BÔNUS: FELIPE ALVES

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─ Tão idiota, tão falso, tão ridículo, tão patético.

E mais um monte de outras palavras que não deveriam ser pronunciadas em voz alta, mas que eu as teria pronunciado naquele momento, caso a mão de alguém não tivesse sido colocada no meu ombro.

Era uma surpresa ver Thomas ali, parado atrás de mim, nos fundos da minha casa e sozinho.

Tão humano. ele completou e sem esperar, sentou-se ao meu lado e imitou meu gesto, colocando seus pés dentro da piscina. Aquele era um dos poucos lugares que eu conseguia ficar em silêncio quando estava em casa. Oi.

Procurei por Malu e esperei que Rafael ou Augusto aparecesse por ali. Thomas não viria até mim sozinho. Ele falava comigo, estava me dando apoio e sempre estava presente nesses momentos difíceis que estamos passando, mas eu sempre soube que tudo isso era por causa de Maria Luísa. Não era por mim. Eu só... Estava recebendo todo esse apoio por causa dela.

Caso Malu não estivesse incluída nesse pacote, Thomas continuaria a me tratar da mesma maneira que ele vinha me tratando desde que descobriu tudo: com extrema indiferença.

A minha presença não acrescentava absolutamente nada na sua vida de uns tempos para cá.

E ser indiferente na vida de uma pessoa que você conhece a vida toda dói mais do que ser odiado por essa pessoa.

Tem uma frase de um autor gaúcho que define muito bem a atual situação: o oposto do amor não é o ódio, mas sim a indiferença. E eu nunca havia visto sentido nessa frase até o momento em que passei a ser indiferente na vida de Thomas. Eu sabia, no fundo, que quem havia estragado tudo havia sido eu, mas é muito mais fácil culpar outra pessoa por meu erro e simplesmente ignorar meus erros do que tentar... Tentar fazer alguma coisa.

E essa coisa vai desde de tentar pedir desculpas e sentar com a pessoa para conversar até assumir que a culpa é realmente minha.

Vendo naquela oportunidade em que estávamos sozinhos a chance de tentar fazer alguma coisa, eu tentei falar algo. Tentei colocar todos os meus pensamentos para fora e contar tudo o que passava dentro de mim para Thomas, talvez para que ele também me entendesse. Ele não precisava aceitar meus motivos, mas entender tudo que eu sentia por dentro... Talvez se ele compreendesse, fosse um pouco mais fácil para ele não me odiar. Talvez se...

Vim até aqui porque precisamos conversar. Uma conversa séria onde quero falar para você algumas coisas e ver se conseguimos chegar a algum lugar porque, cara, do jeito que não dá pra continuar. Então, vou começar, beleza? Não confio mais em você e acho que quando se perde a confiança... Acho que não tem como recuperar, entende? Ou talvez até tenha, mas tudo aconteceu tão recentemente e a minha cabeça uma bagunça... O ponto em questão nessa conversa toda é que... não tive a chance de iniciar a conversa porque Thomas parecia mais do que disposto em conversar comigo. Uma conversa sincera sobre tudo que aconteceu e estava acontecendo entre a gente. Uma conversa que iria definir a nossa amizade. Você estragou tudo, cara.

Em outra situação, eu teria dito a ele que eu sempre estragava tudo e teríamos começado a rir de tudo. Mas agora... Escutar de Thomas que eu havia estragado absolutamente tudo e mesmo que eu já soubesse me fez ter vontade de chorar. E não é vergonha admitir isso e até mesmo chorar na frente de outra pessoa. Vergonha é fazer algo como eu fiz para o seu melhor amigo e achar que tudo vai ficar maravilhoso no final. Só que... Nunca fica, cara.

Mas eu estraguei também. ele disse, depois de algum tempo. Eu estraguei também. Não deveria ter batido em você e nem ter falado todas aquelas coisas... Tudo bem, talvez você merecesse, mas mesmo assim...

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