❝Como lágrimas na chuva❞

3K 722 391
                                    

🚨UMA NOTA IMPORTANTE: Se você, meu caro leitor, estiver passando por situações difíceis e/ou sendo vítima de bullying, peço encarecidamente que busque por ajuda. Fale com alguém, desabafe com seus pais, responsáveis, amigos, professores e jamais sofra calado. Juntos, podemos acabar com esse mal tão terrível que assola a vida de muitos. Você não está sozinho. 🚨

🌟

Encontro o professor Irwin no corredor assim que a aula de Álgebra termina. Penso em falar com ele, após lembrar-me da palestra sobre bullying que assisti assim que comecei a estudar na L. M. Alcott High.

— Professor Irwin, posso falar um instante com o senhor?

Ele olha-me sobressaltado, enquanto enxuga a cabeça calva e suada com uma toalhinha de flanela, assim como esfrega a toalhinha no rosto robusto e vermelho. Veste-se atipicamente com uma camisa social de listras e suspensórios nas calças.

— O que queria falar comigo, John? — ele pergunta e logo fico feliz por ele lembrar do meu nome.

— Na palestra sobre o bullying, você disse que deveríamos procurá-lo, caso estivéssemos passando uma situação difícil — coço a parte de trás da minha cabeça, desconcertado em como continuarei a falar. — Bem, eu estou sofrendo bullying e preciso de ajuda.

— E quem está fazendo bullying contra a sua pessoa, Sr. John?

Não o respondo. O medo de denunciar Billy faz a minha pele formigar.

— Eu sei sobre o seu caso, John.

— Sabe? Então, vai me ajudar, professor?

 Não costumo dizer isso, mas você merece o que está passando. Agora, você sabe como sua vítima se sentia.

Que porcaria de papo é esse?

— Vítima? Eu nunca fiz bullying contra ninguém da escola!

— E Mary Marshall? Billy Carson contou-me que você forjou cartas de amor para ela, constrangendo-a em uma brincadeira completamente maldosa, e Karen Watterson confirmou a história. Aquela pobre mocinha nunca fez mal para ninguém. Sempre gostou de ler seus livros em quietude na Sala dos Professores.

Minha respiração fica acelerada. Billy sabia que eu buscaria por ajuda, e tratou de distorcer os fatos antes mesmo que eu pudesse me defender. De todas as formas, tento negar aquela informação nefasta ao professor Irwin, de que nunca escrevi as tais cartas para Mary, mas o professor faz pouco caso de mim.

— Mas, professor, você disse na palestra que...

— Estou aqui para ajudar alunos que realmente precisam de ajuda — Irwin me interrompe bruscamente — e não aqueles que sofrem as consequências de seus próprios atos. Você tem muita sorte de não ter sido suspenso da escola. Agradeça a psicóloga Susan que apelou por você, e dado o sobrenome que ela carrega, acredito que vocês possuam um parentesco. 

— Eu preciso de ajuda!

— Não parecia precisar de ajuda quando faltou as aulas de Estudos Sociais, para fumar cigarros na sala que guardamos os livros da biblioteca. Se não tiver mais nada a dizer a mim, desejo que tenha uma boa tarde, Sr. John.

Irwin dá as costas para mim, deixando-me com um gosto amargo na boca. Baixinho arrogante! Todo aquele monólogo sobre ajudar pessoas que sofriam bullying era pura balela. Por outro lado, através dele descobri que Susan foi o bastião que impediu-me de ser suspenso, ou pior, expulso da escola.

Vou para o prédio A, assistir a próxima aula. Caminho cercado pelo silêncio e pela escuridão dos corredores. Mas sei que não estou sozinho. Billy está a espreitar-me pelas sombras, e tanto estou certo disto, que ele se coloca em minha frente, impedindo-me de passar adiante. Está acompanhado por mais dois capangas, reconheço dois deles como os mesmos que me espancaram à beira da estrada, quando Billy apostou corrida comigo.

Nós, em uma casca de noz!Where stories live. Discover now