- Okay, está bem, mas vai ter que ir depois de amanhã para cobrir o tempo que perdeu hoje. É feriado, por ser o dia dos Veteranos, mas vai ter uma sessão às 08 da manhã. - isso significa que posso ir de novo à biblioteca.

- Eu peguei um livro na biblioteca que fica em frente ao galpão. Ele se chama Cosmos. - ela abre a boca para se pronunciar, mas a interrompo - Eu sei que não consigo ler mais do que uma linha a cada cinco minutos, mas quando eu fui pegar ele, encontrei uma pessoa e preciso ver ela de novo.

- Encontrou uma pessoa? - Alyson entra apressada no quarto. Ela passava pelo corredor e me ouviu falar.

- Sim. Eu acho que... - me lembro do minúsculo sorriso - Ele sorriu pra mim.

- Quem sorriu pra você? - Alan, o gêmeo de Alyson, entra no quarto e coloca as mãos nos quadris.

- Eu não sei o nome dele, mas sei que tem olhos e cabelo escuros. Eu vi ele na biblioteca.

Ele sorriu para mim. É impossível não sorrir e sentir as minhas bochechas esquentarem. A minha irmã expulsa Alan do quarto e tranca a porta.

- Vocês conversaram? - os olhos de sol de Alyson nunca estiveram tão brilhantes. O cabelo castanho escuro está preso em um coque bagunçado, e os olhos mostram que ela está cansada do dia que passou na faculdade.

- Não, nós só... - penso por um segundo extremamente longo.

- Só...?

- Nos olhamos. E sorrimos. - o sorriso da minha mãe está o mais largo possível, e Alyson bate palmas.

- Não pode ter sido só isso, você está vermelha. Me dê mais detalhes. - ela vira o meu pufe para as duas, que estão sentadas na cama, tira os sapatos e se deita. A batida da porta principal da casa nos informa que o meu pai chegou.

- Eu vou aproveitar que Tate chegou e arrastá-lo para a cozinha comigo. Me contem tudo depois. - ela diz, antes de colocar os chinelos e sair porta afora.

~~~*~~~

Sexta, 11.11.2016.

Eu não consigo dormir, por causa da hiperatividade. São quatro horas da manhã e eu só devia levantar às sete, para ter aulas particulares às sete e meia. Estou sentada no sofá com os olhos pregados na TV, mas com os pensamentos parados num lugar um pouco longe. A biblioteca.

Estou pensando em várias formas de descobrir o seu nome, porque algo me diz que não encontrarei ele hoje.

Como um ato impulsivo, um sintoma da hiperatividade, dou um pulo do sofá e saio de casa com passos apressados.

Existe uma fina camada de neve cobrindo o asfalto, e a rua está completamente deserta. Somente uma casa, a minha, tem luzes ligadas. Coloco o meu celular no bolso traseiro e passo a dar passos largos, apertando o lábio inferior contra os dentes.

A calça capri que estou usando não me cobre do frio, muito menos a blusa de moletom fina e o all star. Eu sei que devo voltar para a casa e tentar dormir, juro que sei. A síndrome não me torna burra. Só que o formigamento no meu peito não me deixa voltar.

Quando dobro a esquina da rua de casa, me pergunto se não deveria voltar e chamar Alyson para ir comigo aonde quer que os meus pés me levem. Ela é compreensiva e iria me acompanhar, eu acho. Mas é óbvio que não devo fazer isso. Tenho 17 anos e devo me tornar mais independente.

- Sou metade normal. - resmungo.

Eu ando no meio da rua, querendo ter o máximo de luz possível a me acompanhar. Não muitos passos depois, com vários pensamentos confusos sobre o que fazer, finalmente encontro uma casa com luzes acesas e extrema movimentação. Pessoas estão rindo e gritando lá dentro da casa grande. Alguns jovens da minha idade estão encostados em seu muro, rindo, fumando e namorando.

Estou parada no meio da rua olhando fixamente para todas as pessoas que estão ali fora. E algumas delas estão me olhando e cochichando. Dezenas de carros estão espalhados por ali e alguns estão a ponto de partir.

Um carro vermelho buzina para mim, me fazendo notá-lo e dar passos rumo ao meio-fio. Agora consigo sentir o cheiro insuportável de cigarro e ouvir melhor a música que estremece as paredes do lugar. É agitada e não seria tão ruim, se os gritos agudos não a cantassem.

Ele deve se relacionar com pessoas assim, certo? Me a próximo de um pequeno grupo com 3 rapazes e duas garotas, a fim de perguntar se eles frequentam a biblioteca em frente ao GAA.


A hiperatividade é um sintoma que nunca me causou problemas graves, por mais que me tirasse a paz e que tenha poucos meios de tratamento. Mas dessa vez eu realmente acreditei que ela pudesse me trazer algo de bom. Ele.

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¹ - se trata a mulher por senhorita se ela for solteira, e por senhora se for casada.

Asp. - HiatusWhere stories live. Discover now