Sete♡

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Boa Leitura! 

Abriu os olhos rapidamente com a respiração pesada e encarou o teto branco. Por alguns segundos não teve coragem de se mexer, apenas esperou sua respiração se acalmar e tateou o sofá para ter certeza de onde estava. O perfume de Harry estava espelhado pela sala e ela se sentiu mais leve e segura. Sentou-se calmamente e viu Harte subir no sofá balançando o rabo animado.
- Bom dia, meu bebê. – Acariciou a cabeça do cachorro que se esparramou pelo sofá e se aconchegou em um canto macio.
Lys suspirou fechando os olhos por alguns segundos ainda podendo ver imagens do seu sonho vagarem por sua mente. Ela ainda podia ver a imagem clara de sua mãe e seu pai sorrindo para ela, antes de simplesmente sumirem, desaparecerem bem na sua frente.
Se levantou passando a mão pelo rosto da tentativa de espantar as lembranças do sonho e entrou no banheiro para tomar um banho rápido e acordar de vez.

- Hey, bom dia! – A menina sorriu vendo Harry entrar pela porta e Harte correu até ele abanando o rabo. Harry sorriu fraco sem falar nada e caminhou até a mesa da cozinha onde Lys tomava café, passou os dedos pela mesa fazendo desenhos abstratos e a menina o olhou sentindo o coração doer. Ela não gostava dessa sensação, e não gostava do silêncio assustador que havia se instalado no loft, nem mesmo Harte fazia barulho algum.
- O que aconteceu? – Ela perguntou baixo observando o café na xícara sem vontade alguma de tomar. Harry suspirou audivelmente fazendo a menina prender a respiração.
- O... seu pai. – Falou fechando os olhos fortemente. Lys o olhou sem entender, mas sentindo seu coração pesar. – Ele morreu. – Lys deixou um gemido baixo escapar por entre seus lábios e sentiu a dor no coração ficar ainda mais insuportável. Inconscientemente levou a mão até o peito e sua respiração ficou mais pesada.
Harry a olhou sentindo a dor da menina e segurou sua mão que ainda estava em cima da mesa. A outra mão dela continuava no peito, como se dessa forma ela pudesse fazer a dor parar. Seus olhos estavam vidrados na mesa branca da cozinha e seu rosto ficava mais pálido conforme os segundos passavam.
Harry deu a volta na mesa e parou se ajoelhando ao lado da menina.
- Eu sinto muito. – Falou baixo vendo que a menina não esboçava nenhuma outra reação, apenas continuava ali parada com a respiração pesada. Ele a puxou para seu peito e segundos depois, sentiu a menina se contrair e finalmente começar a chorar com o rosto enterrado na curva de seu pescoço.
- Eu tive um sonho hoje. – Lys começou a falar, sua voz saindo abafada. – Com meu pai e minha mãe, e eles sumiam bem na minha frente. Eu gritei por eles e tentei caminhar até onde eles estavam, mas eles tinham simplesmente sumido. – Afastou um pouco o rosto para olhar para o garoto em sua frente.
- Foi só um sonho, Ly. – Harry sorriu fraco segurando seu rosto.
- Não, não foi só um sonho, Harry. Foi uma despedida. – Falou fungando enquanto secava as lágrimas que ainda caiam por seu rosto. – Foi minha ultima oportunidade de vê-los. E eles estavam felizes, sabe? Sorrindo e tudo. – Brincou com os dedos da mão tentando lembrar com mais clareza do sonho. Odiava o fato de nunca ter sido boa em memorizar sonhos, nem os bons e nem os ruins. Bastava uma misera horinha pra eles desaparecerem de sua mente, restando apenas alguns flashes aleatórios.
- O enterro vai ser hoje à tarde. – Harry falou segurando em suas mãos. – Você quer ir? - Ela concordou balançando a cabeça.
Levantou-se da cadeira deixando o menino que ainda estava joelhado no chão e foi até o sofá se sentando e abraçando os joelhos com força, parecia que uma parte de seu coração havia sido arrancada. A segunda parte dele a ser arrancada, agora só restava uma. Olhou rapidamente para Harry sentado na cadeira que ela ocupara segundos antes, seu olhar preocupado sobre ela e sua feição séria e triste. Qualquer coisa que a machucasse, o machucaria também. E vice-versa.

