Tentando achar um rumo, algo que me deixe feliz, mas a única opção sempre acaba sendo a bebida. Então passo o dia na rua, enchendo a cara, volto pra casa sempre as 03, 04 horas da manhã, ouço xingo da minha mãe, subo, deito na minha cama com a roupa que tiver no corpo e durmo profundamente... Até o maldito despertador tocar, todo dia ao meio dia e tudo começar de novo.

Quando eu tinha as aulas do cursinho eu ficava por lá de manhã e o dia todo na rua, fazendo lição ou estudando na casa da Maite, isso ocupava minha cabeça e me deixava longe do álcool. Mas agora nas férias, sem deveres, sem provas, sem cursinho e sem Maite, o álcool se torna meu único refúgio, a única coisa que me impede de cometer um suicídio. E acreditem... Já tentei me suicidar duas vezes!

A primeira foi 03 meses após a morte do meu pai, onde após uma briga feia com minha mãe eu ingeri um vidro de comprimidos. Eles foram suficiente pra me deixar internada três semanas no hospital ouvindo sermões da minha mãe sem poder fugir pra algum lugar, mas não foram suficientemente fortes pra me matar. Nessa época eu ainda não tinha descoberto o álcool, eu só ficava fora de casa andando e andando até anoitecer. Voltava cansada o suficiente pra deitar na cama e dormir sem nem olhar pra cara da Marichello.

A segunda vez foi dois meses depois da primeira tentativa e essa segunda vez foi meio sem querer. Estava tão fula da vida após brigar com a minha mãe que sai andando e um pessoal meio mal encarado, me achou bonita e me chamou pra ir pra uma balada. O local era barra pesada e vendo todo mundo encher a cara e começar a rir eu comecei a fazer o mesmo, desde que meu pai morrera que andava sempre zangada, quase nunca sorria, quase nunca ficava feliz como eles. Então enchi a cara pela primeira vez na vida. O resultado? Coma alcoólico, quase morri. QUASE. Mais duas semanas no hospital com minha mãe me perturbando.

Mas quando sai percebi algo. Eu tinha me sentido feliz como antigamente, como não me sentia à cinco meses desde que meu pai morrera. Então eu comecei a ir em busca daquilo e sempre que Maite não conseguia me distrair eu apelava pro álcool e cada vez mais chegava tarde em casa. Eu nunca mais bebi a ponto de desmaiar como da primeira vez. Hoje em dia eu bebo até o ponto em que fico feliz, até o ponto de esquecer minha mãe e minha casa. Bebo a ponto de esquecer que eu não sou nada. A ponto de me enganar e acreditar que sou alguém nessa droga de mundo, que existe alguém por ai que me ama e se importa comigo. Mas quando a ressaca bate e a verdade vem à tona, eu fico pior. E corro pra bebida outra vez!




Alfonso

Acordei com a movimentação no meu quarto e a espetada de agulha costumeira no meu braço.

- Bom dia senhor Alfonso! - a enfermeira sorriu pra mim quando abri os olhos.

Sorri de volta um pouco sonolento. Ela saiu e em seguida minha mãe entrou. Não sei de onde ela tira todo esse sorriso quando me vê. Afinal estou num hospital, tomando soro na veia e medicação 24 horas por dia, com uma cara de sono e com os cabelos bagunçados. Sem ânimo algum nem pra falar quando acordo.

Manuela: Bom dia querido! - ela sorriu amorosa dando um beijo em minha testa.

Poncho: Oi! - sorri a olhando.

Manuela: Como ta se sentindo amor? - segurou minha mão usando o mesmo tom de quando eu era criança.

Poncho: Bem, mas não fica usando esse tom de voz comigo mãe, eu tenho 19 anos, pega mal.

Manuela riu com minha piada. Em seguida ficou séria lembrando de algo. Eu sabia do que ela lembrava.

- Eu te dizia isso quando era um menininho assustado que mal entendia o que estava te acontecendo. - respondeu e seus olhos brilharam com as lágrimas que começavam a surgir. - Desde aquela época, meu maior medo e do seu pai é perder você, nosso único filho! - começou a chorar.

Uma Lição de Amor ✔Where stories live. Discover now