38: Adeus para a foto

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"Queria ser capaz de fazer alguma piada para quebrar a tensão desse momento ou até mesmo falar algo profundo, mas a única coisa que consigo pensar agora é que acabou. E não acabou para recomeçar no ano seguinte: acabou de verdade. A partir de agora seremos adultos ou metade disso... O que meios-adultos fazem quando o colégio acaba e a única coisa que eles querem é mais um ano tendo um ponto de reencontro com todos os seus amigos? ── Bruna. "

Era sufocante ter que usar uma beca e um capelo em pleno verão no Rio de Janeiro.

Sufocante não, na verdade, é uma tortura.

Eu achei que nós iríamos usar essa roupa só quando nos formássemos na faculdade. Felipe resmungou, puxando um pouco da gola e soprando uma quantidade de ar para dentro da roupa. Ou melhor: forno. Isso é tortura.

Não me deixa esquecer de agradecer a Júlia por ter tido essa ideia maravilhosa.

Vocês podem, por favor, pararem de reclamar e sorrirem para a câmera, sim? parei de puxar a minha gola também e me posicionei ao lado de Felipe, sorrindo para a câmera de Marco que estava tão animado pelo dia de hoje. Foto de formatura, uhul! Formatura, uhul! Qual é, crianças? Ânimo! Meus dois filhos mais velhos vão se formar e estão aí com essas caras de quem comeram e não gostaram.

Estamos com cara de quem está sendo torturado, Marco. falei. Está muito quente aqui dentro.

Ele riu do meu drama e continuou tirando fotos enquanto esperávamos Kia e Lia terminarem de se arrumar e minha mãe finalizar uma ligação na cozinha. Mais um dia comum na nossa casa.

Tirando o fato de que hoje era a nossa formatura.

Acho que hoje não é um dia tão comum na nossa casa assim, afinal de contas.

O momento mais aguardado daquele ano finalmente havia chegado e eu simplesmente não sabia como agir. Eu estava feliz e animada, é claro que eu estava, mas tinha aquela coisa no meu peito... Aquela coisa pinicando e pesando e que não me deixava ficar pulando de um lado para o outro. Ou sorrindo para as fotos que Marco tirava ou respondendo as mensagens animadas de Bruna.

Talvez fosse eu sabia no fundo que era a consciência de que, depois de hoje, esse ciclo estaria finalizado oficialmente.

E me assustava demais pensar nisso.

Depois de hoje, eu não seria mais Maria Luísa Espíndola Alves, aluna do colégio Basso de Souza e uma das integrantes da equipe de natação do projeto. Eu seria apenas... Maria Luísa Espíndola Alves... A garota que tinha uma tartaruga de estimação e que passava mal no looping.

Depois de hoje, tudo mudaria.

E eu ainda não sabia se gostava tanto assim dessa mudança.

Minhas irmãs desceram dez minutos depois e minha mãe ainda continuava no telefone. Não seria a nossa família se nós já não estivéssemos quase atrasados para eventos importantes. E isso incluía até mesmo a nossa formatura hoje.

Marco disse alguma coisa parecida com "vão entrando no carro enquanto chamo a mãe de vocês" e, assim que abrimos a porta, nos deparamos com a figura alegre e saltitante de Augusto Marques atravessando o nosso jardim. Por que Augusto estava usando um capelo diferente dos nossos não era a pergunta certa naquele momento, mas o motivo de Augusto estar no nosso jardim quando ele já deveria estar a horas no Basso ele é o orador!─, essa sim era a grande pergunta em questão.

Augusto... Você não deveria, sabe, já estar no colégio?

Meus pais me largaram aqui porque achei mais divertido chegar no carro lotado de vocês. ele apontou para o carro que estava parado na frente da nossa casa e eu logo reconheci seus pais lá dentro. Acenei para tia Magnólia e tio Hugo e eles acenaram de volta. Tchau, mãe! Tchau, pai! A gente se vê daqui a pouco! Vou ser o cara mais lindo de toga no meio daquela gente toda.

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