Efemeridade do tempo

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A novidade na L. M. Alcott High que todos estavam comentando naquela manhã, era a respeito de uma cápsula do tempo que o diretor da escola, com a benção da prefeita da cidade, estava planejando fazer.

Trancafiar nossas memórias de agora para as futuras gerações que lecionarão na L. M. Alcott High School possam descobri-las e admirá-las. 

— Daqui a trinta anos, essa cápsula será aberta, e podemos rever sonhos antigos que concretamos — o diretor anunciou em um megafone, para todos nós, quando nos reuniu no ginásio. — E para isso, preciso que vocês coloquem seus melhores pensamentos aqui. Temos até junho para enchermos a cápsula.

Permito que um sorriso amargo apareça em meu rosto... Trinta anos... Daqui a trinta anos será 2015, certo? Talvez eu não tenha tempo para desfrutar tudo isso.

Recentemente, descobri a história de um físico teórico britânico³¹ que foi diagnosticado com ELA... bom, ele ainda é vivo, e está convivendo com ELA faz vinte e dois anos. Não quero ter falsas esperanças, mas quem sabe, eu consiga chegar aos quarenta anos, mesmo aos trancos e barrancos?

E, também, eu prometi para a Lara que eu viveria cem anos.

 Contudo a ideia de uma cápsula do tempo é boa, muito boa, e eu adoraria repassar meus pensamentos adiante, imortalizados eternamente. Ser a fonte de inspiração para alguém, qualquer um que seja. Eu poderia documentar tudo o que eu fiz, com o pouco tempo que me resta, e encapsular na tal cápsula do tempo. 

Logo relembro-me da minha lista de desejos e do insistente garoto que quer atender os meus pedidos. 

Meus desejos fugazes eram simplórios para mim, com toques alados de poesia, e, obviamente, muita imaginação minha. Ninguém deveria atendê-los ao pé da letra. Exceto um garoto chamado John A. Walker.

Eu sei os itens de cor, e como não saberia, já que os escrevi em uma noite longa quando pensei que perderia de vez as esperanças. 

1. Viajar no tempo.
2. Ter superpoderes.
3. Comemorar uma festa de aniversário incrível.
4. Um capacete de astronauta!
5. Ter um animal de estimação.
6. Fazer uma viagem inesquecível.
7. Compartilhar momentos com meus amigos.
8. Ver o espaço.
9. Contemplar um grande milagre. 

Eu nunca consegui escrever um décimo desejo. Nunquinha! Sempre senti que faltava completar a lista, mas nunca a terminei devidamente. 

O livro diante de mim ainda permanece escancarado e intocável. Vim para a biblioteca da escola, sentar-me em uma das mesas vazias que aqui colocaram, buscar algum refúgio para afugentar meus pensamentos funestos e nada delicados a respeito da vida e da efemeridade do tempo, no entanto, quanto mais eu penso, mais mergulho em um aglomerado de possíveis conceitos e de prováveis "e se?".

E se eu fosse mais forte?

E se eu fosse outra pessoa?

E se eu morasse em outro lugar?

E se eu nunca conhecesse John Walker?

Uma mão toca em meu ombro, despertando-me de meu purgatório mental. John arqueia uma sobrancelha para mim. Além disso, há outros alunos na biblioteca, alguns lendo e outros fazendo nada, então, ainda temos tempo até o próximo horário de aula.

— O que está lendo? — ele indaga, enquanto senta-se à minha frente.

Rapidamente abaixo minha cabeça, analisando o livro que está diante de mim, com as páginas abertas. Pisco os olhos frenética, não fazendo ideia do livro aleatório que peguei na estante. 

— A Fantástica Fábrica de Chocolate, eu acho — respondo, não muito convincente. 

— Eu só assisti o filme. Está lendo-o por que será para o diorama da aula de L. Inglesa?

Nós, em uma casca de noz!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora