O Universo em uma caixa de papelão

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Afasto uma mecha do meu cabelo que atrapalha-me em minha tarefa escolar, que não deveria parecer tão árdua, mas que tornou-se difícil de ser finalizada, devido ao simples fato de que minha mão esquerda não para de tremer. 

Tenho tudo o que preciso para fazer o meu diorama sobre o Pequeno Príncipe. Canetinhas, cartolina, feltro, uma tesoura afiada, cola, massinha de modelar, papel cartão de muitas cores e tinta guache. Minha cama está uma verdadeira bagunça com papéis repicados por cima da colcha cor-de-rosa com estampa de pequenos morangos. 

Paro um pouco e olho como ficou a minha singela arte feita na caixa de papelão. Tio Carl comprou várias latas de ervilha que vieram dentro de uma caixa retangular, que serviu perfeitamente para ser o meu diorama.

Fiz o fundo com papel cartão preto, e salpiquei-o com bastante glitter, para parecer que era um céu estrelado. Modelei o asteroide B-612 com massinha de modelar e um pedaço de papel alumínio que a tia Ellie usa para enrolar perus e colocar no forno. Depois, enrolei-o outra vez em cartolina e pintei-o. Para não deixar o cenário tão vazio, tomei a liberdade para recortar várias miniaturas de planetas e colei-as aqui e ali. Júpiter, Saturno e Marte foram uma adição interessante ao diorama. Não esqueci de fazer a Rosa, uma personagem emblemática do livro, e, claro, o personagem principal que motivou-me a criar tudo isto, o Pequeno Príncipe. 

Criei a pequena figura de cabelos dourados e vestes verdes com massinha de modelar, papel e tinta guache. Pensei várias vezes em descartar o modelo do Pequeno Príncipe, mas acabei ficando satisfeita como conduzi tudo.

Com muito cuidado, colo o Pequeno Príncipe em cima do asteroide B-612. No fim da tarefa, suspiro e relaxo os ombros, profundamente admirada com a minha criação. Estou tão orgulhosa com o diorama em minha frente que até mesmo estou pensando em não entregá-lo para a professora Donna. 

Ah, e obviamente, não esqueci-me dos fiapos de algodão.

— Está uma lindeza o seu trabalho de Artes, Mary — tia Ellie fala, enquanto limpa as mãos no avental floral.

— Não é para a professora de Artes, tia Ellie. É uma tarefa que a professora de L. Inglesa passou para nós, e admito que foi o melhor dever de casa que já fiz. Esse é o Pequeno Príncipe — aponto para a figura do menininho loiro no diorama. — Ele está decido a deixar seu asteroide para começar a aventura, mas a sua Rosa — aponto para a outra figura do diorama — é orgulhosa demais para fazê-lo ficar, e, ele é jovem demais para saber amá-la. Só nos damos conta de que perdemos alguém que amamos, quando elas já estão longe de nós.

Tia Ellie sorri para mim. Não sei se ela entendeu uma só palavra do que disse, mas estou feliz por expressar meus pensamentos.

Um barulho alto vindo do lado de fora de casa faz com que tanto eu quanto ela, viremos nossa cabeça em direção ao som de martelar.

— É o seu tio ajudando aquele rapaz a consertar o cercado. Carl não tinha nenhuma obrigação em ajudá-lo, mas quis mesmo assim. Eu desaprovo totalmente isso.

Debruço-me na janela do meu quarto observando que ao lado de fora John e tio Carl conversam frente ao jardim, alegres a despejarem sorrisos. John segura uma tábua pintada de branco enquanto meu tio martela. Seu trabalho, o acordo judicial que o obrigava a restaurar a minha casa, já findara por completo e estou amargamente entristecida. John está livre. Enxergo-o ao longe, enquanto está a conversar com o meu tio. John tem uma bagagem muito grande para carregar. Um fardo que esconde de todos por trás de seus olhos azulados.

— Graças a Deus o trabalho dele está findado. Espere que ele tome juízo e não deprede mais nenhuma casa — tia Ellie junta-se a mim, afastando um pouco da cortina de renda a mirar a cena do lado de fora da casa.

Nós, em uma casca de noz!Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum