BÔNUS: RAFAEL CUNHA

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Maria Luísa espalmou as mãos no meu peito e ficou me encarando de perto.

De muito perto.

Como explicar para ela tudo o que eu sentia e não parecer um maluco?

─ Antes eu tinha medo de ter induzido você a sentir alguma coisa por mim, mas hoje eu vejo que isso não tem nada a ver. Me afastei por causa disso, surtei por causa disso. Gostava de você muito antes daquela época. ─ as mãos dela abandonaram o meu corpo, mas o olhar continuou preso ao meu. ─ E a nossa amizade... Malu, eu tenho medo de que não dê certo e a nossa amizade acabe com isso. Eu tenho medo de te perder.

Finalmente deixei que meu medo fosse todo despejado para alguém. Justamente para a garota que não deveria saber sobre eles, mas no calor do momento, às vezes, a gente perde o controle da situação. E ela queria saber o que me tratava, o que me deixava aterrorizado.

Talvez ela tivesse o direito de ser inclusa na bagunça total que a minha cabeça já foi algum tempo atrás.

─ Já pensou nessas coisas por um segundo?

E foi isso que aconteceu naquele momento. As duas coisas, no caso.

Perdi o controle da situação enquanto Maria Luísa começava a pensar na situação.

Eu quis me bater ou me jogar na frente de um carro quando escutei tudo que Maria Luísa tinha para me dizer depois de escutar os meus medos. Parecia tudo tão surreal ouvindo de outra pessoa.

─ É um bom amigo, Rafael, daqueles que não troca uma amizade por uma garota. ─ foi duro para mim ouvir aquilo, mas deve ter sido mil vezes pior para ela ter dito aquelas coisas. ─ E eu sou esperta o bastante para não tocar nesse assunto mais e escutar essas coisas de novo.

─ Você gosta de mim. ─ sussurrei.

Maria Luísa não negou as minhas palavras, mas também não as confirmou. Depois de tudo que conversamos.... Ela não podia simplesmente ficar indiferente quanto a isso tudo. Eu falei! Pela primeira vez na minha vida eu resolvi enfrentar meus problemas ao invés de fugir deles.

Fui sincero com ela e o que ganho em troca é essa indiferença toda?

─ Mas você não gosta de mim da mesma maneira. Esse seu medo é ridículo! E prova que não confia no que sente ao ponto de pensar que pode me perder caso algo dê errado. Viu? Você mesmo antes de tentar alguma coisa já fica imaginando que isso ─ apontou para nós dois. ─ está fadado ao fracasso. Quer saber? Júlia tinha um pouco de razão no final das contas. Eu sei o que sinto por você; é você que não sabe o que sente por mim.

Não, não, não.

Eu não queria ter soado daquela maneira! É claro que eu sabia o que sentia por ela! Queria me explicar para Malu, ter uma nova tentativa de explicar tudo que passava na minha cabeça, mas ela, pelo visto, já estava cansada de teclar nessa mesma tecla sempre comigo.

─ Não deveria ter deixado você me trazer em casa. ─ ela passou as mãos pelo rosto, recolhendo as lágrimas. ─ Vamos esquecer, tudo bem? As coisas continuam as mesmas entre a gente. Como sempre.

Em um movimento rápido, ela se colocou em pé e pegou a chave reserva no vaso de plantas ao lado da porta. Mais rapidamente ainda a abriu e se colocou para dentro de casa. Ainda tentei uma última vez, mas ela não queria mais me escutar.

E eu nem tirava a sua razão.

─ Malu, eu...

─ Vou ficar te esperando aqui em casa hoje no horário combinado com todo mundo. Nem precisa trazer um presente esse ano, já me deu uma coisa para me lembrar por, sei lá, a vida toda? ─ ela não me deu oportunidade para responder e apenas entrou para dentro de casa. ─ Tchau.

5inco | ✓Where stories live. Discover now