Quem avisa, amigo é.

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— Voltaremos em breve, espero que tudo esteja bem com vocês dois. A mãe da Susan melhorou um pouco, a situação já não é mais preocupante. Estão se comportando? Estão comendo direitinho? Espero que não tenham brigado nesse meio tempo — foi a ligação de Robert que recebi. Ele tem ligado religiosamente, e sempre questionado as mesmas coisas. Só falta-me perguntar se tenho escovado os dentes também. 

Contudo, ele nunca diz que está com saudades.

Novembro finalmente nos dá o ar de sua graça, e os céus em Paradise continuam cinzentos, ameaçando derramar sobre nós toda a sua ira. Para piorar o clima de hoje, tudo foi engolido pela névoa, que fez-me recordar de um filme de terror que assisti há algum tempo, sobre uma cidadezinha que é encoberta por um estranho nevoeiro... A Bruma Assassina... era esse o nome do filme.

Deixo Lucy na escola, mesmo que não fosse meu dever. É que senti pena em vê-la caminhar sozinha enquanto adentra este sinistro nevoeiro. Como o aquecedor do carro ainda está quebrado — em parte, por culpa minha por ter acelerado o processo —, Lucy acabou por fazer como eu, e usar um cachecol e luvas de lã. Um observador de fora poderá pensar que estamos exagerando, mas só quem está dentro do meu Lada sabe como o carro está frio pra caramba. Estreito os meus olhos, não conseguindo enxergar nada nesta neblina tão espessa, e dirijo o mais devagar possível. Paradise sempre me surpreendendo de formas inesperadamente ruins.

Assim que chegamos na entrada do colégio dela, Lucy de imediato salta do carro, e coloca sua mochila cor-de-rosa com estampas de gatinhos no banco do passageiro, abrindo-a, e com todo o tempo do mundo, tira o caderno e um lápis cor-de-rosa com borracha em forma de coelhinho na ponta, escreve algo na última folha do caderno, rasgando metade e passando-a para mim. Segura o pedaço de papel, balançando-o para mim, incitando-me para que o pegue de sua mão. Assim que o pego, ela bate a porta do carro e corre para a escola. 

No pedaço misterioso de papel estava escrito. 

"Não há necessidade em me buscar. Vou pegar carona com a mãe da Hannah. Obrigada."

Ah, ótimo. Agora estamos nos comunicando... por meio de bilhetes. Uma preocupação a menos, eu diria. 

• • •

Tenho de recuperar o conteúdo perdido das aulas. Mesmo com os livros didáticos do terceiro ano em mãos, estou completamente perdido nas aulas, principalmente em Álgebra, L. Inglesa, e também sou péssimo nas aulas de Datilografia, pois sempre tenho a proeza de fazer a fita ficar presa na máquina, ou gastar muito papel pois sempre erro. Ainda estou meio deslocado com tudo isso. Penso em ir até a biblioteca, para apanhar alguns livros para complementar os estudos. Logo, lembro-me que a biblioteca ainda está em reforma, e eu não sei para qual lugar moveram os livros. Pode não parecer, mas eu gosto de estudar. Sinto-me em paz comigo mesmo por não ter de acumular o dever de casa.

— Está perdido, Jaw?

Reconheço a voz de Billy. Abre para mim um sorriso faceiro, preso acima de sua orelha esquerda está um cigarro. Não sei como os professores não dão bronca nele por causa disto. Veste sua inseparável jaqueta esportiva vermelha com mangas brancas, e descobri recentemente que Billy é o capitão do time de basquete. É muito difícil acreditar que ele leve o time a sério, pois nunca o vi treinar uma vez sequer. O que eu estou falando? Eu também não levo nada a sério!

— Estou precisando de uns livros, mas esqueci que a biblioteca está em reforma.

— Jaw é um nerd? Não sabia que você era desse tipo. Por isso se recusou a entrar no time de basquete?

Nós, em uma casca de noz!Where stories live. Discover now