─ Mozart, pelo amor de Deus, se controla! ─ a voz da minha mãe subiu algumas oitavas enquanto ela auxiliava Felipe a secar o líquido da mesa. ─ Sinceramente, cão, não sei mais o que fazer com você.

Bem-vinda ao clube, dona Jane.

Cenas como essa durante o jantar são mais corriqueiras do que deveriam ser.

Mozart não sabe se controlar quando ele coloca seus olhos naquela bola vermelha que mais parece uma maçã do que uma bola. Não importa em qual situação ou hora do dia estejamos: caso ele veja aquela bola, podemos nos preparar para os surtos dele. Ele realmente ama aquele negócio.

O problema é que ele fica sem controle!

Sai derrubando à tudo ─ e a todos também ─, acaba se machucando e quase estraga as refeições alheias. Alguém vai ter que mandar esse cachorro para uma terapia ou um centro de recuperação para vício em bolas vermelhas.

Caso contrário, um belo dia vamos chegar em casa e não vamos mais encontrar nada em seu devido lugar de origem.

─ Mozart?

Fui puxada dos meus devaneios pela voz curiosa de Felipe.

Foi inevitável sorrir por conta da curiosidade na voz do meu irmão mais velho. Na verdade, era sempre inevitável sorrir quando as pessoas escutavam o nome de Mozart pela primeira vez; Elas ficavam tão surpresas que não conseguiam conter a sua curiosidade e a deixavam estampada em seus rostos. Ou vozes, no caso de Felipe.

─ Wolfang Amadeus Mozart, na verdade. ─ Lia explicou. ─ Beethoven é um nome muito batido e usado.

─ Então uma de vocês resolveu tocar Mozart no piano, o cachorro latiu e decidiram o nome?

─ Levando em conta que a única música que sabíamos tocar na época era "brilha, brilha estrelinha"... Não. ─ ela sorriu em direção ao nosso irmão e logo em seguida apontou para a nossa irmã mais nova. ─ Kia que teve a ideia.

Talvez Felipe fosse elogiar Kia pela escolha do nome ─ fala sério, Mozart é o nome de cachorro mais legal que existe ─, mas deve ter mudado de ideia logo de início já que Kia com certeza não iria aceitar um elogio da parte dele. Pelo menos não iria receber de graça e não devolver em forma de coice.

─ É um nome muito bacana. ─ ele limitou-se em dizer. ─ Rafael com certeza vai achar um nome sensacional. Vocês sabem como ele é com nomes de cachorro: quanto mais original...

─ Mais sensacional. ─ me peguei completando a frase dele.

Meu irmão me lançou um sorriso acompanhado de um gesto positivo com a sua cabeça.

Enquanto ele parecia genuinamente feliz por eu ter completado a sua frase e lembrado de algo que Rafael dizia, eu me punia por ter completado aquela frase e por me lembrar de algo que Rafael costumava a falar. Essas coisas aconteciam sem o meu consentimento, quando eu me dava conta já tinha aberto a boca e não tinha mais nada para falar, fora aceitar o fato de que eu realmente ainda lembrava de muitas coisas sobre os meus antigos amigos. Isso incluía até mesmo Thomas. Mas o único que fazia questão de me atormentar diariamente desde que voltou era Rafael.

Em qualquer momento do dia eu iria ser tomada por alguma lembrança dele.

Era um fato.

Podia estar me preparando para ir para o colégio ou me preparando para dormir, em algum momento Rafael iria tomar conta dos meus pensamentos e aquilo me deixava frustrada demais. Parecia que eu não possuía controle nenhum dos meus pensamentos. Pelo menos quando o assunto era ele. E quando eu não estava sendo tomada por lembranças de acontecimentos passados, eu me pegava observando Rafael no colégio.

5inco | ✓Where stories live. Discover now