desconhecida, mas ao mesmo tempo acautelava-me, lembrando-me quem ele era e que devia ficar longe dele se fosse um pouquinho esperta.

  ⚈ ⚈⚈⚈ 

O navio zarpou em uma sexta-feira à noite que prometia uma bela tormenta. Os dias que se seguiram até chegar ao próximo destino foram mais tranquilos pois não havia ninguém para supervisionar ou o qual temessem os marujos por suas vidas. Para minha paz de espírito, todos ali, e digo todos mesmo, acostumaram-se com minha presença e logo conversávamos e riamos como se eu realmente fosse um deles.

- E então o batizamos como um de nós - gritou o careca que me atormentava antigamente e agora era realmente simpático quando queria. Não pareciam tão valentões agora - Vamos, atire garoto.

Entregou-me uma pistola e do outro lado do navio surgiu um alvo. Quando era pequena, meu pai havia me ensinado tudo que ele sabia, mesmo que as más línguas diziam que não era "coisa de menina". Devo ressaltar que Diana não aprendeu nem a metade das coisas que eu, pelo menos não através do meu pai pois eu a ensinei algumas delas. Enfim, entre o que propôs ensinar-me meu pai estava o tiro e acertar o centro do alvo do lado oposto da embarcação foi simples, agitando os tripulantes que gritavam e batiam em meu ombro, quase o deslocando do lugar.

- Que tiro espetacular - Stefan disse com o queixo literalmente caído.

- Já sei quem chamar quando precisar de defesa - gritou Vitor do fundo.

- Isso merece uma comemoração - disse Joe, o careca, levantando os braços e assim seguiram-se vários gritos e assovios. 

Outra coisa que aprendi: eles não perdiam um motivo para comemoração, e caso não houvesse inventavam um. Quando ancoramos em terra firme, paramos em um bar e Jack, um cabeludo enorme bateu no balcão e disse:

- Bebida para todos - e assim ocorreu. 

Eu nunca havia bebida antes, mas eu não estava nessa viagem para experimentar coisas novas? Então, virei o uísque completamente do copo que havia colocado na minha frente e me arrependi. Aquilo queimou-me a garganta de tal forma que a tosse foi inevitável. Mas depois de três copos eu já estava animada e adorava a sensação.

- Ei garoto, vai devagar - disseram atrás de mim e me virei.

- Julian - gritei e sorri. Meus olhos devem ter brilhado com a visão pois ele sorriu e disse:

-Também fico feliz em vê-lo.

Cara, eu realmente estava com saudade dele, foi muito legal comigo desde o dia em que cheguei. 

- Acho que já chega disso - franzi o cenho e desci do banquinho, perdendo o equilíbrio e caindo, mas antes que atingisse o chão, Julian me segurou e me encaminhou para fora do bar.

- Você precisa de ar puro - ele disse rindo e eu apenas assenti energicamente, provavelmente como a maior parva do mundo. 

Não estava bêbada, tinha certeza disso, mas não estava nem perto de um juízo normal. Caminhamos um minuto do lado de fora até resolvermos sentar no meio fio. Estava um vento agradável.

- Como está sendo a viagem com esses brutamontes? - ele perguntou olhando para o horizonte - estão pegando pesado com você?

- Eles são legais depois de um tempo - dei de ombros.

- Claro que sim e...

- Mas temos que considerar a limpeza, a cozinha e - me aproximei e sussurrei, como se estivesse contando-lhe o mais precioso dos segredos - eu não aguento mais o cheiro de peixe. Não aguento, não mesmo - mexi a cabeça para dar ênfase e acabei caindo de lado.

- Ei, ei - ele disse rindo e me ajudou a sentar novamente. Tá bom, talvez eu estivesse um pouquinho bêbada. Ficamos em silêncio por um tempo, apenas olhando para as árvores na escuridão que havia do outro lado da rua.

- Por que está fazendo isso? - ele perguntou de repente.

- Bom, porque caso contrário já sabe - dei de ombros e o olhei, estava com uma expressão impassível - ah, qual é, você sabe, joguem seu corpo no mar para dar o que comer aos tubarões e blá blá blá - ele riu alto.

- Mas deve ser difícil aguentar isso por muito tempo - ele disse e me olhou - ainda mais para um...

- Jovem e destreinado como eu? Sei disso - o interrompi, suspirando. Já havia ouvido isso.

- Na verdade, eu ia dizer... garota - e aquilo fez minha cabeça girar e o fôlego ficou detido.

Senti minha boca abrindo-se e fechando-se incontáveis vezes, entretanto nenhum som escapou dos meus lábios. Como ele sabia? Eu deveria jogar a toalha e admitir logo de uma vez? O que adiantava negar?

Olá, olá, amores

Como estão?

Mais um capítulo fresquinho para vocês. O que estão achando?

A opinião de vocês é muito importante. Deixem seus comentários.

Beijos e até a próxima.

ღ Perigosa AtraçãoWhere stories live. Discover now