*Carpem Diem* 🌞

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Acordo mais cedo do que deveria, pronto para cumprir o suplício de frequentar L.M. Alcott⁵ High School, a escola que Robert me matriculou. Pela manhã, fiz questão de amassar minha caixa de cigarros e jogá-la fora. Ele olhou-me com um olhar muito esperançoso.

— Então, você vai parar de fumar? — ele perguntou, de uma forma um tanto distante, como quem nada quer. Não havia uma só gota de raiva ou prepotência em sua voz.

— Não. Meus cigarros apenas acabaram. Vou comprar outro maço quando voltar da escola.

Ele não disse mais nada. Acho que ele tem medo de bancar o "pai mandão", ou talvez, ele não tenha jeito com a coisa toda. Sei que ele odeia me ver fumando, mas nunca ordena para que eu pare. Regina gostava de fumar cigarros. Estava sempre na cozinha a fumá-los perto da janela, enquanto bebia uma xícara bem quente de café preto. Por um tempo eu evitei os cigarros, mas quando Bonnie Tyler me ofereceu um, foi como se abrisse uma porta para um mundo desconhecido para mim. 

Quem é Bonnie? Prefiro evitar de mencioná-la outra vez, e, espero não ter de falar esse nome novamente.

Robert fez questão em comprar oito cadernos novos para mim, uma mochila azul-marinho com estampa de camuflagem, e dez canetas; cinco canetas azuis, três canetas pretas, e duas vermelhas. Aceitei o presente pois eu mesmo não estava interessado em comprar nenhum material escolar.

Em verdade, estou muito empolgado para dirigir a minha lata velha. Como Regina ficaria se soubesse que eu ganhei um carro? Certeza que ela faria um escândalo! Meu pensamento banal se dissolve quando Robert fala para mim, enquanto eu mordisco uma torrada com as bordas recém queimadas.

— Comporte-se, John, e não arrume encrenca.

— Tá parecendo a mamãe agora. — bufo, passando a alça da mochila pelo meu braço. — Quer me dá um beijinho de boa sorte também?

— E pelo amor de Deus... — Robert lambe a palma da mão, passando-a contra a minha vontade a baba sobre meu cabelo. — Arrume essa juba, John! Anda todo desleixado.

Sentada à mesa, diante de uma tigela de leite com cereais coloridos que se afogaram, Lucy deixa escapar uma risada abafada, enquanto direciona a colher a boca. Está uniformizada para a escola, que obviamente não é a mesma que irei estudar. Usa uma saia xadrez vermelha, um laço-gravata também vermelho, um blazer em azul cobalto e amarrou o cabelo em dois ponytails, prendendo-os em duas fitas de seda cor-de-rosa — certamente, ideia de Susan, que aliás, não vi esta manhã —, e meias marrons e sapatos bem lustrados. Descobri mais tarde que Lucy estuda em um colégio só para meninas.

— CREDO, ROBERT! — afasto sua mão, mais indignado do que eu deveria. — NÃO SOU CRIANÇA!

— Pai. — ele ralha comigo. — Me chame de pai, John. Quer dá mau exemplo para sua irmã?

Gostaria que ele não fizesse isso. Não forçasse que somos uma família, porque não somos. Lucy não é a minha irmã, e não a considero assim, e nunca irei considerar. E por mais que eu queira dizer isso em voz alta, me controlo e não permito que a frase escape pelos meus lábios.

— E mais uma coisa — Robert diz, enquanto já estou com o pé na soleira da porta. — Você meio que tem que conversar com a psicóloga da escola.

— Pra quê? — exalto-me. Por que tenho que fazer parte dessas baboseiras de psicologia barata? Não sou nenhuma bomba-relógio!

— E o que conversamos ontem?

— Pensei que acreditasse em mim.

— Não foi isso que eu quis dizer. Acontece, meu filho, que seu histórico não é nada bom. Além disso, você é novato por aqui.

Nós, em uma casca de noz!Where stories live. Discover now