- Ly? – Harry perguntou num tom preocupado batendo na porta do banheiro.
Lys havia entrado para se trocar fazia quase meia hora, e aquilo já estava o deixando preocupado. Passara toda a manhã e o começo de tarde observando a menina deitada no sofá com uma expressão vazia no rosto. As lágrimas se acumulavam em seus olhos a todo instante, mas ela parecia disposta a lutar contra todas elas.
A porta do banheiro foi aberta revelando uma Lys com o rosto mais pálido que o normal e os olhos vermelhos. A observou em silêncio sem saber as palavras certas para acalmá-la, então apenas a abraçou sentindo a menina começar a chorar segundos depois.
- Você não precisa ir se não quiser. – Falou minutos depois enquanto a menina parecia chorar tudo que havia segurado durante àquelas horas. A ouviu soltar um gemido em negação e a apertou entre seus braços.
Alguns minutos se passaram até que a menina conseguisse se acalmar e seus soluços cessarem dando lugar para apenas algumas lágrimas solitárias que vez ou outra caiam por seu rosto.
- A gente pode ir agora. – Ela falou saindo do banheiro depois de jogar uma água no rosto e constatar que nem maquiagem iria melhorar seu rosto pálido e sem vida. Mas foda-se, ela tinha acabado de perder o pai, tinha todo o direito de parecer um cadáver ou que fosse.
Harry pegou sua mão entrelaçando os dedos no dela e saíram de casa em silêncio. E assim foi todo o caminho até o cemitério. Ficou em dúvida se ligava o rádio, mas achava que uma música lenta aumentaria o clima melancólico, e uma música pesada faria a tensão aumentar ainda mais. Optou por deixar que o barulho da cidade fosse a única coisa a ser ouvida no carro.
Lys saltou do carro apertando o sobretudo em seu corpo, o vento gélido naquele momento lhe parecia tão inconveniente e incomodo quanto o barulho de seus passos pelo chão de pedras do cemitério. Procurou pela mão livre de Harry que em segundos se juntou à sua com os dedos entrelaçados, estava sem a menor vontade de ter que ficar com elas dentro do bolso para esquentá-las.
De longe avistaram algumas pessoas em silêncio enquanto um padre dizia algumas palavras que por causa da distância eles não conseguiam ouvir. Harry fez menção de se aproximar, mas sentiu a garota rígida ao seu lado, o olhar perdido em algum lugar à sua frente e a respiração que por vezes parecia falhar. A observou em silêncio e percebeu que ela não sairia dali, ela não conseguiria se aproximar mais. Alinhou-se ao lado dela e apertou carinhosamente sua mão sentindo-a corresponder da mesma forma.
Uma mulher os observou de longe e fez um breve aceno para Harry, ele acenou uma vez com a cabeça reconhecendo a senhora Wayne. A mulher olhou Lys que continuava com o olhar perdido e voltou sua atenção para o padre.
Os minutos já pareciam horas e Lys achava que a qualquer momento suas pernas poderiam ceder. Sentia seu nariz doer por causa do frio, mas ela não conseguia se mexer, não queria se aproximar mais e não queria ter a confirmação de que, se não fosse por Harry, nesse momento ela estaria sozinha no mundo.
- Vem comigo. – Os lábios de Harry em seu ouvido a acordaram e foi como se milagrosamente suas pernas tivessem ganhado vida novamente. Ele a puxou pela mão fazendo-os contornar o amontoado de pessoas que se encontravam por ali e subiu uma rampa e alguns degraus desgastados.
Lys observou de cima de um pequeno morro que dali podia ver perfeitamente o caixão de seu pai apesar da distância. Observou o rosto calmo de Harry se perdendo por alguns segundos nos olhos dele que pareciam mais claros e transparentes que o normal. Ele beijou sua testa e a colocou na frente dele a abraçando pela cintura sem deixar qualquer mínima distância entre eles.
O caixão começou a descer e os dois observaram em silêncio algumas pessoas se aproximarem e jogarem flores no grande buraco que havia ali. Por alguns segundos a menina desejou que alguém também jogasse flores no espaço vazio que ficara em seu coração, talvez não doesse tanto.

All She Dreams| H.SWhere stories live. Discover now